Os franceses castigaram Emmanuel Macron neste domingo com a primeira derrota eleitoral de sua carreira, e concederam a Marine Le Pen uma vitória que a reafirma como uma força central na França, de acordo com as primeiras projeções. O Agrupamento Nacional (RN, na sigla em francês) – a nova marca do antigo partido de extrema direita Frente Nacional – venceu as eleições europeiascom um resultado entre 23 e 24% dos votos. A lista de candidatos macronistas ficou em segundo, com 22 a 22,5%. O sucesso da lista dos ecologistas, na terceira posição, e o desastre da direita tradicional de Os Republicanos são as surpresas da eleição.
O voto de punição ao governante é habitual nas eleições europeias, e a Frente Nacional já havia sido a vencedora em 2014. Mas o resultado, se as pesquisas acertam, seria um golpe para um líder como Macron, que em 2017 chegou ao poder com a promessa de transformar a Europa e que, dois anos depois, vê seus compatriotas o rejeitarem na primeira ocasião em que vão às urnas desde sua posse. Na terceira posição estaria a Europa Ecologia-Os Verdes com um porcentual em torno de 12%. O partido Os Republicanos (LR), da direita tradicional francesa, ficou com 8,5%. A esquerda populista do A França Insubmissa teria em torno de 6 e 7% e a candidatura do Partido Socialista (PS), também entre 6 e 7%.
A primeira notícia durante o dia da eleição foi a da participação, muito alta por se tratar de uma eleição europeia, que geralmente desperta pouco interesse. Várias estimativas sugeriram que a participação subiria para 54% no fechamento das seções eleitorais, às 20 horas, o maior nível desde 1984. Em 2014, foi de 44,2%. Na França, havia 34 listas de candidatos que disputavam 79 assentos.
A vitória do RN é um êxito de Le Pen, que se recuperou da derrota contra Macron nas eleições presidenciais de 2017 e deixou de lado a promessa do Frexit, a saída da França da UE. E também para seu candidato, Jordan Bardella, que expôs uma imagem de juventude e normalidade para um partido há muito tempo estigmatizado. Isso significará que o RN, que irrompeu no âmbito parlamentar nos anos 80, se consolidou como a grande força nacionalista e populista da França, e talvez o principal partido do país.
A campanha se desenvolveu como um referendo sobre a gestão de Macron nos dois primeiros anos do seu mandato de cinco. Foi também uma revanche do segundo turno das eleições presidenciais, em que Macron derrotou Le Pen. O resultado dará o tom da política francesa nos próximos meses. O RN poderia precipitar uma remodelação do Governo e até mesmo a substituição do primeiro-ministro, Édouard Philippe.
O resultado é outro passo na reconfiguração do sistema político francês. A vitória de Macron nas eleições presidenciais há dois anos foi o primeiro passo. O colapso dos partidos que dominaram o país nas últimas décadas –PS e LR, este, a última encarnação da direita de raiz gaullista– marcou aquelas eleições. As eleições europeias confirmam que a França está deixando para trás o esquema tradicional que contrapunha centro-esquerda e centro-direita. As forças dominantes, em 2017 e agora, são um amplo centro reformista e europeísta, e uma direita radical populista e nacionalista.
Estas são eleições especiais na França porque se realizam pelo sistema proporcional e em um único turno. Na presidencial, legislativa e local, o voto francês segue um sistema majoritário em dois turnos, o que infla a representação dos candidatos e partidos mais votados e reduz ou elimina a dos menos votados. Por isso, o RN, o partido que partia como favorito nas europeias –que já ganhou em 2014– tem apenas, por causa desse sistema, 14 prefeituras de um total de 36.000 e 6 deputados de 577. Isto porque, quando passa para o segundo turno, todos se unem contra ele.
O balanço não é bom para a esquerda, que se apresentou com uma multidão de candidatos: socialistas, ex-socialistas, ecologistas, comunistas e populistas. Entre Macron, que atrai a centro-direita, e Le Pen, que tenta seduzir os eleitores mais direitistas do LR, o espaço deste partido – que é o de Nicolas Sarkozy e o herdeiro da legenda de Jacques Chirac– ficou reduzido. Ainda que seja a primeira força da oposição na Assembleia Nacional e a maioria no Senado, nas europeias perde apoio em relação às presidenciais e legislativas de dois anos atrás.
As eleições europeias foram o primeiro teste de Macron nas urnas desde sua vitória nas presidenciais. Eram também a sua primeira avaliação desde o início da crise dos coletes amarelos, que por mais de seis meses vêm protestando nas ruas contra as políticas do presidente. Este movimento, já muito debilitado, nunca foi de massa, mas conseguiu grandes simpatias na sociedade e forçou o Governo a desembolsar mais de 15 bilhões de euros (68 bilhões de reais) em medidas sociais. Mas fracassou na hora de saltar para a política. Nenhuma lista vinculada aos coletes amarelos chegou perto de 5% dos votos, a barreira necessária para eleger deputados. No entanto, esse descontentamento ajuda a explicar o sucesso do partido de Le Pen.
News Paraiba com El País