A farmacêutica AstraZeneca afirmou nesta terça-feira (26) que não tem condições de vender doses de sua vacina contra a Covid-19 para empresas brasileiras. Em nota, a empresa informou que seu compromisso prioritário é com governos e com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Entenda o tema em 6 pontos:
Empresários brasileiros pediram autorização ao governo federal para comprar 33 milhões de doses; o grupo pretendia doar metade delas para o Sistema Único de Saúde (SUS);
O presidente Jair Bolsonaro disse que o governo é favorável à compra;
A posição de Bolsonaro gerou racha no governo, já que ministros da área política são contra a autorização, conforme relato das colunistas do G1 Julia Duailibi e Natuza Nery;
Após aval de Bolsonaro, AstraZeneca disse em nota (íntegra abaixo) que não tem vacinas disponíveis no momento para o setor privado;
Farmacêutica é alvo de críticas e duras cobranças pela União Europeia por admitir que vai atrasar entregas para o bloco por falta de vacinas disponíveis.
Além disso, a compra de doses pelo mercado privado é alvo de críticas de especialistas e de entidades.
No começo do mês, o Conselho Nacional de Saúde (CNS), órgão ligado ao ministério da Saúde, condenou outra proposta que envolvia o setor privado. Na ocasião, clínicas privadas buscavam negociar compra de vacina em desenvolvimento na Índia pelo laboratório Bharat Biotech.
Em carta divulgada no começo de janeiro, o CNS disse que “é inadmissível permitir que pessoas com dinheiro pulem a fila de vacinação”.
Acordos prioritários
No posicionamento divulgado nesta terça, a farmacêutica AstraZeneca detalhou que atualmente sua prioridade é cumprir acordos com governos e com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
“No momento, todas as doses da vacina estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais ao redor do mundo, incluindo da Covax Facility [consórcio coordenado pela OMS], não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado”, disse a farmacêutica.
A vacina desenvolvida pela AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, tem autorização para uso emergencial no Brasil. O governo federal fez um acordo para obter 100 milhões de doses desse imunizante. As doses pretendidas pelo setor privado não estão nesse acordo.
Governo favorável, mas rachado
Também nesta terça, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o governo federal assinou uma carta de intenções favorável à compra de 33 milhões de doses da vacina da AstraZeneca por empresas do Brasil.
Ainda de acordo com Bolsonaro, o governo defende que metade dessas doses sejam doadas para o SUS e, a outra metade, aplicada em funcionários dessas empresas, para garantir que a economia do país não pare.
De acordo com relato das colunistas do G1 Julia Duailibi e Natuza Nery, a posição de Bolsonaro gerou racha no Planalto, já que ministros da área política são contra a autorização. A ala política se contrapôs à ideia alegando que a autorização seria uma confissão por parte do governo da incapacidade de adquirir todas as doses necessárias pra imunizar a população.
Íntegra da nota da AstraZeneca
“Nos últimos 7 meses, trabalhamos incansavelmente para cumprir o nosso compromisso de acesso amplo e equitativo no fornecimento da vacina para o maior número possível de países ao redor do mundo.
No momento, todas as doses da vacina estão disponíveis por meio de acordos firmados com governos e organizações multilaterais ao redor do mundo, incluindo da Covax Facility, não sendo possível disponibilizar vacinas para o mercado privado.
Como parte do nosso acordo com a Fiocruz, mais de 100 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca (AZD1222) estarão disponíveis no Brasil, em parceria com o Governo Federal.”
Foto: Tomaz Silva.