O Palácio do Planalto tem duas versões distintas para o seu candidato à presidência da Câmara, o deputado Arthur Lira (PP-AL). A primeira e mais notória diz que o líder do Centrão é um fiel aliado e o melhor nome para suceder Rodrigo Maia (DEM-RJ) no cargo. A segunda, reservada, prega que o parlamentar, embora seja um parceiro, merece certa desconfiança, porque “está envolvido com diversos assuntos polêmicos como a Operação Lava-Jato” e decepcionou o governo em um tema sensível para Jair Bolsonaro no Congresso. Essas informações constam de registros de inteligência feitos por auxiliares do próprio presidente.
De acordo com a ficha de Arthur Lira, obtida por VEJA, o governo aponta dois “eventos importantes que influenciaram negativamente” na confiança que o Planalto depositou no líder do Centrão. Um deles seria o apoio do deputado à instalação da CPMI das Fake News em meados de 2019. O tema se tornou sensível ao presidente porque tanto seus filhos como seus aliados entraram na mira das investigações, que apuram uma rede de financiamento de notícias falsas e ataques a autoridades. O Planalto vem tentando, sem sucesso, enterrar essas apurações — que avançaram sobre disparos de mensagens de WhatsApp durante as eleições de 2018.
Outro evento que acendeu o sinal de alerta de assessores do presidente foi a investida de Lira contra a Lava-Jato. Ele foi um dos principais articuladores da criação de uma CPI para investigar a maior operação de combate à corrupção da história do país. Não por acaso. Entusiasta do discurso segundo o qual a Lava-Jato criminalizou a política, Lira responde a dois processos no Supremo Tribunal Federal (STF). Em um deles, é acusado de integrar uma organização criminosa formada por integrantes do seu partido que teria desviado recursos da Petrobras. Em outro, de ter recebido propina de um esquema na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Além disso, conforme revelou reportagem publicada por VEJA, Lira foi condenado em três instâncias por ter comprado um apartamento com um cheque sem fundo. O deputado nega ter praticado qualquer irregularidade.
Embora essas informações contrariem a cartilha de Bolsonaro para chegar ao poder, o presidente tem dado apoio irrestrito a Lira. Isso porque as desconfianças em relação ao parlamentar são inferiores aos resultados das votações entregues por ele e pelo senador Ciro Nogueira, presidente do PP, no Congresso. O líder do Centrão articulou a formação de uma base na Câmara para tentar esvaziar o poder de Rodrigo Maia e aprovar pautas de interesse do governo. Em troca dessa parceria, recebeu generosos dividendos em verbas públicas e cargos relevantes, como o comando do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCs), que foi compartilhado com outras duas legendas. Essa versão de Lira — a de articulador político, não a de acusado por corrupção — certamente é a que mais agrada a Bolsonaro.
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