Até o início desta semana, setores importantes do PT não aceitavam apoiar o deputado Baleia Rossi, presidente do MDB, para o comando da Câmara dos Deputados. Dilma Rousseff e o deputado Arlindo Chinaglia (SP), por exemplo, lembravam que o MDB comandou a ofensiva pelo impeachment da então presidente, a fim de substituí-la por Michel Temer. Os emedebistas seriam algozes, adversários, conspiradores e, como tal, deveriam ser tratados. Esse argumento, que tem os pés num passado recente, foi preterido por outro, que vislumbra no horizonte a sucessão presidencial de 2022.

Por ampla maioria, a bancada petista na Câmara decidiu se unir a Rossi com o objetivo de derrotar o candidato do presidente Jair Bolsonaro na disputa, o deputado Arthur Lira, líder do PP e do Centrão. Outro motivo da decisão, que também tem como pano de fundo a próxima sucessão presidencial, foi o fato de partidos de esquerda, como PDT e PSB, terem anunciado apoio ao emedebista. Depois de se afastar de parceiros históricos nas eleições municipais, os petistas tentam agora uma reaproximação.

Segundo a Veja, as legendas que apoiam Baleia Rossi tem 280 deputados, número suficiente para eleger o novo presidente da Câmara. O desafio do líder do MDB é evitar traições durante a votação, que é secreta e está marcada para fevereiro. Na própria bancada do PT, que tem 53 integrantes, a estimativa é que cinco deputados votem em Arthur Lira. No PSB, 15 dos 31 deputados também podem votar no candidato de Bolsonaro. Numa tentativa de evitar essas traições, Baleia Rossi se reunirá com representantes das siglas para ouvir demandas e assumir compromissos. No atacado, é certo que haverá compromisso em defesa da democracia e das instituições e contra o avanço de pautas caras à ala ideológica do bolsonarismo, como armamento e aborto. No varejo, será discutida uma forma de garantir protagonismo aos partidos que o apoiam. Maior bancada da Câmara, o PT quer comandar Primeira-Secretaria ou a Primeira Vice-Presidência da Casa.

Considerado por Bolsonaro o seu principal adversário no Congresso, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) foi o principal articulador da construção da candidatura de Baleia Rossi. Ele conseguiu reunir na aliança partidos de centro, como DEM, PSDB e MDB, e de centro-esquerda. Essa aliança certamente não se repetirá no primeiro turno das próximas eleições presidenciais, mas é um indicativo de que, num eventual segundo turno daqui a dois anos, Bolsonaro pode ter de enfrentar novamente o mesmo grupo. Em fevereiro de 2021, quando os congressistas escolherão seus novos comandantes, será jogada a preliminar da corrida ao Palácio do Planalto.

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