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Rosalía volta a SP para mostrar no Lolla força da turnê ‘Motomami’; relembre show e início da carreira

Para o podcast g1 ouviu, Rosalía foi a dona do melhor show internacional que passou pelo Brasil em 2022. A cantora catalã de 30 anos desbancou atrações de festivais como Rock in Rio, Primavera Sound e Lollapalooza, onde ela se apresenta no terceiro dia da edição deste ano.

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No domingo (26) de Lolla, ela vai mostrar por que hoje é uma das popstars mais inventivas e elogiadas. O g1 relembra dois momentos bem diferentes da carreira de Rosalía Vila Tobella:

-A primeira vinda ao Brasil com fã-clube mais encorpado e show que mostrava a força do álbum “Motomami”;
-O começo da carreira com os álbuns ‘Lós Ángeles’ (2017) e ‘El mal querer’ (2018), e a alcunha “Rihanna do Flamenco”.

A primeira vinda ao Brasil

Na estreia por aqui, em setembro de 2022, o barulho da plateia pareceu de um show de boy band. O coro foi tão alto que foi difícil ouvir a voz dela. O público berrava até as partes instrumentais e foi abaixo só de ver ela mascar chicletes ou botar óculos escuros. Ela levou 8 mil pessoas ao Espaço Unimed, em São Paulo.

O show é a cara das músicas dela: pop, vibrante e esquisito, fazendo certo por linhas tortas. O visual é impressionante, estiloso e simples.

Entre as menções ao Brasil, cantou Elis Regina e Tom Jobim, fez a dança do funk do quadradinho, sambou e fez juras de amor ao pão de queijo.
O show durou quase duas horas com poucas dos dois primeiros álbuns, “Los Ángeles” (2017) e “El mal querer” (2018), e todas as músicas do aclamado “Motomami” (2022).

Ela esteve acompanhada por oito ótimos dançarinos e só mais um músico no palco: um tecladista, que complementou as bases eletrônicas das músicas. Outra figura importante foi um cinegrafista que a seguiu fazendo imagens intimistas projetadas nos telões – e às vezes ficou na frente de todo mundo, mas pelo menos as cenas eram boas.

Até o meio do show foi difícil cravar que Rosalía canta bem, dado o volume dos fãs. Ela pareceu fazer uma melodia ainda mais bonita em “La Fama”, mas quase não dava para ouvir. Quando chegaram os momentos mais introspectivos de “Motomami”, como “G3 N15” e “Sakura”, a voz sobressaiu, com a mesma performance emocionante de estúdio.

Outro ponto alto foi “Hentai”, com Rosalía ao piano, em uma interpretação ao mesmo tempo emotiva, sexy e cômica, que superou a do álbum. No meio do show, ela soltou: “Amo Elis Regina, ela é uma inspiração para mim”. Rosalía cantou um trecho de “Águas de março”, música de Tom Jobim que também estava no repertório de Elis. Emendou com um trecho de outra menos óbvia de Tom Jobim, “Você vai ver”, mas não citou o nome dele.

A cantora tinha feito vídeos no Instagram mais cedo comendo pão de queijo, e mudou a letra da música “Abcdefg” para exaltar o quitute mineiro quando chegou na letra P.

Em “Yo x ti, tú x mí” ela fez o quadradinho do funk, emendou com um samba e deu a deixa para alguns fãs subirem no palco e pularem junto no hit “Despechá”.

O final teve o mesmo clima festivo do início, encerrado com o sample de bateria de samba em “CUUUUuuuuuute”. Não foi específico para o Brasil, já que ela costuma encerrar os shows da turnê assim. Mas fez os fãs daqui se esbaldarem ainda mais.

O começo da carreira

Rosalía começou a chamar mais atenção por volta de 2016 com uma releitura eletrônica do flamenco. Com o tempo, foi abrindo o leque para reggaeton, mambo, bolero, funk carioca e muito mais.

No início da carreira, lançou dois álbuns conceituais: “Los ángeles” (2017) e “El mal querer” (2018). Quando falou com o g1, em 2018, deu risada ao ser pergunta sobre alcunhas meio forçadas como “Rihanna do Flamenco”. “Sei que tem essa necessidade de relacionar um artista ao outro para tentar explicar. Mas nossa música é bem diferente”, resumiu, toda simpática.

Ela já falava sobre misturar sua paixão pelo flamenco (o estilo musical mais conhecido da Espanha com violão, castanhola, percussão e dança típica) com outros ritmos que vão da música africana à eletrônica.

Rosalía sempre quis que seus álbuns fossem “mais do que um monte de canções juntas”. “Com isso, acho que faço o disco ter um sabor”, explicou. “É bom que cada música seja como um capítulo de livro, que seja ouvido do começo ao fim. Como artista, preciso encontrar uma forma para que o disco comece e termine em si mesmo, com um tema principal.”

O flamenco está em sua vida desde que tinha 13 anos. “Fui descobrindo na rua, com meus amigos… As pessoas botavam o flamenco para tocar nos carros pela cidade. A partir daí comecei a pesquisar mais. Tive que me esforçar, estudar, perguntar aos outros… É meu estilo favorito. É minha base. Foi a partir do flamenco que construí minha identidade, minha música.”

Antes de cantar Elis e Tom, exaltou a MPB. “Sou apaixonada por Caetano Veloso. Ele sempre foi uma referência de carreira, do tipo de artista que quero ser. Gosto dos primeiros discos e dos últimos. Elis Regina, adoro. Nos estúdios em que gravo em Barcelona, a cultura musical brasileira nos inspira muito”.

A cultura pop espanhola ajudou a fazer a música de Rosalía ser mais conhecida por aqui. “Antes de morirme” e “Malamente” foram parar na trilha de “Elite”, série jovem espanhola da Netflix. “Sinto que meu país está em um momento de criatividade forte. É uma geração de músicos, de produtores, de pintores, de gente da moda… Que está em destaque, sendo muito vista. É um momento mágico para os espanhóis da cultura”.

O vídeo “Di mi hombre” antecipou a capacidade dela de juntar referências e fazer projetos ao mesmo tempo experimentais, artísticos e pop. O clipe trouxe referências ao pintor espanhol Francisco de Goya (1746-1828). “Eu fiz esse vídeo porque tenho admiração pelo trabalho de Goya, tenho conexão com esse quadro e faz parte do meu imaginário cultural”.

Mas as cores que mais encantaram Rosalía recentemente foram as de Pedro Almodóvar. Ela está no no filme “Dor e Glória”, que o cineasta espanhol lançou em 2019. Como foi trabalhar com ele?

“Foi uma coisa incrível, porque eu nunca havia atuado. Eu consegui aprender, me perder no processo e aproveitei bastante, em vez de ficar nervosa o tempo todo. Como compositora e cantora já sei melhor como funcionam as coisas, mas tive chance de ver como trabalha um dos meus artistas favoritos, que é o Almodóvar. Foi excelente estar tão perto, ser uma parte menor do trabalho dele foi inspirador”.

Foto: Reprodução Google.

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