A baixa adesão de médicos nos editais de contratação ofertados pelas Secretaria de Estado da Saúde (SES) e Secretaria Municipal de Saúde de João Pessoa (SMS) tem freado a expansão dos leitos para tratamento de pacientes de Covid-19. Somente nas seleções feitas pelo Governo da Paraíba para contratação de médicos, 17% do total de 294 vagas abertas foram realmente preenchidas por médicos para trabalhar no enfrentamento ao coronavírus.

Segundo dados repassados pela SES, foram inscritos 137 médicos, mas somente 52 deles assinaram contrato com o governo estadual para trabalhar nos hospitais de referência no tratamento à Covid-19. De acordo com a SES, há relatos inclusive de médicos entre os 52 contratados que desistiram do trabalho.

“Infelizmente a classe médica, principalmente na região da Grande João Pessoa, está sendo omissa em um momento como esse de emergência de saúde pública. Principalmente os médicos que não pertencem ao grupo de risco, abaixo de 60 anos, independente da especialidade estão sendo convocados a aderirem a esses editais”, reclamou o secretário de Saúde da Paraíba, Geraldo Medeiros.

Ele explicou que tem havido uma dificuldade muito grande em montar os plantões médicos, com alguns profissionais que pedem para colocar os nomes nas escalas e em dois dias, 24 horas antes, avisam que não querem mais. “Isso não pode ocorrer, porque o médico tem a obrigação de esperar por pelo menos 30 dias e dar um aviso, a partir do momento que está incorporado ao serviço”, relatou Geraldo Medeiros.

João Pessoa

A situação na SMS é semelhante, de acordo com o secretário de Saúde de João Pessoa, Adalberto Fulgêncio. Ele contou que em uma primeira seleção feita pela SMS, com 100 vagas ofertadas, apenas 21 médicos se inscreveram para participar do processo seletivo. A baixa adesão fez com que a Prefeitura de João Pessoa abrisse um novo edital, este com 89 vagas e um aumento no valor do plantão, que passou a ser de R$ 1,1 mil.

Segundo o Jornal da Paraíba, o segundo edital registrou mais de 100 inscritos, sendo 20 selecionados pela prefeitura. No entanto, dos 20 selecionados, apenas quatro compareceram ao serviço. Diante da situação, o secretário fez nova convocação, pedindo que 50 profissionais procurem a rede municipal de saúde. Ele aguarda que a procura seja maior desta vez. Fulgêncio demonstra preocupação com o quadro, que vem se agravando com o aumento no número dos casos do Covid-19.

“Se tivesse médico hoje, a prefeitura conseguiria abrir mais dez leitos e o governo do Estado certamente mais dez e ganharíamos um pouco mais de tranquilidade”, ressaltou. A rede hospitalar da Prefeitura de João Pessoa conta atualmente com 1.200 médicos.

Falta condição de trabalho

O presidente do Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB), Roberto Magliano, explicou que a baixa adesão é justificada muito pela falta de condições de trabalho oferecida pela rede pública de saúde.

“Em primeiro lugar é preciso reconhecer que o maior problema do estado e prefeitura é gestão de recursos humanos, os profissionais estão sobrecarregados, muitos estão adoecendo. A sugestão foi que conversassem com as sociedades de medicina, com as cooperativas, essas entidades podem contribuir e superar esses problemas, a questão é que esses editais fazem exigências que não podem ser cumpridas”, explicou Magliano.

Ainda de acordo com o presidente do CRM-PB, o problema não passa pela questão salarial de forma alguma, tendo em vista que os médicos que procuram o conselho para debater a situação do coronavírus na Paraíba não tocam no assunto da remuneração.

“Entendo que muito das mais que críticas, até infelizes, não constroem. O mais importante é que todos nós possamos juntos superar os problemas que estão acontecendo. A questão salarial não é prioritária, mas sim de condições de trabalho”, reafirmou.

Nota de repúdio

Em nota conjunta escrita pelo CRM-PB, pelo Sindicato dos Médicos da Paraíba (Simed), pela Associação Médica da Paraíba (AMPB) e pela Academia Paraibana de Medicina (APMed), as entidades externaram estarrecimento e repúdio à declaração do secretário.

Segundo o documento, “o secretário esquece que os médicos estão adoecendo, e até morrendo, infectados pela COVID-19, e que se encontram sobrecarregados, nos limites da sua capacidade de trabalho e se arriscando a trabalhar sob risco de morte”.

A nota diz ainda que é preocupante “que se esteja convocando médicos com pouca ou quase nenhuma experiência para atender pacientes em estado crítico, em detrimento de especialistas na área de Medicina Intensiva, que se colocaram à disposição para colaborar, mas tiveram cancelada reunião marcada para este fim pelo próprio secretário”. As entidades lamentam a opinião do secretário dizem se colocar à disposição para colaborar e ajudar a resolver o problema.

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