A discussão sobre o tema durante a ordem do dia começou quando o senador Omar Aziz (PSD-AM) manifestou a intenção de enviar um requerimento aos ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e da Secretaria de Governo, General Santos Cruz, para que esclarecessem as acusações. O senador se queixou de ataques sofridos nos meios de comunicação por aliados do presidente, que não aceitam críticas. Para ele, Bolsonaro precisa falar.
— Presidente, Vossa Excelência tem a obrigação de dar os nomes dos parlamentares que o estão chantageando, porque o senhor está prevaricando ao esconder os nomes e prevaricar é crime. É crime principalmente para um chefe de nação, que não pode ser chantageado, que não pode ser acuado, porque ele governa para todos — cobrou Aziz, salientando que tem procurado ajudar o presidente, mesmo quando manifesta discordância.
O senador sugeriu que no próximo domingo (26), nas manifestações marcadas a favor do governo, a população cobre os nomes dos parlamentares que estariam chantageando o governo.
Na última segunda-feira (20), o senador Jorge Kajuru (PSB-GO) já havia que apresentado à Mesa do Senado um requerimento de esclarecimentos ao ministro chefe da Casa Civil sobre o mesmo texto compartilhado por Bolsonaro.
Oposição
Vários parlamentares se manifestaram em apoio a Omar Aziz. Além de apoiar o discurso do colega, o senador Otto Alencar (PSD-BA) respondeu ao líder do governo, senador Fernando Coleho Bezerra (MDB-PE), que negara a convocação do presidente da República para manifestações contra o Congresso. Otto afirmou que a Casa precisa cobrar um posicionamento do governo e fez uma lista de 14 declarações feitas e depois desmentidas por Bolsonaro. Ele disse que a culpa das principais crises ocorridas neste ano é do próprio governo.
— Ninguém aqui é culpado pela exoneração do ex-ministro da Educação, Ricardo Vélez; pela crise de Bebianno [ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência]; pelos problemas entre Olavo de Carvalho e o Exército. A tormenta que tem acontecido no Palácio do Planalto é gestada no próprio Palácio do Planalto ou por seus assessores — afirmou.
O senador Rogério Carvalho (PT-SE) afirmou que os parlamentares não podem aceitar que o governo coloque a população contra o Poder Legislativo ou contra qualquer outro Poder da República. Ele lembrou que todos os parlamentares foram eleitos pela população e que as vozes divergentes precisam ser respeitadas.
Para o senador Eduardo Braga (MDB-AM), tanto o presidente quanto alguns ministros e aliados têm sido infelizes nas declarações.
— O governo é quem dá o ritmo da orquestra, é o maestro. E, quando o maestro encaminha o tom para a orquestra tocar no ritmo errado, tudo começa a desandar — advertiu, referindo-se às dificuldades na articulação do governo na Câmara dos Deputados.
Demandas
Já o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) elogiou os colegas e disse ter se surpreendido positivamente com o equilíbrio e a experiência dos senadores. Ele se colocou à disposição para dialogar e levar demandas legítimas dos parlamentares ao governo.
— Eu sou testemunha de que, pelo menos, aqui no Senado, há vontade construtiva de grande parte dos senadores, e de que nunca recebi de ninguém aqui um pedido que não fosse publicável ou que não fosse republicano — declarou.
Mesmo com a fala de Flávio Bolsonaro, senadores continuaram a criticar a postura do presidente. O senador Alessandro Vieira (PPS-SE) disse que é preciso ter clareza se o combate à corrupção é uma bandeira de campanha ou prática efetiva do governo. A “incompetência” do governo foi apontada por Humberto Costa (PT-PE) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
O senador Renan Calheiros (MDB-AL) disse considerar que o chefe de governo precisa ser uma figura pacificadora, que unifique o país e não aprofunde as divergências, como a seu ver tem feito Bolsonaro.
— Em cinco meses, o governo cultivou crises e recuos, demonizou a imprensa, deu vexames internacionais e demonstrou inaptidão para o cargo. A lógica da Presidência não pode e não deve ser o confronto entre os Poderes. Governos não são feitos para entrarem em tempestades e fortes tormentas — disse Renan.
Defesa
O líder do governo, Fernando Bezerra ressaltou seu compromisso e do presidente da República com a democracia e afirmou que os desafios são grandes. Para o senador, não há como cobrar que em cinco meses de governo haja uma base de apoio definida no Congresso. Ele contestou as falas que apontam a falta de uma agenda por parte do Executivo.
— A sociedade brasileira sabe, o Congresso sabe que essa crise [econômica] não é pequena e nem foi gestada pelo atual governo — argumentou.
Segundo ele, o governo está enxugando a máquina pública e tentando resolver, por exemplo, o problema da Previdência Social e de equilíbrio do pacto federativo. Ele pediu compreensão aos colegas e reconheceu que as lideranças da oposição têm demonstrado boa vontade com as pautas de interesse do país. E negou que o presidente tenha convocado manifestações.
Mais críticas
Após a fala do líder, Rose de Freitas (Pode-ES) fez duras críticas ao governo. Para ela, o presidente diz “frases insossas, incoerentes e sem nexo”. Para ela, Bolsonaro nomeia ministros incapazes de cumprir suas funções e escolhe líderes incompetentes para o diálogo.
— Não atravessei esses mandatos todos encontrando um cenário tão ridículo como esse. Na hora de trabalhar, lá vem uma postagem. Na hora de debater, lá vem uma ironia. Na hora de conversar, lá vem uma provocação. Precisamos mudar esse quadro — criticou a senadora, que pediu ao presidente da Casa, Davi Alcolumbre, que cobre um posicionamento do governo para que o Congresso tenha “paz para trabalhar”.
Já o senador Weverton (PDT-MA) afirmou que desde o início do governo não se viu a oposição procurar obstruir ou impedir as votações na Casa. Ele também atribuiu as dificuldades do governo aos seus próprios erros.