A Câmara dos Deputados deve encerrar o ano sem votar em plenário o processo que pede a cassação do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), réu no STF (Supremo Tribunal Federal) pela morte da vereadora Marielle Franco.
De acordo com o R7, a Casa tem só mais três dias de funcionamento antes do início do recesso parlamentar. Nesse tempo, os deputados trabalham em esforço concentrado para votar o Orçamento de 2025 e o pacote de corte de gastos do governo federal.
No fim de agosto, o Conselho de Ética cassou o mandato do parlamentar, e em setembro o caso chegou ao plenário, que vai dar a palavra final. O regimento interno da Câmara prevê que o plenário tem 90 dias úteis após receber o processo para tomar uma decisão.
Caso o prazo não seja respeitado, a cassação de Chiquinho vai passar a ter preferência para ser analisado no plenário, conforme prevê o regimento interno da Câmara.
O deputado virou réu pelo assassinato de Marielle depois de ter sido preso de forma preventiva em março pela Polícia Federal após ser apontado como um dos mandantes do crime.
O processo de cassação dele tem parecer favorável da relatora, deputada Jack Rocha (PT-ES). Caso o processo seja colocado em votação, basta os votos favoráveis da maioria simples dos deputados presentes no plenário para que o mandato do parlamentar seja cassado.
Paralisação do processo
A cassação de Chiquinho Brazão já avançou por duas etapas dentro da Câmara. Em agosto, o Conselho de Ética aprovou o parecer pela perda do mandato com ampla maioria: 15 votos favoráveis e apenas 1 contrário.
Em setembro, a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) rejeitou um recurso da defesa do parlamentar contra a decisão, e por 57 votos a 2 manteve o entendimento do Conselho de Ética.
Desde então, o processo está parado, à espera de ser pautado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Cabe exclusivamente ao presidente da Casa a decisão de incluir processos de cassação na pauta de votações do plenário.
Contudo, Lira ainda não deu sinais de que pretende colocar o caso de Chiquinho em discussão nesta reta final dos trabalhos legislativos.
Contexto das acusações
Chiquinho Brazão e o irmão dele, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), são apontados pela Polícia Federal como mandantes dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorridos em março de 2018. Os dois estão presos preventivamente desde março de 2024, após as investigações avançarem com novas provas e delações.
Segundo a PF, o crime teria sido motivado por disputas envolvendo grilagem de terras na zona oeste do Rio de Janeiro, uma região amplamente dominada por milícias. De acordo com as investigações, Chiquinho atuava na defesa da regularização de áreas controladas por grupos milicianos, o que teria levado a conflitos políticos com Marielle, que questionava essas ações na Câmara Municipal do Rio de Janeiro.
Durante as suas defesas no Conselho de Ética e na CCJ, Chiquinho negou as acusações e afirmou ser inocente. Ele reiterou que não teve qualquer participação no crime e que sua prisão é injusta. Apesar disso, as evidências apresentadas pela Polícia Federal reforçam o envolvimento do parlamentar no planejamento e execução do assassinato.
Foto: Zeca Ribeiro.