Claro
Escuro

Atualização de vacina bivalente contra Covid é eficaz e segue rigor científico; entenda

Circula nas redes sociais o vídeo de um médico citando que a vacina bivalente BA.4/BA.5 da Pfizer contra a Covid-19 não passou por testes clínicos (com humanos) antes de ser aprovada pela agência reguladora de medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês).

- Continua depois da Publicidade -

No vídeo, publicado em setembro do ano passado e que ganhou visibilidade recentemente, o médico Roberto Zeballos também cita que quem pegou Covid está mais do que protegido, o que não é verdade (estudos já comprovaram os riscos da infecção). Considerado por seus pares como um médico antivacina, a postura de Zeballos na pandemia já foi alvo de nota de repúdio de professores de medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) ainda em 2022.

O infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), aponta que as afirmações do médico sobre a vacina bivalente induzem a erro e não retratam o rigor científico com que o imunizante foi analisado e aprovado.

De acordo com o G1, o reforço bivalente da Pfizer foi liberado nos EUA em agosto de 2022. A FDA – órgão equivalente à Anvisa nos EUA – usou três fontes de dados para analisar o novo imunizante: dados da vacina monovalente (primeira versão do imunizante), de um estudo clínico (com humanos) da bivalente BA.1 e de estudos pré-clínicos da versão BA.4/BA.5.

Vale reforçar a diferença entre duas fases comuns nos estudos de uma vacina:

-Estudos pré-clínicos são feitos em animais ou in vitro para avaliar a toxicidade e os efeitos gerais do candidato a medicamentos.

-Estudos clínicos envolvem o teste em humanos, em grupos selecionados e com pessoas que recebem o imunizante tendo seus resultados comparados com pessoas que não receberam.

Aprovação de atualização sem testes em humanos é normal

A aprovação da FDA segue um protocolo normal no meio científico e não pode ser base para afirmações contra a vacina, como explicou o infectologista Renato Kfouri, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

“Há uma tendência de fazer atualização das vacinas, como fazemos a da gripe, sem ser necessário um estudo clínico. Você não fica fazendo estudo a cada ano de vacina de gripe porque ela já é consolidada, já conhecemos sua segurança.
— Renato Kfouri, infectologista

O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) ressalta que o mesmo ocorre com a vacina de RNA mensageiro. “Ela já é consagrada e o que estamos fazendo hoje é só uma atualização, exatamente nos moldes da gripe”, explica Kfouri.

Vacinas bivalentes

Desde o início da pandemia, o coronavírus vem sofrendo mutações (o que é normal). Atualmente, a variante que domina o mundo é a ômicron, que é bem diferente do vírus original.

As vacinas bivalentes (segunda geração) contra a Covid-19 funcionam da mesma forma que as vacinas monovalentes (primeira geração).

Qual a diferença entre os dois tipos de vacina?

-A diferença é que os imunizantes de segunda geração contêm o código do vírus SARS-CoV-2 original em associação com o código das variantes da ômicron.

-O objetivo de aumentar a eficácia para a prevenção da Covid-19.

“As vacinas da Covid foram feitas com a cepa original. Com o passar do tempo foram surgindo variantes e, geneticamente falando, o vírus foi se afastando do original. Como mudava com frequência, não valia a pena criar uma vacina atualizada. A ômicron chegou em novembro de 2021, se estabilizou e hoje só ela está circulando [com as subvariantes]”, explica o infectologista.

Trajetória da aprovação do reforço bivalente

O reforço bivalente da Pfizer já foi aprovado em diversos locais, como Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia e Canadá. No Brasil, ele está autorizado para uso na população a partir dos 12 anos – a Anvisa ainda analisa o pedido para aplicação em crianças de 5 a 11 anos.

-Em novembro de 2022, a Pfizer anunciou que estudos demonstraram que o reforço bivalente provocou títulos de anticorpos neutralizantes aproximadamente 4 vezes maiores contra as sublinhagens BA.4/BA.5 em comparação com a primeira versão em indivíduos com mais de 55 anos.

-Para pessoas de 18 a 55 anos, os títulos de anticorpos aumentaram 9,5 vezes em comparação com o pré-reforço. Já nos indivíduos com mais de 55, os níveis aumentaram 13,2 vezes em relação aos níveis anteriores.

-Os dados também apontaram que pessoas que não tiveram uma infecção prévia e que receberam o reforço bivalente tiveram um aumento significativo de anticorpos neutralizante.

“As vacinas de RNA mensageiro já foram aprovadas por todo o mundo, com bilhões de doses distribuídas. É uma plataforma segura, consolidada. OMS, FDA recomendam aprovar as novas versões de vacinas sem ser necessários novos estudos clínicos”, diz Kfouri.

Foto: Myke Sena.

Mais Lidas