O ex-secretário de Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, prestou depoimento nesta terça-feira (15) à CPI da Covid. O ex-secretário depõe na condição de testemunha e, por isso, é obrigado a falar a verdade, sob o risco de cometer crime de falso testemunho.
Campêlo pediu exoneração do governo do Amazonas em 7 de junho, após ser preso pela Polícia Federal na quarta fase da Operação Sangria. A operação investiga se integrantes da Secretaria de Saúde do estado celebraram contratos fraudulentos em prol de grupos empresariais na construção de um hospital de campanha para o combate à covid-19.
Na CPI da Covid, o ex-secretário do Amazonas foi questionado sobre o colapso da saúde em Manaus, no início deste ano, quando os infectados pela covid-19 sofreram com a falta de oxigênio nos hospitais da região, e sobre a atuação dos gestores públicos para enfrentar a crise.
O governador do Amazonas Wilson Lima (PSC) também foi alvo de operação da PF e convocado à depor na comissão. Porém, na semana passada, o chefe do executivo local conseguiu um habeas corpus do STF que o autorizou a não comparecer à CPI.
Carlos Wizard
O presidente da Comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM), informou no início da reunião que caso o empresário Carlos Wizard não compareça a CPI na quinta-feira (17), providências jurídicas serão tomadas. O bilionário é acusado de integrar o “gabinete paralelo”, grupo que aconselha o presidente Jair Bolsonaro no enfrentamento a pandemia de covid-19 com diretrizes diferentes das do Ministério da Saúde.
Segundo o Congresso em Foco, Wizard está nos Estados Unidos. Ontem (14), a defesa do empresário enviou um pedido ao colegiado solicitando que ele prestasse depoimento por videoconferência, mas a possibilidade foi negada por ser imcompatível com a dinâmica da CPI.
“Esclareço que aqueles que forem regularmente intimados e se negarem a comparecer para depor perante esta CPI terão a sua intimação solicitada ao juiz criminal da localidade em que residam ou se encontrem, nos termos dos arts. 218 e 219 do Código de Processo Penal. Determina o art. 218 que o juiz poderá requisitar à autoridade policial a apresentação da testemunha faltosa ou determinar que seja conduzida por oficial de justiça, o qual poderá solicitar o auxílio da força pública”, explicou Aziz.
Documentos sigilosos
Documentos fornecidos ao colegiado e classificados como sigilosos podem mudar de status. O presidente da Comissão informou aos parlamentares que uma lista com mais de 2 mil arquivos podem ter a reclassificação para documentos ostensivos. A votação da mudança vao acontecer nesta quarta-feira (16). ” Solicito que todos leiam atentamente essa lista para que possamos votar em Plenário a abertura desses documentos”, informou.
Hospitais de campanha
Questionado pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM) sobre os hospitais de campanha no Estado, o ex-secretário se esquiva. O senador afirma que não houve aumento de metros quadrados nas instalações, apenas remanejos de UTI’s para centros cirúrgicos e depósitos.
Contradição à Pazuello
Sobre o colapso de saúde em 2021, Campêlo afirmou que dia 7 de janeiro foi solicitado apoio logístico à pasta da Saúde, na época comandada pelo general Eduardo Pazuello.
Por telefone no dia 7, o ex-ministro orientou o secretário a procurar o Comando Militar da Amazônia.
Este depoimento contradiz as afirmativas dadas por Pazuello, que afirmou que só soube da iminência da falta de oxigênio em 10 de janeiro, quando esteve em Manaus pessoalmente.
Apenas dois dias
Durante a oitiva, o ex-secretário disse à CPI que o colapso de saúde causado pelo desabastecimento de oxigênio nos hospitais de Manaus durou “apenas” dois dias: 14 e 15 de janeiro.
A declaração de Campêlo irritou os senadores Omar Aziz (PSD), Eduardo Braga (MDB) e Eliziane Gama. “É revoltante ouvir do senhor”, disse a senadora maranhense.
Foto: Marcos Oliveira.