Estudantes de medicina da Universidade de São Paulo protestaram nesta quinta-feira (25) contra o governo Jair Bolsonaro durante a visita do novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, à universidade.
“Mais vacina e menos cloroquina”, gritaram os manifestantes logo na chegada do ministro. “300 mil é genocídio”.
Segundo o G1, Queiroga cumpriu agenda na capital paulista. Mais cedo, ele visitou o Incor e o Hospital das Clínicas.
Segundo os organizadores, o ato é realizado em homenagem às vítimas da Covid-19, em defesa da saúde pública e pela priorização da vida.
Eles divulgaram um manifesto, que foi lido para o ministro durante a visita.
Durante o ato, os estudantes seguravam cartazes cobrando medidas rígidas de isolamento social, política de vacinação em massa, compra de vacinas, e contra o negacionismo do governo federal.
Nesta quarta (24), o Brasil atingiu 300 mil mortos por Covid-19. A marca assombrosa foi registrada um dia depois de o país contabilizar, pela primeira vez, mais de três mil mortes em apenas 24 horas.
A manifestação é feita pelos alunos da FMUSP representada pelo Centro Acadêmico Oswaldo Cruz (CAOC). Estudantes de outras áreas da saúde também aderiram ao protesto.
Veja a íntegra do manifesto:
Ao excelentíssimo Senhor Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes, Ministro da Saúde;
O Centro Acadêmico Oswaldo Cruz vem por meio deste manifestar as preocupações do corpo discente da nossa instituição, a renomada Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), em compreender qual será a postura adotada pela sua administração diante da maior crise sanitária dos últimos anos.
O Governo Federal apresentou até o presente momento prioridades equivocadas e por vezes perversas, resultando em absoluta ineficácia de gestão da crise, com consequências catastróficas para a população. Estas consequências tornam-se incontestáveis diante dos números crescentes de mortes diárias e da incalculável perda de 300 mil vidas, marco atingido no dia de ontem (24/03/21).
No momento mais crítico da pandemia, presenciamos a quarta indicação ao Ministério da Saúde que, desde o início, mostrou-se incapaz de articular políticas eficazes de contenção do vírus. Nesse contexto, questionamos a afirmação de que cabe ao Ministério apenas executar as políticas do Governo Bolsonaro. O que poderia significar uma saída para o povo brasileiro, na verdade, reveste-se de continuidade da política implementada até agora, com isenção de qualquer responsabilidade por parte da liderança do Ministério da Saúde.
Os alunos da Faculdade de Medicina da USP unem suas vozes aos titulares desta Casa quando estes afirmaram que as nossas mais potentes armas no combate à COVID-19 são as ações coletivas de prevenção e uma medicina que se alicerce nos conhecimentos científicos, no compromisso com a ética e na empatia aos doentes.
A descredibilização das medidas sociais com forte evidência científica de benefício, a falta de transparência, o completo desrespeito às medidas de isolamento e a ausência de articulação política nos diferentes níveis de gestão concorrem para a manutenção de um quadro que resulta em perdas irreparáveis à sociedade brasileira.
Reconhecendo sua biografia e as contribuições que fez para a prática médica no Brasil, manifestamos o interesse dos nossos alunos em saber o planejamento estratégico para alterar a forma como o Governo Federal trabalhou até aqui, uma vez que os resultados obtidos pelas gestões anteriores foram repetidamente falhos.
Ainda em uníssono aos Professores desta Faculdade, ressaltamos a necessidade de adoção de medidas radicais de lockdown nas regiões mais acometidas, de desenvolvimento de políticas emergenciais intersetoriais para assegurar a adequada adesão das pessoas às políticas de isolamento físico, aceleração significativa do programa de vacinação e medidas de combate às notícias falsas, desinformação e más práticas de prevenção e tratamento.
Foto: Reprodução Google.