Até a manhã deste sábado (16), um total de 21 pacientes com Covid-19 do Amazonas foram transferidos para unidades de saúde do Maranhão e Piauí. Por conta de falta de oxigênio nos hospitais de Manaus, o governo informou, na quinta (14), que prevê enviar 235 pacientes para outros estados.
A capital amazonense enfrenta colapso na rede de saúde após um novo surto da Covid-19 lotar hospitais mais uma vez, assim como aconteceu entre abril e maio do ano passado.
Segundo o G1, nesta sexta (15), Manaus registrou 213 enterros e bateu recorde diário. Em todo o Amazonas, até esta sexta, mais de 6 mil pessoas já morreram com a Covid-19.
De acordo com o governo, a transferências dos pacientes aconteceu nesta sexta-feira. Eles foram transportados em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) ao longo do dia.
Do total de 21 pacientes, nove foram encaminhados para o Piauí no início da manhã e 12 para o estado do Maranhão, no final da noite. Nos dois Estados, os pacientes estão sendo internados em hospitais universitários da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
De acordo com o Ministério da Saúde, já estão garantidos de imediato 149 leitos nas outras cidades. São 40 em São Luís (MA), 30 em Teresina (PI), 15 em João Pessoa (PB), 10 em Natal (RN), 20 em Goiânia (GO), 4 em Fortaleza (CE), 10 em Recife (PE) e 20 no Distrito Federal. O governo do Pará informou que disponibilizará 30 leitos.
Segundo o governo, a transferência dos pacientes é feita por meio de classificação de risco do protocolo de Manchester, que estabelece as prioridades de atendimento de acordo com a gravidade dos casos. O paciente que for transferido deve apresentar sinais vitais (frequência cardíaca, respiratória e pressão arterial) em estabilidade, além de assinar um termo de consentimento para a transferência.
O governo informou, ainda, que montou uma força-tarefa de assistência social para atender os familiares das pessoas que estão recebendo tratamento fora do Amazonas. Nesta quinta, a Justiça determinou que a União também realiza, imediatamente, a transferência de pacientes que podem morrer pela falta de oxigênio.
Transferências de bebês é suspensa
O Ministério da Saúde informou, nesta sexta (15), que adquiriu cilindros de oxigênio que devem durar 48h para manter 61 bebês prematuros em leitos de UTIs em Manaus. Estados já haviam sinalizado oferta de leitos para receber bebês e grávidas que possam ficar sem oxigênio na capital.
De acordo com o Ministério da Saúde, a medida atende a uma solicitação do Governo do Amazonas para recém-nascidos que estavam no limite de oxigênio. A pasta informou, ainda, que busca mais balas de oxigênio para que os prematuros não precisem ser transferidos para outros estados.
Caos desespera famílias e causa perdas
O administrador de empresas Iyad Hajoj perdeu o pai e a mãe no mesmo dia por falta de oxigênio em Manaus. Os dois estavam internados no Hospital Getúlio Vargas com Covid-19, o pai na UTI e a mãe na enfermaria, mas ambos não resistiram à falta de oxigênio.
“Foi o dia mais aterrorizante que eu não desejo para absolutamente ninguém. Fui infectado pela Covid porque tive que cuidar dos dois e tive que reconhecer o corpo dos dois”, contou o administrador.
A operadora de caixa Lídia Nascimento Ribeiro está enfrentando dificuldades para liberar o corpo da mãe, que morreu em consequência de complicações causadas pela Covid-19, no Serviço de Pronto-Atendimento (SPA) Danilo Correia, em Manaus, nesta quinta-feira (15).
Além de tudo, ela precisa se preocupar com a falta de oxigênio para o pai, que está internado e precisa revezar o gás com outro paciente. “Tem muita gente morrendo, não tem funerária suficiente, tem muita gente morta. Só tem funerária amanhã”, lamentou.
Uma vendedora entrou em desespero na porta de um hospital de Manaus na manhã desta sexta-feira (15) ao saber que um parente internado seria transferido do Amazonas por falta de condições de tratamento — desde quinta (14), a rede manauara não tem oxigênio para todos os pacientes.
O tio de Daniela Spener, de 58 anos, deveria ir para o Piauí. Ela criticou a decisão do governo de transferi-lo e teme pela vida dele, que depende de oxigênio.
“Por que, ao invés de levar corpo, eles não trazem as coisas para cá? Por que não trazem as coisas de que o Hospital precisa? Agora ficam jogando os corpos pra lá e pra cá. Não tem sentido”, disse Daniela.
Foto: João Allbert.