Um restrito grupo de países ricos, que engloba apenas 13% da população mundial, já comprou 51% de futuras doses de vacinas que estão sendo desenvolvidas contra a covid-19, de acordo com relatório divulgado na quarta-feira (16) pela ONG Oxfam.

A organização analisou dados disponibilizados pela empresa AirInfinity sobre os acordos que empresas farmacêuticas e laboratórios já fecharam com países pelo mundo para a aquisição das cinco principais vacinas em produção hoje: da AstraZeneca, Gamaleya/Sputnik, Moderna, Pfizer e Sinovac.

“Mesmo que as cinco vacinas tenham sucesso, o que é bastante improvável, quase dois terços (61%) da população só terão acesso ao medicamento em 2022. Como é mais provável que algumas das vacinas não vinguem, o número de pessoas que poderá ficar sem imunização deverá ser maior”, alerta a Oxfam.

A ONG calcula que, ao todo, devem ser produzidas 5,9 bilhões de doses. Destas, 5,3 bilhões já foram negociadas da seguinte maneira: 2,7 bilhões para os Estados Unidos, União Europeia, Reino Unido, Hong Kong, Macau, Japão, Suíça e Israel.

Segundo o R7, o Brasil está entre os que já adquiriram ou têm acordos para obter as 2,6 bilhões de doses restantes. Essa também é a situação de outros países em desenvolvimento, como México, Índia e China.

Ainda segundo a organização, a vacina desenvolvida pela empresa Moderna, por exemplo, recebeu US$ 2,48 bilhões (R$ 13 bilhões) de investimento graças a impostos pagos por cidadãos, mas vendeu toda a sua produção para países mais ricos, por preços que vão até US$ 16 (R$ 84) nos Estados Unidos e  US$ 35 (R$ 183) para outros países.

“Existem momentos em uma sociedade em que os interesses coletivos devem estar acima dos individuais. Tragédias como a que o mundo está vivendo hoje e que está afetando, de forma brutal, milhões de pessoas colocam o objetivo de lucrar em um lugar, para dizer o mínimo, inaceitável. A vacina para esse coronavirus deve estar disponível para todas as pessoas do planeta. Isso é uma questão de humanidade. “, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.

Foto: TINGSHU WANG.