Transcorridos 23 anos da incorporação do instituto da reeleição à Constituição Federal, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) fez uma mea culpa. Em artigo intitulado “Reeleição e crises”, publicado neste domingo (6) nos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo, o ex-presidente tucano escreveu: “Devo reconhecer que historicamente foi um erro”.

“Cabe aqui um ‘mea culpa’. Permiti, e por fim aceitei, o instituto da reeleição. (…) Sabia, e continuo pensando assim, que um mandato de quatro anos é pouco para ‘fazer algo’. Tinha em mente o que acontece nos Estados Unidos. Visto de hoje, entretanto, imaginar que os presidentes não farão o impossível para ganhar a reeleição é ingenuidade.”

A proposta de emenda à Constituição (PEC) da reeleição foi aprovada pelo Congresso em 1997, o que permitiu que FHC conquistasse um segundo mandato em 1998. O ex-presidente foi acusado de ter comprado votos para garantir a aprovação da alteração constitucional. “De pouco vale desmentir e dizer que a maioria da população e do Congresso era favorável à minha reeleição: temiam a vitória… do Lula”, ressaltou FHC.

Ele defendeu que o Brasil deveria adotar um mandato único mais longo, de cinco anos. “Devo reconhecer que historicamente foi um erro: se quatro anos são insuficientes e seis parecem ser muito tempo, em vez de pedir que no quarto ano o eleitorado dê um voto de tipo ‘plebiscitário’, seria preferível termos um mandato de cinco anos e ponto final.”

Depois de FHC, foram beneficiados pela reeleição os ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Eleito em 2018 com o discurso de que não tentaria uma recondução em 2022, Jair Bolsonaro já persegue abertamente um novo mandato. Além da aproximação com o Centrão, grupo de partidos de centro e direita que lhe garantem governabilidade, ele tem realizado viagens ao Nordeste na tentativa de aumentar seu eleitorado.

Críticas a Bolsonaro

Segundo o Congresso em Foco, o ex-chefe do Executivo também teceu críticas a Bolsonaro, afirmando que ele chegou ao cargo movido pelo antipetismo e não por uma agenda positiva. Agora, prossegue, a pandemia e a crise econômica se somam ao modo de fazer política do “dá lá toma cá”, que segue o mesmo, na visão de FHC.

“O governo atual não teve sorte. São de desanimar os fatores contrários: a pandemia, logo depois de uma crise econômica que vem de antes, com o produto interno bruto (PIB) crescendo pouco (se é que…), e uma “base política” que depende, como sempre, mais do “dá lá toma cá” do que da adesão popular a algo grandioso. Ganhou e levou; mas mais pelo negativo (o não ao PT e aos desatinos financeiros praticados) do que pelo sim a uma agenda positiva.”

FHC também destacou o desgaste que vem sofrendo o ministro da Economia, Paulo Guedes. “Agora se tem a sensação (pelo menos, eu tenho) de que o presidente não está bem acomodado na cadeira que ganhou. É difícil mesmo. De economia sabe pouco; fez o devido: transferiu as decisões para um “posto Ipiranga”. Este trombou com a crise, pela qual não é responsável. Não importa, vai pagar o preço: tudo o que era seu sonho, cortar gastos, por exemplo, vira pesadelo, terá de autorizá-los”, continua. “Só resta o falatório vazio. Este cansa e é ineficaz num Congresso que, no geral, também quer gastar e igualmente pensa nas eleições.”

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