Maria Clementina de Souza, primeira delegada negra da história da Polícia Civil de São Paulo, morreu na madrugada desta sexta-feira (14), aos 64 anos, em razão de uma trombose, segundo familiares ouvidos pelo G1. Ela era conhecida por lutar pelos direitos dos negros.
De acordo com os parentes, Maria estava em casa quando teve uma trombose na perna, o coágulo subiu e causou uma embolia pulmonar. Ela ainda foi socorrida ao Hospital do Servidor Público Estadual (IAMSPE), mas não resistiu. Segundo a família, a morte não tem relação com a Covid-19, descartada com um teste, mas sim com problemas circulatórios que levaram à amputação de uma perna em 2018.
“Ela foi um exemplo para a família. Ela era ativista, era do conselho da comunidade negra, era atuante na OAB [Ordem dos Advogados do Brasil]. Ela tinha uma importância sumária”, diz à reportagem a escrivã Luana Alexandrina de Souza Nery, de 37 anos, sobrinha de Maria. Luana contou que se tornou policial civil por causa da tia. “Ela sempre me inspirou e incentivou. Amava ser policial”, fala.
43 anos na polícia
De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Civil, Maria começou a trabalhar na instituição em 1976, quando foi escriturária. Foram 43 anos na polícia.
Dois anos depois, se tornou operadora de telecomunicações. E após se formar na faculdade de direito, passou no concurso para delegada em 1982.
Em 1985, ela foi delegada-assistente na 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) do estado, na Sé, Centro da capital. Atualmente, essa delegacia mudou de endereço e funciona no Cambuci.
No tempo que trabalhou na Polícia Civil, Maria atuou também em delegacias nas cidades de Campinas, São Bernardo do Campo, Mauá e Guarulhos. Foi titular de algumas, como de outra DDM, anos mais tarde, da Delegacia do Idoso e também comandou alguns distritos policiais.
Ativista
Em 2008 ela viajou para os Estados Unidos a convite do governo americano para “participar do programa profissional a ser desenvolvido em várias localidades americanas, sobre a participação de afrodescendentes e de outros minorias no processo político dos EUA”.
Em 2018, Maria teve que amputar a perna esquerda por causa de um problema circulatório. Segundo a Polícia Civil, ela se aposentou em novembro de 2019.
Atuante nas questões sobre a participação do negro na sociedade, ela gostava de comentar diversos assuntos nas suas redes sociais.
Luana, a sobrinha de Maria, lembra que a última live da tia foi na quarta-feira (12), quando ela publicou um vídeo para falar do caso de uma juíza do Paraná que escreveu na sua sentença que “em razão da raça”, um negro era criminoso.
“Ela falava sobre o preconceito no mundo jurídico, citando essa decisão da juíza de Curitiba”, conta Luana. “Era uma ativista pelos direitos dos negros”.
Despedida
Segundo a família da delegada, Maria será velada nesta tarde numa cerimônia fechada para dez parentes, por conta da pandemia de coronavírus, no Cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo do Campo.
“Posteriormente, ela será cremada, para que possamos levar as cinzas para a cidade onde ela nasceu, São Lourenço, em Minas Gerais”, diz Luana.
Divorciada, Maria deixa um filho de 25 anos que morava com ela.
Uma mulher que me inspirava, respirava liberdade, batalhadora sempre, levantando todos e todas do seu lado. Meu maior aprendizado foi a convivência com ela constantemente, que suas falas sempre foram aulas para mim. Mulher. Negra. Mãe. E uma inspiração para todas as gerações”, fala Arthur Quirino sobre sua mãe.
Por meio do Twitter, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) lamentou a morte da delegada.
“Com pesar recebi a notícia da morte da Maria Clementina de Souza, a 1ª delegada negra da Polícia Civil de SP. Ela faleceu em razão de uma trombose. Maria era uma grande ativista na luta pelos direitos dos negros. Minha solidariedade aos familiares e amigos neste momento de dor”, escreveu o governador.
Foto: Valéria Gonçalvez.