Os presidentes do Mercosul, reunidos nesta quinta-feira (2) na primeira cúpula virtual do bloco, apostaram no trabalho conjunto para enfrentar a pandemia de COVID-19 que causa estragos na América Latina, e expressaram a vontade de efetivar o acordo comercial com a União Europeia.
“Os próximos meses serão grandes desafios para todos. Um deles é conciliar a proteção da saúde das pessoas com o imperativo de recuperar a economia”, disse o presidente Jair Bolsonaro, amplamente criticado pela forma como lida com a pandemia no segundo país mais afetado no mundo pela COVID-19, com quase 62.000 mortes e cerca de 1,5 milhão de casos.
“Estou certo de que o Mercosul faz parte das soluções que estamos construindo”, acrescentou, nesta reunião em que o Paraguai transferiu a presidência pro tempore do bloco para o Uruguai.
A América Latina é atualmente o epicentro da pandemia, que já infectou mais de 10,7 milhões de pessoas em todo o mundo fez mais de 517.000 vítimas.
Vários estados brasileiros têm flexibilizado as medidas de confinamento com uma reativação progressiva da economia, apesar da curva de contágios continuar aumentando.
O presidente argentino, Alberto Fernández, que empregou todos os seus esforços para desacelerar a progressão da doença, apesar de seus efeitos devastadores na economia e acabou de reforçar as medidas de isolamento social, afirmou que “ninguém se salva sozinho”, em alusão a uma frase do Papa Francisco.
“Somos o continente mais desigual na distribuição de renda e temos que enfrentar esse desafio (da COVID-19), sabendo que estamos enfrentando a maior crise mundial”, destacou Fernández.
– Mercosul, UE e EFTA –
Em um comunicado conjunto, os quatro presidentes do Mercosul se comprometeram a revisar a tarifa alfandegária comum com vistas à consolidação da união aduaneira.
Fernández, Bolsonaro, Mario Abdo (Paraguai) e Luis Lacalle Pou (Uruguai) saudaram os avanços para a adequação do setor automotivo à união alfandegária e a realização da reunião ad hoc do setor açucareiro.
Além disso, destacaram a importância de que o Mercosul continue trabalhando na redução das desigualdades.
Os presidentes coincidiram em que o Mercosul “deve se tornar mais simples, ágil e que produza resultados cada vez mais tangíveis para os cidadãos”.
Segundo o msn, na reunião, Bolsonaro pediu a aceleração da entrada em vigor dos acordos de livre comércio firmados no ano passado com a União Europeia e com os países da EFTA (Acordo Europeu de Livre Comércio), ainda pendente de ratificação pelo parlamentos de cada país.
“Apelo a todos os presidentes para que, como eu mesmo fiz, instruam seus negociadores a fechar os textos para deixá-los prontos para sua assinatura neste semestre”, disse Bolsonaro.
“Ao mesmo tempo, nosso governo dará prosseguimento ao diálogo, com diferentes interlocutores, para desfazer opiniões distorcidas sobre o Brasil e expor as ações que temos tomado em favor da proteção da floresta amazônica e do bem-estar das populações indígenas”, prosseguiu.
O presidente argentino pediu ao alto comissário de Relações Exteriores da União Europeia, Josep Borrell, presente na reunião, apoio para a ratificação dos acordos pelos 27 países da UE.
De Bruxelas, o representante europeu considerou “bom” que nestas circunstâncias da pandemia se celebre “o acordo que estabelecerá uma zona de livre comércio com quase 800 milhões de pessoas”.
“Frente a esta crise só cabe uma resposta coletiva porque ninguém pode pretender se salvar sozinho”, acrescentou.
– China e futebol –
O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, propôs o fortalecimento das relações comerciais com a China, um importante destino para as exportações agrícolas do Mercosul.
Ele pediu para que não se caia “na falsa dicotomia” de estar mais próximo dos Estados Unidos ou da China. “Esta região tem a vocação de alimentar o resto do mundo. Vamos lá. A China manifestou repetidamente seu interesse em aprofundar suas relações com o Mercosul. Acho que há uma espécie de omissão de nosso bloco em responder”, ressaltou.
Presidentes de países associados ao Mercosul, como Sebastián Piñera, do Chile, e Iván Duque, da Colômbia, também participaram da cúpula.
O presidente da Conmebol, o paraguaio Alejandro Domínguez, participou como orador convidado, e disse que espera que em breve “a bola role novamente”.
Domínguez lembrou que “milhares de jogadoras, jogadores, treinadores físicos, técnicos, jornalistas, mídia (…) dependem economicamente” do futebol na América Latina.
“Para a Conmebol, saúde e vida vêm antes de qualquer outra coisa, mas esse fator também deve ser considerado”, enfatizou.
Ele lembrou que o corpo diretivo do futebol sul-americano, buscando retomar com segurança as atividades paralisadas, convocou uma equipe de especialistas que desenvolveu um protocolo para treinamento, viagens e competições, incluindo chegada e partida de aeroportos, para partidas que inicialmente não terão público.
“Nosso maior desejo é que a bola role novamente”, concluiu.
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