O jornal britânico Financial Times publicou neste domingo, 7, um editorial no qual aponta o presidente da República, Jair Bolsonaro, como um risco à democracia no País. No texto, a tradicional publicação internacional diz que Bolsonaro “acendeu o medo” na democracia brasileira e que existe risco crescente de uma virada autoritária. O periódico menciona o estreito vínculo do presidente brasileiro com o Exército e seu aval a manifestações que vêm pedindo a volta da ditadura militar, relata os embates recentes do Executivo com outros instituições do País e alerta para o risco “real” à maior democracia da América Latina.

Segundo o msn, o Financial Times voltou a comparar Bolsonaro a Donald Trump, chamando o presidente de “Trump tropical”, como já havia feito em outras oportunidades. Segundo o FT, Trump e Bolsonaro são nacionalistas que “proferem o amor a Deus e às armas”, a propensão para governar por meio do Twitter e um apreço por estimular suas bases com uma retórica de divisão. “No Brasil, contudo, há uma possibilidade mais preocupante: que Bolsonaro, cada vez mais confrontado, esteja desiludido com o processo democrático pelo qual assumiu o cargo e queira minar as instituições que sustentam o País”, diz o jornal.

A publicação recorre a acontecimentos recentes da política nacional para justificar a tese. Entre elas, cita a preocupação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello que comparou o cenário nacional à República de Weimar – da Alemanha, que precedeu a 2ª Guerra – e criticou os apoiadores do presidente que estariam atacando a democracia para instaurar uma ditadura.

“Isso pode soar exagerado. Mas poucos presidentes eleitos atenderiam e contemplaria protestos nos quais os manifestantes pedem pelo fechamento do Congresso e da Suprema Corte, sendo substituídos por uma lei militar. Ainda assim, isso é o que o Sr. Bolsonaro fez – não uma, mas várias vezes. No fim de semana passado ele apareceu em uma dessas manifestações montado a cavalo”, descreve o jornal, que também citou os militares colocados pelo presidente na administração federal e a resposta do ministro Augusto Heleno ao supremo, quando o celular do presidente foi solicitado pelo STF.

Na opinião do Financial Times, com a queda da ditadura militar e a promulgação de uma nova constituição em 1988, o Brasil lançou uma nova ordem democrática, com as forças armadas se retirando da política e ganharam respeito no exterior como corpo profissional, e as instituições civis – STF, Congresso e a mídia independente – ganharam força, a ponto de conseguirem derrubar dois presidentes por má conduta. Segundo o jornal, as instituições atraíram a ira de Bolsonaro por causa de operações envolvendo seu nome e o de seus filhos, como as investigações sobre o gabinete do ódio, no inquérito das fake news, e a apuração sobre a interferência política na PF.

“Agora, os brasileiros estão preocupados com o fato de Bolsonaro estar tentando provocar uma crise entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário para justificar a intervenção militar. Seus índices de popularidade em queda e problemas crescentes com a pandemia de coronavírus – o Brasil agora tem o terceiro maior número de mortes no mundo – estão prejudicando suas chances de reeleição. As esperanças de reforma econômica evaporaram e os investidores estão retirando capital do País.”

“Até o momento, as instituições brasileiras resistiram ao ataque, com forte apoio público. É improvável que o Exército apoie um golpe militar para instalar Bolsonaro como um autocrata. Mas outros países devem observar: os riscos para a maior democracia da América Latina são reais e estão crescendo” conclui o editorial.

Celso de Mello compartilha editorial do Financial Times

Citado pelo jornal britânico, o ministro Celso de Mello compartilhou entre interlocutores o editorial que critica Bolsonaro. Pelo WhatsApp, o ministro enviou o texto do jornal, comentando o trecho em que é citado.

“Editorial de hoje, domingo, dia 07/06, do jornal britânico ‘FINANCIAL TIMES’ sobre a conduta inconstitucional de Bolsonaro, com referência à minha advertência, ‘exaggerated’, porém necessária em face dos contínuos ataques à Corte Suprema e ao Congresso Nacional, visando o seu ‘shutdown’ (fechamento)!”, escreveu Celso de Mello no Whatsapp neste domingo, 7.

O decano do Supremo Tribunal Federal é o relator do inquérito que investiga a interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, com base em acusação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro. A investigação pode levar ao afastamento do presidente da República se O decano do Supremo Tribunal Federal é o relator do inquérito que investiga a interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, com base em acusação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sérgio Moro. A investigação pode levar ao afastamento do presidente da República se eventual denúncia da Procuradoria-Geral da República não for aceita pela Câmara dos Deputados.

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