O ex-nadador Gustavo Borges, 47 anos, dono de quatro medalhas olímpicas, é há quatro anos presidente da Associação Brasileira de Academias (Acad Brasil) e a voz mais firme no combate ao sedentarismo no país. Por isso, viu com bons olhos o recente decreto do presidente Jair Bolsonaro, que incluiu as academias entre as chamadas atividades essenciais em meio à pandemia de coronavírus. Borges, no entanto, disse que não pretende entrar no fogo cruzado entre os governos estaduais e federal e considera que a decisão sobre reabertura do comércio deve passar pelas autoridades e empresários locais.
Segundo o msn, ao longo dos últimos anos, o ex-atleta esteve diversas vezes em Brasília para debater com políticos a questão da importância da atividade física – segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o quinto país mais sedentário, com 47% de sua população inativa. A Acad defende mudanças na tributação do setor, alegando que as academias devem ser enquadradas como uma atividade de saúde, não de lazer. Borges, inclusive, já assinou um artigo na seção Página Aberta de Veja sobre o tema.
“O decreto presidencial é um reconhecimento, nos orgulha, pois nosso discurso sempre foi neste sentido. Trabalhamos há quatro anos na Acad batendo na tecla do sedentarismo, que é outro problema seríssimo e que mata brasileiros todos os dias. A falta de exercícios físicos leva a diversos tipos de doença. Desde o governo anterior, inclusive em um momento conturbado com o impeachment da Dilma, sempre atuamos dentro do Congresso e do Senado, mostrando a situação do Brasil em relação a isso”, afirma Gustavo Borges.
O medalhista olímpico (duas pratas e dois bronzes entre os Jogos de Barcelona-1992, Atlanta-1996 e Sydney-2000), no entanto, ressalta que a Acad vem apenas auxiliando os donos de academia sobre os protocolos de segurança e jurídicos necessários para reabrir seus estabelecimentos e que a decisão deve partir das autoridades locais, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
“A decisão final não é nossa. A Acad Brasil não está sugerindo a reabertura das academias, nós nunca faríamos isso. Mas como há um decreto, as autoridades locais e os empresários devem tomar as decisões com base jurídica. Não queremos nos envolver em embates neste momento, mas ficamos, sim, gratos com o reconhecimento do presidente. Nosso foco é sempre garantir a saúde e segurança de todos os envolvidos.” Até o momento, apenas Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo e Mato Grosso já autorizaram o retorno das atividades, enquanto a maioria dos governadores se mostrou totalmente contrária ao decreto presidencial.
“Não fazemos negociações locais. O que temos feito é criar um manual de higienização com base nas melhores práticas ao redor do mundo, estamos sendo bem rigorosos em relação a isso. Nossa função é advogar a favor da atividade física e da melhoria da imunidade das pessoas. Já há academias abertas. Agora, em cidades como Manaus ou São Paulo, onde os casos seguem subindo e há poucos leitos de UTI, não tem como reabrir agora. Essa é uma situação muito específica de cada cidade, não dá para sair abrindo a torto e a direito. É preciso ter responsabilidade. Até porque não compensa financeiramente abrir a academia no meio da pandemia porque o aluno não vai voltar se não se sentir seguro”, completa Gustavo Borges.
Dono de duas academias em Curitiba e em São Paulo (ambas fechadas), Gustavo diz que ainda é cedo para calcular o tamanho do prejuízo ao setor causado pela pandemia. “Temos escutado casos de academias fechando, mas não temos dados concretos. De qualquer forma, é bastante preocupante, porque o empresário já vem de uma situação de dificuldade financeira, muitos deles não têm caixa para segurar essa crise e isso pode interferir. É o que acontece em diversos setores, comércio, indústria, serviços, todos os empresários estão em uma situação parecida de desespero e ansiedade.”
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