Luiz Henrique Mandetta, ex-Ministro da Saúde, conversou com exclusividade com o SportsCenter nesta quinta-feira e não se mostrou favorável à volta ao futebol no país. Ele chegou a comparar a situação brasileira com a da Alemanha, que deve ter o retorno da Bundesliga já no próximo final de semana. Para Mandetta, porém, o Brasil ainda está muito longe de chegar ao mesmo patamar.
“A Alemanha vai fazer um protocolo muito rígido. É um dos poucos países que tinha uma capacidade instalada. É um país que trabalha em seus hospitais com redundância: tudo que ela tem ativo, tem no depósito do hospital em dobro. Então, quando teve necessidade, expandiu a rede muito rapidamente. E tem profissionais muito bem formados”, explicou Mandetta.”O Brasil tem problemas de equipamentos de proteção individual, de respiradores e de profissionais de saúde. Então o que seria razoável administrarmos essas duas variáveis, velocidade de transmissão e vulnerabilidade do sistema. Melhorando a performance do sistema e controlando o máximo possível a transmissibilidade, a gente passaria por esse estresse.
De uma maneira mais lenta, mas passaríamos e com menos perdas”, comparou.”Ao meu ver, temos outras medidas mais importantes a fazer antes de falar de futebol. Acho que a gente estaria atropelando a história natural desse vírus. Não tem elementos para fazer essa decisão no momento. Estamos aumentando o número de casos. Seria decidir pelo retorno e logo na frente ter que suspender. Seria flertar com a possibilidade de uma quarentena mais rígida, de um lockdown, como se chama. Seria a possibilidade de colocar o futebol como um dos corresponsáveis de uma situação crítica para a sociedade. Não faria bem ao futebol. Acho que não tem elementos. Acho que a gente deve esperar um pouco mais e ver como isso vai se dar na Europa, onde já passou o pior da crise. Para que aí a gente possa passar da nossa crise e tomar as nossas decisões”, completou em outra resposta.
“Esse vírus gosta mesmo de ser desafiado, ele não negociou com ninguém. Não teve nenhuma pessoa, por mais poderosa e cheia de certezas, que o desafiou. Ele fez questão de derrubar sistemas, causou muito sofrimento. Estamos falando de uma doença nova, que derrubou o sistema de saúde da Itália, da Espanha, da França, da Inglaterra, de Nova York, de Chicago, da Califórnia, da Flórida… Não estamos falando de uma doença que seja passageira, leve”, disse.”Quando você quer acelerar a volta, você corre o risco de acelerar (a transmissão) em nome do esporte ou da economia. Essa aceleração pode levar a um quadro de transmissão desordenada que leva o espaço urbano ao que estão chamando de lockdown. E quando você determina isso, aí é uma coisa muito mais dura, é ficar em casa e sair no máximo 50m sob pena de multa ou prisão. É uma coisa impositiva, a força da lei vai te colocar dentro de casa. E quando a cidade tem que apelar para esse tipo de medida, a economia, o futebol, a cultura levam muito mais tempo para se recuperar”, completou.Mandetta foi o Ministro da Saúde do Brasil no começo da crise, mas deixou o cargo no meio de abril. A Pasta agora é comandada por Nelson Teich.
Segundo o msn, o esporte no Brasil – e em boa parte do mundo – está paralisado desde o meio de março.
Foto: Erasmo Salomão.