O presidente Luiz Inácio Lula da Silva discutirá com parte de sua equipe, nesta sexta-feira (24), medidas para diminuir os preços dos alimentos. Os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Rui Costa (Casa Civil), Esther Dweck (Gestão e Inovação em Serviços Públicos), Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar) devem participar do encontro.
A expectativa é que o presidente da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), Edegar Pretto, também esteja presente.
Rui Costa, Carlos Fávaro e Paulo Teixeira debateram o assunto nessa quinta-feira (22), sem Lula. A tendência é que os ministros ajustem os últimos pontos antes de anunciar quaisquer medidas sobre o assunto. No entanto, eventuais divulgações não devem ser feitas nesta sexta (24).
A alta dos preços dos alimentos tem acendido o alerta no governo nos últimos dias e passou a figurar no centro dos debates depois de quarta (22), após uma declaração de Rui Costa. Segundo o ministro, o governo federal buscava um “conjunto de intervenções que sinalizem para um barateamento dos alimentos”.
A fala gerou repercussão e questionamentos sobre o tipo de intervenção a ser tomada. A Casa Civil emitiu então uma nota para negar que o governo promoverá uma “intervenção de forma artificial”.
O órgão informou que “não está em discussão intervenção de forma artificial para reduzir preço dos alimentos. O governo discutirá com os ministérios e produtores de alimentos as medidas que poderão ser implementadas”, destacou, em comunicado, a assessoria da pasta.
Data de validade
Uma das formas de reduzir os preços, sugerida pela Abras (Associação Brasileira de Supermercados), seria mudar as regras e aumentar os prazos de validade dos alimentos — a chamada “best before” (expressão em inglês que indica o prazo máximo de consumo de um produto). Paulo Teixeira, contudo, negou haver qualquer discussão no governo federal sobre essas alterações. “Não, isso não está em cogitação”, declarou.
Pessoas próximas às negociações confirmam que o presidente chegou a receber essa proposta da Abras no fim do ano passado. Depois da fala de Rui Costa, a associação reforçou a sugestão.
No entanto, isso “nunca” foi tratado como uma possibilidade, porque já é rejeitado em outros países e não é da “cultura do brasileiro”. “Não vai ser o governo que vai vender comida vencida para baratear alimentos. Isso não comunica bem, o governo nunca ia adotar essa medida”, avaliam fontes.
Soluções em discussão
“É o presidente Lula que vai anunciar”, afirmou Teixeira, a respeito de eventuais anúncios sobre o tema. A RECORD apurou, no entanto, que o governo não deve apresentar medidas para conter o preço dos alimentos nesta sexta-feira, porque Lula ainda quer discutir o assunto com os setores envolvidos — principalmente supermercados, frigoríficos e agricultores —, como informou uma fonte do Palácio do Planalto.
Quando houver uma decisão, a tendência é que a apresentação não seja feita na forma de pacote. Em vez disso, devem ser anunciadas medidas pontuais consideradas mais efetivas para o momento. A avaliação é que a “medicação específica” leva em consideração fatores como a sazonalidade das safras — um alimento tido como caro pode baratear em alguns dias.
Segundo fontes ouvidas pela reportagem do R7, os principais quesitos considerados na discussão das medidas incluem não onerar o governo nem prejudicar os setores envolvidos.
Preços dos alimentos
O episódio ocorre em meio à inflação resistente dos alimentos — observada em 2024 e que deve persistir neste ano. Levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) revelou que alimentos e bebidas foram os itens que mais impactaram a inflação de dezembro, o que afetou mais as famílias de baixa renda. O aumento nos preços de carnes, ovos, óleo de soja e café pressionou o orçamento dos mais pobres.
Além disso, passagens de transporte público, incluindo trem e ônibus, também registraram alta. A análise do IPCA, que mede a inflação oficial do país, destaca como o crescimento dos preços é mais severo para quem ganha até R$ 5.304. Esse cenário força as famílias a revisar os gastos e exige que o governo considere medidas econômicas para controlar os aumentos.
Cobrança de Lula
Na reunião ministerial de segunda-feira (20), Lula cobrou os ministros da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário pela redução do preço dos alimentos. Segundo integrantes que participaram do encontro, Paulo Teixeira respondeu à reclamação dizendo que seu ministério tem um grupo com a Fazenda para discutir o tema.
O ministro informou que, até o fim do ano, deve ser feito um parecer sobre o assunto e proposta uma solução. Lula, porém, não se contentou com a resposta e disse que o governo precisa pensar em uma reação imediata e resolver logo a situação.
Foto: Marcelo Camargo.