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Governo promove nesta semana audiência para debater mudanças anunciadas pela Meta

O ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias, vai promover na próxima quarta-feira (22) uma audiência pública com órgãos governamentais, entidades da sociedade civil, especialistas, acadêmicos e representantes das agências de checagem de fatos. O encontro vai debater as mudanças propostas pela Meta na verificação de informações publicadas nas plataformas da empresa, que é dona do Facebook, Instagram e WhatsApp. A reunião também deve discutir a resposta do governo para o tema.

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O objetivo do encontro é debater os eventuais impactos da decisão da Meta no Brasil, assim como outras políticas que serão implementadas pela empresa, mesmo fora do país.

Após a audiência, há a possibilidade de a AGU tomar outras providências, como acionar o STF (Supremo Tribunal Federal) para pedir alguma medida contra a Meta. Um dos pontos que causa mais preocupação para o governo brasileiro é a alteração e adoção, no Brasil, da “política de conduta de ódio” (leia mais abaixo), que segundo a AGU “pode representar terreno fértil para violação da legislação e de preceitos constitucionais que protegem direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros”.

A avaliação é de que os atuais termos de uso das plataformas não estão adequados à legislação brasileira e não são suficientes para proteção dos direitos fundamentais de cidadania. A audiência, então, deve discutir também o dever de cuidado das redes sociais, os riscos da substituição do programa de checagem e medidas para assegurar o cumprimento das leis nacionais.

Questionada pelo R7, a Meta afirmou que não vai se pronunciar.

Suspensão das redes sociais no Brasil?

Com o debate entre a Meta e o Executivo, usuários das redes sociais levantaram a hipótese de uma eventual suspensão das redes sociais no país, a exemplo do que ocorreu com o X, em 2024. A rede social ficou bloqueada de 31 de agosto a 8 de outubro por não cumprir a determinação de indicar um representante legal em solo nacional.

O especialista em direito digital e direito da personalidade Kevin de Sousa afirma que não há, por enquanto, “base concreta que sustente uma eventual suspensão de serviços da Meta no Brasil”, visto que a maioria das mudanças só vão valer nos Estados Unidos. “É importante destacar que as mudanças mencionadas pela Meta, como a substituição do programa de verificação dos fatos e Notas da Comunidade, pela resposta que eles deram, estão exclusivamente limitadas aos Estados Unidos, e não afeta a governança dentro do território brasileiro”, argumenta.

Souza destaca que o Supremo Tribunal Federal vem discutindo o Marco Civil da Internet, mais especificamente o artigo 19, que impõe condição para a responsabilização civil de provedor de internet e gestores de aplicativos por danos recorrentes de atos ilícitos de terceiros. O tema ainda não teve um desfecho, e qualquer suspensão de serviços se mostra algo inexistente, segundo o especialista.

“Na minha análise, não há fundamento jurídico que sustente essa medida, que, a meu ver, é extrema, de suspensão de serviços da Meta no Brasil. E qualquer decisão nesse sentido, sem que haja um descumprimento efetivo da legislação, ainda que haja uma eventual audiência pública para tratar sobre o tema, é algo que é suscetível de contestação jurídica, uma vez que não se tem nenhum prejuízo prático dentro do território nacional.”

Entenda

Em 7 de janeiro, o empresário Mark Zuckerberg anunciou as mudanças na empresa. As alterações previstas para as plataformas passam por novas políticas ligadas à checagem de fatos e buscam flexibilizar a moderação de conteúdo. Nem todas as regras serão aplicadas no Brasil, conforme reiterou a Meta, mas são novas diretrizes que podem trazer riscos ao espaço digital, pela avaliação de especialistas.

Zuckerberg deseja inserir nas plataformas as “notas da comunidade”, a exemplo de como é feito no X. Hoje, agências e empresas de checagem fazem a análise de informações publicadas nas plataformas. O executivo também informou que Facebook, Instagram e Threads vão voltar a permitir a recomendação de conteúdos relacionados a temas políticos. O CEO destacou que as alterações vão entrar em vigor gradualmente.

O serviço de checagem de fatos ocorre desde 2016 e é realizado por jornalistas e especialistas em cerca de 115 países. O processo apura se a informação que circula na plataforma é verdadeira ou falsa e oferece a contextualização ao usuário. Nos últimos dias, a companhia anunciou uma série de mudanças, vista como alinhamento da política da empresa à agenda do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que é contra a política de checagem de fatos e a regulamentação das mídias.

Em seguida, a Meta liberou a possibilidade de ofensas preconceituosas nas plataformas. Partes do documento da companhia norte-americana permitem que se faça no Facebook, Instagram, WhatsApp e Threads — desde que de “forma satírica” — a livre associação de homossexuais e transgêneros a termos como “esquisitos”. Esse trecho aparece na versão brasileira também.

Diante do cenário, o governo acionou a Meta para saber se as mudanças seriam adotadas no Brasil. Em resposta, a empresa de Zuckerberg informou que as alterações visam “diminuir o exagero na aplicação de nossas políticas e reduzir erros”, e que alterações ligadas à moderação de conteúdos ficarão por ora restritas aos Estados Unidos — sem modificar a forma de funcionamento no Brasil.

A posição de resposta à AGU foi mais branda do que anunciado inicialmente por Zuckerberg, mas também traz impactos ao ambiente digital. No Brasil, passou a valer uma nova política na restrição de conteúdos: parte das publicações que ferem os termos de uso não será mais removida imediatamente, como antes acontecia. O tema, então, virou embate entre a Meta e o Executivo.

Foto: Reprodução Google.

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