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‘Dark web da intriga’: Como brigas e polêmicas ajudam famosos a faturar com publis nas redes

No dia 2 de julho, Deolane Bezerra abriu uma transmissão ao vivo no Instagram para desmentir boatos de um romance com Fiuk. Na live, a advogada e influenciadora chamou o cantor de “sonso”, o acusou de tentar agarrá-la durante uma viagem e de usar a história falsa para tentar se promover.

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Antes da desavença, os dois mantinham uma proximidade, que, segundo a influenciadora, “era [para gerar] conteúdo, uma brincadeira”. “Quando eu vi que estava passando dos limites, quis parar. Eu achei que ficaria tudo bem. Não pensei que depois ele ia ficar remoendo”, disse ela, em declarações que no dia seguinte foram rebatidas pelo próprio Fiuk.

No mesmo dia, no mesmo cenário e com a mesma roupa da transmissão, Deolane apareceu nos stories do Instagram fazendo propaganda de uma plataforma de jogos de slots, um tipo de caça-níquel. Nesse jogo, os resultados são definidos de forma aleatória e o prêmio depende só da sorte. Os apostadores podem ganhar, mas, normalmente, a maior chance é de perder (semelhante ao que acontece, por exemplo, numa loteria).

Cacau Oliver, assessor de imprensa conhecido como “criador de subcelebridades”, analisa a sequência de posts:

“É um pouco como a lógica da televisão. Tem a cena forte da novela e, em seguida, o intervalo comercial.”

Há quase 20 anos no ramo, Cacau ajudou a projetar nomes como Andressa Urach e Peladona de Congonhas. O assessor ainda apresentou ao Brasil uma ampla gama de vencedoras do concurso Miss Bumbum.

Ao g1, ele explica que, na dinâmica de quem ganha dinheiro com as redes sociais, a palavra-chave é engajamento — as visualizações e interações geradas por determinado post. “Alguns influenciadores têm usado brigas e casos polêmicos para alavancar essas métricas.”

Não é que as situações sejam necessariamente forjadas, afirma ele. “Tem de tudo: tem gente que briga mesmo, tem gente que combina de brigar… é tipo uma dark web da intriga.”

O fato é que, hoje, “não há nada melhor para criar engajamento na internet do que esse tipo de polêmica, principalmente quando elas vão parar nas páginas de fofoca, que divulgam o post”.

Valores inflados

Na semana da live sobre a treta com Fiuk, Deolane ganhou cerca de 14,5 mil seguidores no Instagram, de acordo com o site Social Blade, que monitora dados públicos de redes sociais. Procurada pelo g1 para comentar o caso por meio de sua assessoria de imprensa, a influenciadora não retornou o contato.

A busca por visibilidade e engajamento não é novidade na indústria de celebridades da internet. O fator novo, segundo quem trabalha nessa área, é a chegada das empresas de apostas e jogos on-line nesse mercado. Elas inflaram os valores pagos a influenciadores por publicidades nas redes sociais.

“É o que está dando mais dinheiro hoje. Os valores são mais altos e mais dinâmicos”, diz Fabiano de Abreu, dono de uma empresa que gerencia a carreira e cuida da assessoria de imprensa de celebridades, influenciadores e outras personalidades.

“As pessoas nos contratam para ficar conhecidas e para ganhar dinheiro, e querem para ontem um resultado que geralmente acontece de forma gradativa.”

De acordo com Cacau Oliver, alguns dos maiores influenciadores que promovem sites de apostas e cassinos on-line chegam a faturar entre R$ 300 mil e R$ 500 mil por mês, só com esse tipo de negócio.

“Essas empresas pagam mais dinheiro, então querem mais resultado. É importante que essas personalidades contratadas estejam sempre mostrando grandes números. Isso mexe com o mercado.”

Vida exposta

A musa fitness Gracyanne Barbosa é garota-propaganda de um site que reúne apostas esportivas, cassino on-line e jogos de slots.

Nos stories do Instagram, ela intercala publicidades da empresa com dicas de exercícios, alimentação e relatos da vida pessoal. Nos últimos meses, Gracyanne tem virado notícia ao postar, por exemplo, indiretas e desabafos sobre sua separação do cantor Belo. Em abril deste ano, os dois anunciaram o fim do relacionamento de 15 anos.

Ao g1, a influenciadora afirma que “jamais” usaria episódios de sua vida pessoal de forma estratégica, para alavancar as publis.

“Meu relacionamento com meus seguidores é algo que mantenho há muitos anos e, quando resolvo falar sobre a minha vida privada nas minhas redes sociais, é em respeito a todas essas pessoas que me acompanham há tanto tempo, torcem pela minha felicidade e merecem ser respondidas”, diz Gracyanne.

Ela acrescenta que, se tivesse essa opção, se manteria discreta sobre a vida privada nas redes sociais.

“Como pessoa pública, tenho minha vida exposta, querendo ou não.”

“Polêmica sempre teve. Mas, se você tiver um olhar crítico para as redes sociais, vai ver que elas aumentaram”, avalia o assessor Cacau Oliver. “Do micro influenciador ao grande, está todo mundo ganhando dinheiro com isso nesse mercado.”

Em junho, em meio a um desentendimento nas redes sociais, a ex-participante do reality show “A Fazenda” Bia Miranda chegou a acusar a mãe, Jenny Miranda, de usar seu nome e de seu filho recém-nascido para ganhar visualizações nas redes e divulgar jogos on-line. Jenny havia postado nos stories um vídeo em que, chorando, alegava ter sido proibida de acompanhar o parto da filha.

“Fica usando o meu nome e o nome do meu filho para, depois, no mesmo vídeo, falar sobre jogo de plataforma”, retrucou Bia, nos comentários de uma página de fofoca no Instagram. “Deixa minha gravidez e não toca no nome do Kaleb nunca mais, meto um processo em você”, escreveu.

Em sua página do Instagram, a própria Bia também promove plataformas de cassino on-line nos stories.

Foto: Reprodução Google.

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