Entre 1985 e 2023, um total de 199 milhões de hectares foram consumidos pelo fogo, afetando 68% da vegetação nativa. Esta área queimada equivale a 23% de toda extensão do Brasil e supera o território de países como o México. Os dados são da terceira coleção do MapBiomas Fogo, compilados e coordenados por pesquisadores do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia).
Em 2023, foram queimados 16,2 milhões de hectares, dos quais 11,6 milhões em áreas de vegetação nativa, representando cerca de 71% do total. O restante, 4,6 milhões de hectares, foi em áreas de uso antrópico, o equivalente a 29%. No ano passado, as formações savânicas e áreas de pastagem foram as categorias mais afetadas pelo fogo, totalizando juntas 7,7 milhões de hectares.
“A prática de queimadas ainda é amplamente utilizada na agropecuária brasileira. Muitas pastagens são renovadas pelo fogo, enquanto as queimadas facilitam a conversão de áreas desmatadas em terras agrícolas ou pastagens. No entanto, quando essas queimadas extrapolam os limites desejados, podem resultar em incêndios devastadores, um cenário cada vez mais comum devido às mudanças climáticas”, destaca Ane Alencar, diretora de Ciência do Ipam.
Ao longo dos últimos 39 anos, 68,4% das queimadas atingiram áreas de vegetação nativa, totalizando aproximadamente 136 milhões de hectares. As formações savânicas do Cerrado foram as mais afetadas devido à composição predominante de gramíneas e arbustos esparsos, que são mais suscetíveis ao fogo. As áreas de uso antrópico, modificadas pela atividade humana, concentraram os outros 31,6% das queimadas, abrangendo cerca de 62,9 milhões de hectares, com 50 milhões somente em áreas de pastagem.
Maiores biomas brasileiros
De acordo com o R7, a Amazônia e o Cerrado juntos concentraram 86% da área queimada nos últimos 39 anos. Estes dois maiores biomas brasileiros, que cobrem conjuntamente 73% do país, registraram cerca de 171 milhões de hectares queimados neste período, uma área maior do que a totalidade do estado do Amazonas ou três vezes a área da França.
No Cerrado, que concentrou 44% da área queimada, a média anual foi de 9,5 milhões de hectares afetados, enquanto na Amazônia, que representou 42% da área queimada, foram queimados em média 7,1 milhões de hectares por ano.
“As mudanças climáticas desempenham um papel crucial na intensificação das áreas queimadas no Cerrado e na Amazônia. O aumento das temperaturas e as alterações nos padrões de precipitação tornam esses biomas mais vulneráveis ao fogo. No Cerrado, o regime natural de queimadas está sendo drasticamente alterado por secas prolongadas e altas temperaturas, exacerbadas pelo uso indiscriminado do fogo. Isso aumenta a frequência e a severidade dos incêndios, colocando em risco a biodiversidade e a integridade do ecossistema”, destaca Vera Arruda, pesquisadora do Ipam.
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