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MP emite parecer contra soltura de motorista do Porsche; órgão pede que ele aguarde julgamento preso

Um dia após a defesa de Fernando Sastre de Andrade Filho pedir a revogação da medida liminar que determinou a prisão do empresário, motorista de Porsche que se envolveu em um acidente que matou um homem a mais de 100 quilômetros por hora em São Paulo, o Ministério Público de São Paulo se posicionou contra o pedido feito pelos advogados de defesa.

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Em documento assinado nesta terça-feira (21), mas protocolado nesta quarta (22), o MP cita que as provas já mostradas no processo são suficientes para a prisão preventiva de Fernando, que atualmente está detido na P2 em Tremembé, no interior de São Paulo.

Além disso, o Ministério Público também cita no documento que Fernando teria participado de rachas no Centro de São Paulo e que, solto, pode colocar em risco a vida de outras pessoas.

“É nítido, portanto, que, caso mantido em liberdade, o requerido [Fernando] poderá colocar outras pessoas em risco, por meio da continuidade de condutas ilegais que já vem adotando, historicamente, em várias oportunidades”, diz trecho do documento.

O órgão também cita que, em liberdade, Fernando pode influenciar nos depoimentos de testemunhas que ainda serão ouvidas no processo.

“É necessário, portanto, acautelar as provas do processo, para que o requerido não possa seguir interferindo no depoimento das testemunhas que ainda serão ouvidas sob o crivo do contraditório, em juízo”, alega a promotora de Justiça, Bruna Ribeiro Dourado Varejão.

O g1 acionou o Ministério Público de SP e tenta contato com a defesa de Fernando Sastre, mas, até a publicação desta reportagem, não obteve retorno. A reportagem será atualizada caso eles se manifestem.

Pedido de liberdade

Em documento protocolado nesta segunda-feira (20), a defesa de Fernando Sastre pediu a liberdade do acusado e diz que a liminar que concedeu a prisão preventiva de Sastre “vai muito além dos pedidos e dos argumentos do parquet” e citou ainda que a liminar “se mostra um tanto influenciada pela massiva campanha midiática pela responsabilização do rapaz da Porsche’”.

“É indisfarçável que ela se assenta unicamente na pressão da mídia, pois a prova quem traz é a mídia (sem possibilidade ainda de contraditório), o laudo da velocidade é mostrado todo dia na mídia (ainda sem possibilidade de contraditório), o fato da camiseta sem ou com sangue e doas contradições entre depoimentos são matéria de mérito e, antes do contraditório judicial, não se prestam para avaliar ou subsidiar se uma decisão é teratológica ou manifestamente ilegal”, diz a defesa.

Ainda no documento, os advogados de defesa apontam que Fernando está “profundamente abalado com o acidente” e que ele não tem mantido contato com ninguém, apenas com advogados e familiares.

A defesa alega que os vazamentos da investigação colocam Fernando “em situação de extremo risco na rua, sem falar do linchamento moral”, citando ainda os comentários feitos nas redes sociais sobre o caso.

O pedido fala ainda que as imagens da câmera corporal da policial que atendeu a ocorrência não mostram Fernando “em péssimas condições, nem alcoolizado, nem cambaleante, nem com dificuldade de parar em pé e nem com voz pastosa”, mas alega que ele estava “apenas atordoado pelo impacto no acidente”.

Prisão

Fernando Sastre Filho foi preso no dia 6 de maio ao se entregar à polícia após a decretação da prisão dele pela Justiça. Antes ficou três dias foragido sendo procurado.

Ele é réu no processo no qual é acusado pelos crimes de homicídio por dolo eventual (por ter assumido o risco de matar o motorista de aplicativo Ornaldo da Silva Viana) e lesão corporal gravíssima (feriu o amigo Marcus Vinicius Machado Rocha).

Fernando estava a 114,8 km/h quando bateu na traseira do Renault Sandero de Ornaldo, segundo laudo pericial da Polícia Técnico-Científica. Marcus ocupava o banco do passageiro do carro de luxo. O limite de velocidade para a via é de 50 km/h.

O acidente ocorreu no dia 31 de março na Avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé. Câmeras de segurança gravaram a batida.

Em seu interrogatório, o motorista do Porsche negou ter bebido. A Polícia Militar (PM), que atendeu a ocorrência liberou Fernando sem fazer o teste do bafômetro nele. A Corregedoria da PM apura a conduta dos agentes que erraram na abordagem.

Se Fernando for condenado, a pena dele poderá chegar a mais de 20 anos de prisão.

Vídeo mostra Sastre com voz pastosa

Um vídeo – obtido pelo g1 – mostra o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho dentro do Porsche Carrera azul dizendo “vamos jogar sinuca” com voz pastosa para a namorada e um casal de amigos, ao sair de uma casa de pôquer, 13 minutos antes de causar o acidente.

Além de Fernando, quem aparece no vídeo é a estudante Giovanna Pinheiro da Silva, namorada dele. Quem filma a cena é Juliana de Toledo Simões, namorada de Marcus. Os dois também são estudantes e amigos de Fernando e Giovanna.

Fernando está com a mesma camiseta branca com a inscrição “Only Porsche” que ele usava no vídeo feito a partir das câmeras dos PMs que o abordaram logo após a batida.

No novo vídeo obtido pelo g1, Fernando aparece dentro do carro, com a porta aberta, enquanto conversa com Giovanna e Juliana Elas perguntam para onde ele irá. Ele responde com voz pastosa que vai jogar sinuca. Juliana reforça a pergunta e depois de ele responder, de novo, que vai jogar sinuca, eles riem. Ao final, a namorada se nega a entrar no carro com ele. O vídeo tem 10 segundos.

A reportagem apurou que a filmagem entre os amigos foi incluída no processo do caso que apura as causas e eventuais responsabilidades pelo acidente. Confira abaixo a conversa que aparece no vídeo:

Giovanna – Quer apanhar?
Fernando – Vamo jogar sinuca…
Juliana – Vamo o que, Fernando?
Fernando – Vamos jogar sinuca.
(Risadas)
Fernando – Vai…
Giovanna – Eu não! Cê vai sozinho, tchau. Eu vou embora com eles…

Por outras imagens de câmera de segurança, Fernando bateu a porta do carro por volta das 2h16. O acidente ocorreu às 2h29, portanto, 13 minutos depois.

Convivência com outros presos

Neste domingo (19), Fernando Sastre deixou o isolamento na Penitenciária 2 de Tremembé (SP). Agora, ele passa a dividir a cela com outro detento na unidade.

A penitenciária onde ele está é conhecida por abrigar presos em casos de grande repercussão, como o ex-jogador Robinho.

Ele foi transferido para a P2 de Tremembé no dia 11 de maio e já chegou na unidade com o cabelo raspado. Em procedimento padrão da unidade prisional, Fernando ficou isolado dos outros presos desde que chegou na unidade de Tremembé.

Inicialmente, ele foi colocado sozinho em uma cela de cerca de oito metros quadrados, onde passou pelo período de inclusão, que durou 10 dias e foi concluído neste domingo. Durante os dias de adaptação, todas as atividades foram isoladas, como, por exemplo, o banho de sol.

Além da mudança de cela, Fernando também pode começar a receber visitas da família, o que não era possível durante o período de isolamento. Antes de ser transferido, Sastre estava no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarulhos 2.

Foto: Reprodução Google.

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