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Qual a diferença entre compulsão alimentar e comer emocional; transtorno foi relatado por Yasmin Brunet no ‘BBB 24’

A modelo Yasmin Brunet, participante do BBB 24, revelou no programa que sofre de “questões alimentares” e, por estar ansiosa, tem descontado na comida.

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Esse comportamento de compulsão alimentar, classificado como um transtorno alimentar, faz com que a pessoa coma em grandes quantidades.

Os motivos que desencadeiam um transtorno variam e incluem ansiedade, tentativa de atender a um certo padrão estético ou dietas alimentares com muitas restrições.

No vídeo do seu raio x na manhã de terça-feira (16), a BBB contou que já teve “questões alimentares” e que, no confinamento, tem comido de forma compulsiva.

“Estou totalmente descompensada na alimentação, eu estou muito ansiosa. Eu já tive questões alimentares. Então, eu estou depositando tudo na comida, o que eu pensei que poderia ser assim, mas achei que não seria tão intenso quanto está sendo. Quem tem questões alimentares vai entender isso, você se sente vazio e cheio ao mesmo tempo. E parece que o único momento em que eu não penso, que eu não fico ansiosa é o momento que eu como, mas, logo em seguida, já vem de novo”, disse Yasmin.

Cobranças dentro da casa

Apesar do corpo escultural de modelo, Yasmin, que já esteve em passarelas e nas avenidas do Carnaval, continua sendo muito cobrada pela sua aparência física.

Ela já vinha falando sobre a sua compulsão alimentar e dificuldade na relação com a comida, o que levantou debates acerca da pressão estética, que recai, principalmente, em cima das mulheres.

E, segundo especialistas, justamente essa pressão toda pode servir de gatilho para os transtornos. No programa, Yasmin tem passado por isso.

O corpo da modelo foi motivo de uma conversa entre outros participantes da casa. Um deles, chamado Rodriguinho, tem feito comentários seguidos sobre o fato de ela beliscar comida e chegou a dizer que ela corre o risco de sair “rolando”.

Em um dos diálogos, a modelo o alertou que essas cobranças a estavam incomodando e só serviriam de gatilho para a compulsão dela. Confira abaixo:

Yasmin: “Car*lho, me deixa em paz.”

Rodriguinho: “Tá bom, não vou falar nada, você vai ver. Não vem querer que eu ‘enfeie’ junto não. Se você vier falando meu nome e com discurso de ‘tô com compulsão’, só vou ficar olhando pra sua cara.”

Yasmin: “Mas eu estou. Você ficar falando da minha compulsão vai me dar gatilho, cac*te.”

A modelo faz parte de um grupo numeroso: no mundo, mais de 70 milhões de pessoas são afetadas por transtornos alimentares, segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria.

O g1 conversou com especialistas que explicam a diferença entre compulsão alimentar x comer emocional, o papel da pressão estética nos transtornos alimentares e quais são os sinais de que é preciso ajuda com a relação com a comida.

Compulsão alimentar x comer emocional

A compulsão alimentar pode ser um episódio esporádico ou pode ser um transtorno de compulsão alimentar.

Segundo a nutricionista comportamental Renata Farrielo, especializada em transtornos alimentares, um episódio de compulsão alimentar é caracterizado pela ingestão de um volume muito maior do que outra pessoa comeria naquela mesma situação, com uma sensação de perda de controle.

Normalmente (mas não sempre), a pessoa come em uma velocidade muito grande. Ou seja, come volume grande de comida num curto espaço de tempo.

Depois, a pessoa fica com uma sensação muito negativa depois.

É comum pacientes relatarem se sentirem sujos, errados e com sentimentos muito ruins, além do desconforto físico pelo grande volume de comida.
— Renata Farrielo, nutricionista comportamental

A compulsão alimentar é diferente do que os especialistas definem como comer emocional. Isso acontece quando em uma festa, evento ou ocasião se come mais do que, normalmente, se comeria. Exemplo: em vez de comer dois brigadeiros, a pessoa come seis. A compulsão se define pelo impulso descontrolado e repetitivo.

Nem todo mundo que tem compulsão tem um transtorno de compulsão alimentar. Os critérios clínicos para o diagnóstico do transtorno são:

-A compulsão alimentar ocorre, em média, pelo menos 1 vez por semana por 3 meses;
-Os pacientes têm sensação de falta de controle em relação à alimentação;

Além disso, também devem estar presentes ao menos 3 fatores:

-Comer muito mais rápido do que o normal;
-Comer até se sentir desconfortavelmente cheio;
-Comer grandes quantidades de alimento mesmo não sentindo fome;
-Comer sozinho por vergonha;
-Sentir-se nauseado, deprimido ou culpado depois de comer excessivamente.

Outros dois transtornos alimentares bem comuns são:

-Anorexia nervosa: a pessoa não se alimenta ou restringe a alimentação para forçar uma perda de peso.
-Bulimia nervosa: a pessoa tem episódios de compulsão (come uma quantidade alta de alimentos em um curto espaço de tempo) e depois vomita, faz uso de laxantes ou exercício físico em excesso para evitar o ganho de peso.

Alerta: É importante buscar ajuda se a pessoa perceber que tem sofrimento com quaisquer comportamentos acima, se tem pensamentos negativos e a sensação de não conseguir parar de comer. O acompanhamento é multiprofisisional, com nutricionista, psiquiatra e psicólogo.

Gatilhos podem levar a transtorno alimentar

Uma vida de dietas, com alimentos proibidos ou muitas regras sobre o que, quando e quanto se pode comer, pode expor a pessoa a um stress que serve de gatilho para o transtorno alimentar.

Costumo dizer que nem toda dieta leva a um transtorno alimentar, mas todo transtorno alimentar começa com uma dieta. A pessoa engajada em uma dieta restritiva tem quadros de ansiedade agravados, distorce sua autoimagem e prejudica sua vida social.
— Fábio Salzano, psiquiatra e coordenador do Programa de Transtornos Alimentares (Ambulim) da USP

O médico afirma que a compulsão alimentar é comum, mas é um transtorno “marginalizado”.

Isso porque a maioria dos pacientes com a doença é obeso. Com isso, o excesso de peso é associado a falta de vontade e desleixo — o que não é fato.

Segundo ele, não é todo mundo que vai desenvolver um transtorno alimentar. No entanto, há outros efeitos colaterais de uma vida com restrições que também precisam de acompanhamento. O psiquiatra cita alguns:

-Culpa de comer: já se viu justificando por comer um brigadeiro em uma festa?

-Compensação com exercícios: depois de uma alimentação fora da dieta, recorrer a exercícios físicos logo em seguida ou um treino exagerado no dia seguinte. Ou até mesmo jejum.

-Medo de certos alimentos: se proibir de comer algum tipo de alimento. O mais comum são pessoas que retiram o açúcar do dia a dia.

-Problemas de autoestima: não conseguir manter a dieta é frustrante e as tentativas recorrentes podem levar a pessoa a se culpar e distorcer a autoestima.

“As pessoas fazem dieta para o verão, para o carnaval, para o fim de ano. É uma obsessão pelo peso sem se perguntar o porquê querem emagrecer. A resposta é porque se baseiam em um ideal de corpo que está na TV, nas redes sociais. Viver de dieta não é só desgastante, mas adoecedor”, diz o psiquiatra.

Importante: as dietas auxiliam como tratamento no caso de pessoas com restrição de determinados alimentos por questões de saúde como diabetes, doença renal crônica, insuficiência do pâncreas e alergias.

No caso da obesidade, essa é uma doença multifatorial, que não tem relação apenas com uma ingestão menor de alimentos, mas com fatores genéticos, ambientais e outras condições de saúde.

Pressão estética adoece mulheres

Yasmin tem uma extensa carreira como modelo: desde a infância está em campanhas e sob holofotes. Com isso, seu corpo sempre esteve em exposição.

Hoje, aos 35 anos, em uma rápida consulta na internet, é possível fazer uma comparação de seu corpo de antes com o de agora — o que também foi alvo de comentários recentes dentro e fora da casa.

Essa pressão recai principalmente sobre as mulheres e desencadeia, além de transtornos alimentares, problemas como distorção de autoimagem, depressão e ansiedade.

A mulher está presa à manutenção do corpo assim como ela esteve historicamente presa à maternidade e ao casamento. E esse padrão é uma prisão. Uma estrutura de controle já que não podemos, socialmente, estar engajadas em outros projetos que não o da beleza.
— Joana Novaes, psicanalista e coordenadora do núcleo de Doenças da Beleza da PUC-Rio

A idealização de corpos e a questão estética vieram antes da internet e das redes sociais, só que nunca antes estivemos expostos a tantas imagens de corpos perfeitos.

Nos anos 60, Marilyn Monroe, com seu corpo curvilíneo de pernas grossas, era um símbolo de beleza. Nos anos 80 e 90, esse padrão se perdeu para um modelo mais magro, como de Cindy Crawford e depois Kate Moss – que representava o estilo heroin chic, que classificava como auge de beleza o corpo magro, com ossos expostos, como os de usuários de heroína.

Ou seja, a trajetória de modelos de corpos a serem seguidos não é linear e fica impossível de acompanhar.

Na tentativa de responder à expectativa, mulheres sucumbem ao risco de uso de medicamentos, chips turbinados com a promessa de emagrecimento, rotinas exaustivas de exercício e dietas restritivas.

Dietas restritivas e os transtornos alimentares

Se antes a fixação era contar calorias, o modismo on-line agora é proibir uma série de alimentos que fazem parte do cotidiano e da cultura alimentar brasileira.

Jejum intermitente, low carb, paleolítica, Dukan, sem glúten ou sem lactose são algumas das dietas associadas ao emagrecimento e que ganham atenção nas redes sociais.

Todas têm um mesmo ponto em comum: a restrição de determinados tipos de alimentos, como chocolate, bolo, pizza, brigadeiro ao pão, arroz e até frutas.

On-line, o discurso da saúde colocou um verniz em cima de obsessões alimentares. Pessoas que deixam de comer determinados alimentos, embarcadas em modismos. E fazem isso pela obsessão de estar no corpo do outro, por essa superexposição a padrões.
— Marina Nogueira, nutricionista e influenciadora no projeto Não Conto Calorias

Há várias pesquisas que relacionam dietas restritivas a compulsão e transtorno alimentar:

Uma pesquisa do departamento de psiquiatria da Universidade de Melbourne, na Austrália, analisou 2,2 mil adolescentes. Do grupo, 42% das meninas faziam dieta e para os meninos o índice era de 12%. Segundo a análise, a exposição dessas pessoas à dieta e restrição alimentar (como reduzir a ingestão de carboidratos, contar calorias e pular refeições) aumentou em 18 vezes a chance de desenvolver um transtorno alimentar.

Um estudo publicado em 2022 feito pelo departamento de Saúde Mental Comunitária, da Universidade de Haifa, em Israel, apontou a relação entre a restrição alimentar e desejo por comida e emoções negativas. A pesquisa observou 123 pacientes e percebeu que quanto mais exposta a restrição, mais sujeita a pessoa estava a sentimentos como desejo por comida, fome, emoções negativas.

Foto: Reprodução Google.

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