Quem é mais afetado pelas mudanças climáticas na opinião dos brasileiros? A resposta de uma parcela significativa dos entrevistados na pesquisa “Justiça Climática”, realizada pela Globo, mostra que a população está preocupada, mas ainda não compreende totalmente os impactos do aquecimento global.
Para 38% dos entrevistados, a crise do clima afeta “todas as pessoas da mesma forma”.
“Este dado (38%) retrata também a falta de entendimento sobre o que é ‘justiça climática’ e como os impactos são sentidos de maneiras diferentes pela população”, aponta a análise da pesquisa.
A resposta foi a 2ª mais mencionada, ficando atrás dos 49% que indicaram que as “pessoas mais pobres” são as mais afetadas, segundo os dados do levantamento disponível na Plataforma Gente, hub de pesquisas e insights da Globo.
Ao mesmo tempo, 64% dos entrevistados nunca ouviram falar do termo ‘justiça climática’.
O que é “justiça climática”:
-É a busca por igualdade e equidade na luta contra os efeitos da mudança climática e seus efeitos;
-A busca parte da constatação de que os efeitos das mudanças climáticas não são distribuídos de maneira igualitária entre as pessoas e as nações;
-São mais afetados pela crise do clima as comunidades mais vulneráveis, como povos indígenas, comunidades de baixa renda, mulheres e países em desenvolvimento;
-A “justiça climática” também busca reparação histórica, exigindo que os países desenvolvidos assumam responsabilidades maiores na redução das emissões e na ajuda aos países mais afetados.
Por isso, falar de “justiça climática” é falar também de racismo ambiental, pobreza energética, pobreza menstrual, refugiados climáticos, insegurança alimentar, demarcação de terras e regeneração, entre tantos outros temas.
Para a ativista climática Gabriela Alves, que também é cientista social e co-fundadora do Instituto Perifa Sustentável, é preciso aproximar o tema dos brasileiros.
“Existe no imaginário popular que mudanças climáticas são o derretimento das geleiras, a morte dos ursos polares. Agora o que isso tem a ver comigo que moro na Rua 13 no Jardim Damasceno? ‘Territorializar’ esse debate é um desafio educacional e cultural”, afirma Gabriela.
Outra das questões da pesquisa foi “Qual a principal imagem que vem à mente sobre mudanças climáticas?”. As respostas indicam que, para os brasileiros, o impacto dos eventos extremos do clima já começa a deixar marcos de como a crise afeta o dia a dia.
Qual a principal imagem que vem à mente sobre mudanças climáticas?
-Enchentes – 69%
-Queimada – 52%
-Seca – 48%
-Fome – 47%
-Geleiras derretendo – 43%
Em eventos recentes, diferentes cidades do Brasil viram os efeitos de chuvas torrenciais causarem prejuízos graves e mortes (como ocorreu em São Sebastião e Petrópolis, por exemplo), e além disso, a urbanização precária nas grandes cidades contribui para alagamentos e enchentes em períodos do verão.
Seja por resultado do contato cotidiano ou pelo debate do tema, um levantamento (Vida Saudável e Sustentável 2022) realizado por Akatu e Globe Scan indicou que os brasileiros encaram com mais seriedade os problemas apontados do que a média da população mundial.
-Pobreza extrema no mundo: 90% dos brasileiros consideram muito séria, contra 63% dos demais entrevistados de outros países;
-Perda de espécies de animais e plantas: 81% dos brasileiros consideram muito séria, contra 57% dos demais entrevistados de outros países;
-Violações dos direitos humanos: 77% dos brasileiros consideram muito séria, contra 58% dos demais entrevistados de outros países.
Outro recorte realizado para a pesquisa da Globo foi o papel das mídias como agente dessa conscientização. Cenário em que as pautas ambientais têm potencial de ser território de diálogo e ponto em comum, além de grande oportunidade para empresas de mídia trazerem mais letramento e soluções propositivas de futuro.
Na pesquisa, houve um questionamento em torno das possíveis ações que as empresas de mídias podem oferecer. Para 55%, elas podem criar campanhas que falem sobre ‘Justiça Climática’, 49% afirmam que há possibilidade de investir financeiramente em projetos efetivos em áreas de vulnerabilidade climática e 42% acreditam no poder do jornalismo em produzir reportagens sobre como a ‘Justiça Climática’ está presente em nosso dia a dia.
A pesquisa contou com a parceria da ONG La Clima, uma associação de advogados de mudanças climáticas na América Latina, bem como escutou especialistas e ativistas das causas sociais e ambientais entre 25 e 35 anos, que fazem parte de uma geração herdeira das mudanças climáticas no mundo. Trouxe também o papel dos povos indígenas na construção de futuros desejáveis como guardiões das florestas e protetores da biodiversidade no Brasil e no mundo.
Termos para entender a crise climática
A pesquisa não detalhou o entendimento das pessoas sobre termos, mas apontou a necessidade de promover o debate do tema. Por isso, o g1 explica abaixo algumas das palavras que costumam ser usadas dentro do assunto:
Racismo ambiental
A definição feita pela Universidade de São Paulo é: “processo de discriminação que populações periferizadas ou compostas de minorias étnicas sofrem através da degradação ambiental”. Ou seja, todos os grupos que são historicamente marginalizados são os mais afetados pela degradação ambiental, uma vez que faltam políticas públicas voltadas para essa população.
Pobreza energética
É quando não há acesso aos recursos básicos de energia. Segundo o ministro de Ministério de Minas e Energia, Alexandre Silveira, o setor precisa garantir o acesso à energia a toda população, assegurando um desenvolvimento econômico e social mais justo.
Pobreza menstrual
Segundo a UNICEF, a pobreza menstrual é caracterizada pela falta de infraestrutura, recursos e até conhecimento por parte das mulheres para cuidados envolvendo a menstruação. Em muitos casos, adolescentes deixam de sair de casa até para ir à escola por causa da menstruação, já que há dificuldade de acesso a serviços de água, saneamento e higiene adequados.
Refugiados climáticos
Apesar de o termo “refugiado climático” estar se popularizando, a Convenção dos Refugiados de 1951 não traz aportes específicos pessoas deslocadas pelas mudanças climáticas. No entanto, de maneira vulgar, é entendido pelo Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) que esses indivíduos são aqueles impelidos ao deslocamento por causa dos efeitos das mudanças climáticas e desastres ambientais.
Insegurança alimentar
Quando há modificações nos padrões de alimentação, com comprometimento da qualidade e quantidade de alimentos, podendo ainda incluir a experiência de fome. A definição é dada pelo Ministério da Saúde.
Demarcação de terras
O termo aponta a necessidade de estabelecer a extensão de terra a qual os povos originários tem direito de ocupar, para que limites sejam respeitados e esse território não seja usurpado por terceiros.
Gases de efeito estufa
São um grupo de gases que contribuem para o aquecimento global e as mudanças climáticas, como o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso. Embora dure menos tempo na atmosfera que o CO2, o CH4, é o segundo gás que mais contribuiu para o aquecimento global.
Num período de cem anos, o metano é responsável por esquentar o planeta cerca 28 vezes mais do que uma molécula de dióxido de carbono (CO2), o principal gás responsável pelo efeito estufa, liberado na queima de combustíveis fósseis.
1.5ºC
Esse é o chamado “limite seguro” das mudanças climáticas. É o limiar de aumento da taxa média de temperatura global que temos que atingir até o final do século para evitar as consequências da crise climática provocada pelo homem por causa da crescente emissão de gases de efeito estufa na nossa atmosfera.
Essa é uma taxa que é medida em referência aos níveis pré-industriais, a partir de quando as emissões de poluentes passar a afetar significativamente o clima global.
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