Ter um braço amputado após uma cirurgia no útero está longe de ser um evento comum na medicina. Apesar de rara, a complicação extrema pode ocorrer sobretudo como consequência da tentativa dos médicos de contornarem problemas ocorridos durante uma operação.
Segundo especialistas ouvidos pelo g1, de modo resumido é possível dizer que há, ao menos, dois cenários que poderiam levar a amputação de um membro que não tinha relação com a cirurgia:
-Um membro pode ter suas funções prejudicadas em caso de uma trombose (formação de coágulo, um entupimento) depois da inserção de um cateter usado para monitorar a pressão arterial durante a operação;
-Um membro pode ser afetado pela aplicação de medicamentos, perder circulação sanguínea e chegar a um estado de necrose (morte dos tecidos).
Ou seja, os casos raros de amputação são consequência de outros problemas ocorridos na cirurgia que acabaram por fazer com que o braço ou a perna, por exemplo, deixassem de receber o suprimento correto de oxigênio. Esgotadas as tentativas de recuperar o membro, a retirada acaba sendo um procedimento inevitável e, em geral, ocorre em outro momento após a reavaliação do paciente.
No caso de passista Alessandra dos Santos Silva, ela teve o braço esquerdo amputado após complicações da retirada de miomas (tumores benignos). Durante a retirada de 19 miomas, ela sofreu uma hemorragia interna.
O quadro de sangramento grave que Alessandra sofreu levou à retirada do útero. Apesar de não haver detalhes, a necessidade de controlar a hemorragia pode ter exigido intervenções médicas que prejudicaram a circulação do sangue no membro, seja por causa de uma trombose após cateter ou por complicações com drogas vasoativas.
Abaixo, entenda em detalhes o que está envolvido em cada hipótese citada acima:
1 – Choque hemorrágico – perda excessiva de sangue
O cirurgião vascular Mateus Borges, que é diretor de Publicações da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), explica que, quando há uma hemorragia, é preciso colocar um cateter no interior de uma artéria para monitorar a pressão.
“Normalmente, é feito na artéria radial, situada no punho, para que a pressão arterial possa ser medida e monitorada em tempo real”, diz.
Segundo ele, a amputação pode ter ocorrido por causa de complicações nessa artéria, como uma trombose.
2 – Uso de drogas ‘vasoativas’
O cirurgião geral intensivista Anderson Oliveira explica que os sangramentos em decorrência de operações no útero também podem gerar um choque hemorrágico. Para conter esse tipo de intercorrência, a retirada do útero é uma das alternativas indicadas.
Além disso, outra medida de reversão e controle do choque pode ser o uso de drogas vasoativas, como, por exemplo, a noradrenalina. Esse hormônio tem a função de fazer vasoconstrição periférica, ou seja, reduzir a circulação de extremidades, como dedos, mãos e membros.
“Dessa maneira, se otimiza e concentra a circulação de sangue nos órgãos vitais que se encontram no abdome, tórax e cabeça”, afirma Oliveira.
No entanto, uma possível consequência do uso dessa substância é justamente a necrose das extremidades, o que pode gerar a perda do membro.
“Mesmo com acompanhamento vascular e tomando todas as medidas, o paciente pode evoluir com piora da necrose e, consequentemente, necessidade de amputação”, diz o médico.
Outras causas que podem influir e causar a perda de um membro são:
-Oclusão Arterial Aguda: fechamento total de algumas artérias, gerando a necessidade de tratamento endovascular rápido na tentativa de salvar o membro acometido pela interrupção do vaso doente territorial.
-Vasculites: inflamação dos vasos sanguíneos, causando formação de aneurismas e hemorragias. Pode ocorrer após procedimentos cirúrgicos, infecções por microorganismos ou devido ao uso de alguns medicamentos.
O médico esclarece ainda que é comum que profissionais da saúde enfaixem um membro com necrose para aquecê-lo.
“No entanto, é imprescindível o check-up desse membro mais de uma vez ao dia para observar se houve melhora ou piora”, finaliza.
Foto: Reprodução Google.