O acumulado de alertas de desmatamento na Amazônia Legal em todo o mês de fevereiro de 2023 foi de 322 km², segundo dados divulgados nesta sexta-feira (10) pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Essa é a maior marca para fevereiro em toda a série histórica, iniciada em 2015. O número equivale aproximadamente ao tamanho da cidade de Fortaleza (CE) em área.
Como mostrou o g1 na última semana, antes mesmo dos números do Inpe serem fechados para o mês, fevereiro já tinha registrado uma taxa recorde de desmate.
A Amazônia Legal corresponde a 59% do território brasileiro, e engloba a área total de 8 estados (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) e parte do Maranhão.
Os alertas foram feitos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²) – tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas em processo de degradação florestal (por exploração de madeira, mineração, queimadas e outras).
Para o WWF, a taxa recorde pode ser consequência da alta quantidade de nuvens que baixou significativamente os dados de janeiro. O mês registrou uma queda de 61% da taxa em relação ao mesmo período de 2022. Com isso, janeiro de 2023 teve a quarta menor marca para o mês na série histórica do Deter.
Como dezembro, janeiro, fevereiro e março são meses chuvosos na maioria dos estados que englobam o bioma, as taxas de desmatamento são tipicamente menores durante esses meses.
“Esses períodos de chuva são muito difíceis para aferirmos essa taxa e conseguir dizer se temos uma tendência de aumento ou de queda. Então a nossa recomendação para fazer qualquer inferência a respeito disso é esperar mais alguns meses para que possamos comparar períodos maiores de tempo”, diz Mariana Napolitano, que é gerente de Conservação do WWF-Brasil.
Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, também faz uma análise semelhante, porém aponta que o governo federal está numa verdadeira “corrida contra o tempo” para reverter o índice de desmate na região neste ano. Como a taxa anual do Deter é fechada em meados de agosto, restam menos de 5 meses para isso.
“Os números mostram uma situação bem grave. Temos uma total desgovernança na Amazônia que foi imposta nos últimos quatro anos, de forma proposital, pelo governo [Bolsonaro]. O governo atual está tomando algumas medidas para retomar o controle do desmatamento, mas essas medidas irão demorar bastante para fazer efeito”, detalha.
O g1 questionou o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima sobre o aumento do número, mas ainda não obteve resposta.
‘Campeões’ de desmatamento
Segundo os dados do Inpe, o Mato Grosso foi o estado com maior área sob alerta de desmatamento: 162 km². Em seguida vieram Pará e Amazonas, com 46 km² cada, Rondônia, com 28 km², e Roraima, com 31 km².
Já o Acre e o Maranhão tiveram aproximadamente 4 km² sob alerta cada.
Deter x Prodes
Os alertas de desmatamento foram feitos pelo Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Inpe, que produz sinais diários de alteração na cobertura florestal para áreas maiores que 3 hectares (0,03 km²), tanto para áreas totalmente desmatadas como para aquelas em processo de degradação florestal (exploração de madeira, mineração, queimadas e outras).
O Deter não é o dado oficial de desmatamento, mas alerta sobre onde o problema está acontecendo. A medição oficial do desmatamento, feita pelo sistema Prodes, costuma superar os alertas sinalizados pelo Deter.
A taxa oficial de desmatamento em 2022 (com os dados de agosto do ano passado a julho deste ano) ainda não foi divulgada. Na temporada 2020-2021 – período que engloba agosto de 2020 a julho de 2021 –, foram 13 mil km² de área sob alerta de desmatamento, maior número desde 2006.
Foto: Marcio isensee.