Dados divulgados pelo Escritório Nacional de Estatísticas (ONE) em Pequim nesta terça-feira (17) mostram que a população chinesa caiu pela primeira vez em 60 anos, como já previam especialistas. A taxa de natalidade no país vem caindo há anos e atingiu seu recorde de queda em 2022, com 6,77 nascimentos por mil pessoas.
Mesmo com a queda, a população da China ainda é enorme. São 1,4118 bilhão de habitantes. “Todas as projeções demográficas já incorporavam isso. A gente teria o caimento que se esperava ser na virada de 2024/2025, então o número acabou vindo dois anos antes”, comenta Livio Ribeiro, sócio da BRTG e pesquisador-associado do FGV Ibre.
A Academia de Ciências Sociais de Xangai prevê que, em breve, a população chinesa vai diminuir aproximadamente 1.1% (15 milhões de pessoas) por ano — o percentual em 2022 foi de 0.06%. O resultado disso pode ser uma queda de população para menos de 600 milhões em 2100.
Quais são as implicações de ter menos pessoas na China?
No curto e médio prazo: vai depender de como o país vai se moldar ao mercado de trabalho.
Livio Ribeiro esclarece que “ter uma população encolhendo não é igual a dizer que a força de trabalho vai encolher porque você pode ter mais pessoas proporcionalmente participando da força de trabalho”.
Então, explica o economista, será preciso entender que políticas o governo chinês irá implementar e quem serão as pessoas ativas na produção que atuarão como forma de mitigar o efeito da queda de mão de obra.
Ele ressalta também que o alerta é que pessoas mais velhas tendem a consumir (e produzir) menos.
No longo prazo: “Tem um limite para você incorporar cada vez mais gente na força de trabalho. Uma população que encolhe tira a força da economia”, diz o professor.
Impactos mundiais: o fato de a capacidade chinesa de produção diminuir impacta diretamente na adequação do resto do mundo também — menos produção, menos demanda.
“Olhando de maneira geral, quando a China acelera, há demanda mais de commodities. E isso é favorável para os países portadores de commodities, entre eles o Brasil”, exemplifica.
Além disso, a China é hoje “um rival estratégico dos Estados Unidos”, o que aponta também para “novas formas de interações entre esses dois atores que vão afetar o mundo inteiro”, comenta Ribeiro.
Quais os fatores influenciam na queda demográfica da China?
Existem alguns aspectos que explicam a queda na taxa de natalidade entre os chineses, como:
1-o envelhecimento da população;
2-o fato de pessoas irem cada vez mais morar nos centros urbanos (o que torna mais caro viver);
3-a política de um filho único implementada na China até 2015;
4-e uma barreira no país à imigrantes.
Ribeiro explica que:
-sociedades mais urbanas tendem a ter menos filhos já que a manutenção do custo de vida é mais alta;
-e que comunidades asiáticas não são muito abertas à imigração. Por que isso importa? Porque quando não há aumento na taxa de natalidade, trazer pessoas de fora é uma forma de manter um crescimento da população e, naturalmente, aumentar a força de trabalho.
Projeção da economia chinesa em 2023
De acordo com o G1, o Produto Interno Bruto da China cresceu 3% em 2022. O número ficou abaixo da meta oficial de 5,5%, dado, principalmente, pelas políticas de restrições sanitárias de Covid-19 que impactaram diretamente no consumo e na produção.
“Hoje, com as características da economia chinesa, o importante é estimular o consumo interno, e isso o governo chinês não costuma fazer. Ele dá muito mais prioridade para estimular as empresas, investimento, produção industrial, exportações, do que os consumidores”, analisa Livio Ribeiro.
O especialista projeta um crescimento de 4,7% para o país em 2023, e diz que considera o percentual entre neutro e pessimista. “Todo mundo acha que a China cresce mais que a média do mundo esse ano. A discussão é se ela cresce muito mais ou muitíssimo mais”, conclui.
Foto: Lam Yik.