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Com saída de líderes, negociação diplomática busca as metas reais da COP26; veja o que ainda esperar

Os primeiros dias da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26) foram marcados pela presença de líderes e por alguns compromissos já assumidos, inclusive pelo Brasil (redução do desmatamento e de emissões de gases de efeito estufa).

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Embora sejam sinalizações positivas (mesmo passíveis de críticas), o que já foi anunciado até aqui é considerado importante, mas não trata ainda das principais expectativas para o encontro.

De acordo com o G1, as principais expectativas para a COP são:

  • Apresentar metas mais ambiciosas de redução de gases: Um dos objetivos traçados pelo Acordo de Paris é o de limitar em 1,5ºC o aquecimento global. Para isso, está previsto que países apresentem para a ONU metas mais ambiciosas de redução de emissão de gases de efeito estufa;
  • Regulamentar artigo 6 do Acordo de Paris – mercado de carbono: conferência precisa elaborar este ponto do “livro de regras” para que, entre outros pontos, os responsáveis por emitir gases possam pagar outra entidade ou país que conseguiu gerar créditos para neutralizá-los;
  • Pagamento de U$S 100 bilhões: países ricos precisam viabilizar o pagamento de U$S 100 bilhões por ano para a redução das emissões realizada por países em desenvolvimento. O dinheiro deveria ter sido repassado já em 2020, como previa o Acordo de Paris e, a cada 5 anos, os países deveriam prestar contas sobre as ações.

Agora, antes de analisar o que virá pela frente, vale anotar os primeiros marcos do evento:

  • Redução de emissões: Brasil apresentou meta de redução das emissões de gases do efeito estufa até 2030; especialistas alertam que anúncio não aponta, em valores absolutos, qual deverá ser a redução e, na prática, proposta pode ser a mesma já feita em 2015 no governo de Dilma Rousseff;
  • Acordo do metano: Brasil e mais de cem países também aderiram ao Compromisso Global do Metano. A lista dos signatários foi divulgada pelo governo americano. O acordo inclui metade dos 30 principais emissores de metano, que respondem por dois terços da economia global;
  • Desmatamento: Ministério do Meio Ambiente anunciou que o Brasil deverá zerar o desmatamento ilegal em 2028. A meta anterior era para o ano de 2030.

A hora das discussões técnicas

Com a saída dos líderes, a primeira semana fica totalmente dedicada às mesas de negociação a um nível mais técnico, o que ainda não deve levar a grandes acordos.

Apesar disso, Astrini, que está na Escócia, diz que os países mais ricos estão conversando nos bastidores sobre ampliar as ambições ano a ano: criar uma plataforma para que as metas sejam aumentadas a cada conferência climática.

Natalie Unterstell, presidente da Talanoa e membro do Painel de Acreditação do Green Climate Fund, também afirma que, nos próximos dias, a tendência é ver menos anúncios políticos e mais tratativas entre corpos diplomáticos.

Do lado de fora, no final de semana, estão previstos alguns protestos: o movimento Fridays for Future, em que participa a ativista Greta Thunberg, marcou uma passeada para a sexta-feira (5). Já a Marcha pelo Clima, uma grande manifestação que reúne todos as ativistas e movimentos pelo meio ambiente, está prevista para sábado (6).

Unterstell diz que uma novidade implementada pelo Reino Unido são dias temáticos, que acabam mobilizando e reunindo diferentes atores ao redor de assuntos específicos. Nesta quarta-feira (3), foi dia de debater o financiamento e as medidas econômicas necessárias para desenvolver o combate ao aquecimento global. Já nesta quinta-feira, o tema é energia e como acelerar uma transição mais limpa.

Vamos limitar em 1,5ºC, mas como?

Ainda no domingo (31), em Roma, os líderes do G20 se reuniram em uma espécie de “aquecimento” para a COP26 na Escócia. O grupo se comprometeu mais uma vez com um velho objetivo que já não foi cumprido anteriormente: limitar o aumento médio da temperatura do planeta em 1,5ºC.

A meta de 1,5ºC foi assinada no Acordo de Paris, em 2015, mas, segundo os climatologistas e os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), precisa urgentemente de medidas mais ambiciosas por parte de todos os países, sobretudo os mais emissores: Estados Unidos, China, Rússia, União Europeia, Índia e Brasil.

O G20, grupo de países que representam 80% da economia do planeta, pediu uma ação “significativa e efetiva”. Os líderes, no entanto, não apresentaram uma data precisa para chegar até a neutralidade de carbono: o texto diz apenas “por volta da metade do século”.

Brasil e sua redução das emissões até 2030

Angela Merkel, chanceler alemã, disse que “não estamos ainda aonde queremos chegar“; Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, discursou que “é um momento de inflexão na história”; o presidente Jair Bolsonaro, no entanto, não compareceu ao evento, mas disse em vídeo: “Brasil é parte da solução do clima e não do problema”.

Representando o país, o Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, apresentou uma nova meta de redução das emissões de gases do efeito estufa até 2030. Porém, Leite falou apenas em porcentagens e não apresentou de quanto deverá ser a redução real nas emissões dos gases de efeito estufa já para essa década.

Apesar de ser apresentada pelo governo do Brasil como “mais ambiciosa”, a meta foi criticada por entidades ambientais. Rede de 70 organizações da sociedade civil, o Observatório do Clima diz que, sem que seja informado em valores absolutos qual deverá ser a redução, o resultado anunciado na COP26 poderá ser o mesmo que o Brasil já propôs em 2015, no governo de Dilma Rousseff – e não maior, como afirma o governo Bolsonaro.

100 líderes contra o desmatamento e conta o metano

O Ministro do Meio Ambiente também anunciou que o Brasil deverá zerar o desmatamento ilegal em 2028. A meta anterior era para o ano de 2030. As medidas devem seguir um cronograma, que começa a partir de 2022:

  • Redução de 15% ao ano até 2024;
  • Redução de 40% ao ano em 2025 e em 2026;
  • Redução de 50% em 2027;
  • Zerar o desmatamento ilegal em 2028.

Apesar da perspectiva de uma queda na taxa de desmatamento em relação ao ano anterior, o Brasil está bastante longe dos 3.925 km² de desmate prometidos em 2015, no acordo de Paris, para 2030. No ano de 2020, foram 10,8 mil km² de floresta derrubada na Amazônia.

Na terça-feira (20), enquanto isso, mais de 100 líderes mundiais se comprometeram a interromper e reverter o desmatamento e a degradação de terras até o fim desta década. A medida foi apoiada por países como a China, Estados Unidos, Indonésia, República Democrática do Congo, e também o Brasil, reunindo assim nações que representam coletivamente mais de 86% das florestas do planeta.

“Mais de 100 líderes, representando mais de 86% das florestas do mundo, se comprometeram a trabalhar juntos para deter e reverter a perda florestal e a degradação da terra até 2030”, disse, em comunicado, o governo do Reino Unido

Por sua vez, a União Europeia se comprometeu a gastar 1 bilhão de euros de seu orçamento nos próximos cinco anos para proteger as florestas.

Além disso, o Brasil e mais de cem países também aderiram ao Compromisso Global do Metano. A lista dos signatários foi divulgada pelo governo americano. O acordo inclui metade dos 30 principais emissores de metano, que respondem por dois terços da economia global.

Foto: Karwai Tang

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