Partidos do Centrão, bloco informal de centro e direita conhecido por se aliar a diferentes gestões presidenciais, ainda não definiram quem apoiarão na eleição presidencial de 2022 e nem se tomarão uma posição unificada como fizeram em pleitos anteriores.
O futuro eleitoral dessas legendas ficou ainda mais nebuloso com a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin de anular as condenações do ex-presidente Lula (PT) na Lava Jato no Paraná. A anulação permitiu a volta do petista ao cenário político e, com a possibilidade de ser candidato em 2022, deixou o pleito concentrado entre Jair Bolsonaro e o PT.
O núcleo duro do Centrão é formado por PP, PL, PSD, Solidariedade e Republicanos. O apoio a Bolsonaro no Congresso está mantido, mesmo porque o governo tem atendido às demandas do grupo. Mas nem todos os partidos estão dispostos a acompanhá-lo na eleição de 2022.
O primeiro partido a indicar que não pretende acompanhar Bolsonaro no projeto de reeleição é o Solidariedade, presidido pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força. Ao Congresso em Foco, o presidente da sigla disse ser “impossível” apoiarem novo mandato do atual presidente.
O Solidariedade esteve nas duas últimas eleições aliado ao PSDB, com Aécio Neves em 2014 e Geraldo Alckmin no primeiro turno em 2018. No segundo turno de 2018 o apoio foi a Fernando Haddad (PT).
O presidente do Solidariedade considera difícil que o apoio ao PSDB vá se repetir no ano que vem. Sobre apoiar Lula, ele disse: “Embora esteja muito cedo, acho que sim”.
O PT tem buscado diálogo fora da esquerda. No final de fevereiro, a presidente do partido, Gleisi Hoffmann, e Haddad foram a Minas Gerais. Uma das agendas foi uma reunião com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, do PSD.
Em entrevista ao Congresso em Foco no dia 12 de fevereiro, Haddad afirmou que o PT precisa buscar setores da direita para vencer Bolsonaro.
“O que não pode é ter defecção no segundo turno, segundo turno tem que estar todo mundo junto para derrotar o Bolsonaro. Esse é o maior compromisso que a gente tem que obter, inclusive daquela direita que se diz democrata, mas nem sempre se comporta democraticamente, temos que constrangê-la a assumir compromissos institucionais com o país”, disse.
No entanto, o caminho para essas alianças é difícil. O PP, que já foi aliado de Lula e Dilma Rousseff, agora é um dos principais apoiadores de Bolsonaro. O presidente do partido, Ciro Nogueira, apoia abertamente a reeleição dele. A sigla também tem a liderança do governo na Câmara, com Ricardo Barros (PR), e contou com o apoio do Planalto para presidir a Casa com Arthur Lira (PP-AL).
PSD e Republicanos, embora se classifiquem como independentes, têm ministérios e votam sistematicamente com o governo, na condição de protagonistas do Centrão. Os deputados Fábio Faria (PSD-RN) e João Roma (Republicanos-BA) coordenam hoje as pastas de Comunicações e Cidadania, respectivamente.
O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, disse ao Congresso em Foco que a legenda não tem posição definida e afirmou ser cedo para discutir isso. “Não avaliamos isso. Não discutirmos 2022. Isso tem que reunir bancada. Reunir executiva nacional. Isso não foi feito porque está longe”.
PSDB e parte do DEM têm procurado associar Lula e Bolsonaro como parte de extremismos. Os tucanos marcaram para outubro a escolha do candidato em 2022. Os principais concorrentes devem ser os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS). Já o DEM avalia apoiar desde Ciro Gomes (PDT) a Bolsonaro, ao mesmo tempo que tenta nacionalizar o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS).
O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, que está em conflito com o DEM e disse que deve se filiar ao MDB, evita associar Lula e Bolsonaro como dois lados da mesma radicalização. Embora reconheça diferenças com Lula, Maia afirmou que ele é preferível a Bolsonaro.
Foto: Amanda Perobelli.