A direção do PSB iniciou uma busca para filiar um “outsider” e lançá-lo na disputa pela Presidência da República em 2022. Se o movimento se concretizar, o partido não caminhará junto de Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno da eleição, como era sinalizado até então. Além de Ciro, o campo da esquerda já conta com uma candidatura do PT e com a intenção do PSOL de lançar Guilherme Boulos na corrida pelo Palácio do Planalto.
A nova estratégia do PSB foi revelada a VEJA após o petismo confirmar que Fernando Haddad irá concorrer mais uma vez à Presidência caso Lula não consiga recuperar os direitos políticos a tempo da eleição. “O PSB ainda não tem compromisso com nenhuma candidatura presidencial. Não há compromisso nem com o PT nem com qualquer outro partido”, disse o presidente do partido socialista, Carlos Siqueira.
O dirigente argumenta que a eleição de Arthur Lira (Progressistas-AL) para a presidência da Câmara dos Deputados simboliza o esgotamento do sistema partidário brasileiro. “Precisamos superar esse cenário altamente fragmentado. Diante das condições atuais, uma candidatura para enfrentar o presidente terá de ser liderada por uma personalidade da sociedade que possa se filiar a um partido de oposição, podendo até ser o PSB”, afirmou.
Siqueira diz que esse “outsider” teria como objetivo “empolgar os setores da sociedade” e “propor uma reestruturação do sistema político nacional”. Ele afirma que não enxerga essa condição em nenhum ator que já se encontra inserido na política. “Precisamos testar nomes que realmente possam enfrentar o Presidente da República e que tenham chances. É claro que o PT está no direito deles de lançar um candidato. Eles sempre foram assim e continuarão funcionando assim, mas nós não somos obrigados a errar juntos”, declarou.
Em 2018, Siqueira tentou emplacar a candidatura do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa, mas a empreitada fracassou antes da eleição. Ele descartou a possibilidade de Barbosa voltar a ser testado e não quis revelar com quais “outsiders” mantém conversas atualmente.
O anúncio do PSB é um golpe para o PDT, que vinha propagandeando a construção de um bloco para 2022 que já contaria com a adesão dos socialistas e com a Rede e o PV. Ciro Gomes também tem mantido conversas com partidos de centro-direita, entre eles o DEM, para turbinar a coalizão que pretende formar.
O PSB tem 30 deputados federais e é a segunda maior bancada entre os partidos de esquerda, atrás apenas do PT (52), além de uma senadora Leila Barros (DF) e dois governadores: Renato Casagrande (Espírito Santo) e Paulo Câmara (Pernambuco).
Como VEJA mostrou nesta semana, a fragmentação no campo da esquerda frustrou políticos que vinham liderando as negociações para montar uma frente ampla contra o bolsonarismo. Um dos artífices do movimento, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), disse a aliados que ficou decepcionado com a incapacidade dos partidos de se entenderem e que agora irá concentrar as energias para se eleger ao Senado em 2022.
Foto: Humberto Pradera.