O ministro Paulo Guedes (Economia) afirmou nesta sexta-feira (11) que uma campanha de vacinação em massa contra a Covid-19 deve custar R$ 20 bilhões ao governo federal. O governo ainda estuda estratégias de imunização para o país, enquanto outros países já aprovaram vacinas e compraram doses de diferentes fabricantes.

Membros do Ministério da Economia têm conversado com o Ministério da Saúde sobre possíveis planos para a compra dos imunizantes. O custo da operação varia de acordo com o tipo da vacina escolhida.

“Se formos partir agora para uma campanha de vacinação em massa, devem ser mais ou menos R$ 20 bilhões”, afirmou o ministro em audiência na comissão do Congresso que acompanha as ações do governo no enfrentamento à pandemia.

Segundo interlocutores no governo, os recursos necessários devem ser liberados em breve por uma MP (Medida Provisória).

Na audiência com parlamentares, Guedes sinalizou que a verba pode ser autorizada ainda neste ano. Ao explicar os gastos do governo em 2020, o ministro disse que já foram disponibilizados cerca de R$ 600 bilhões em medidas de enfrentamento da pandemia e que esse valor poderia ser de R$ 620 bilhões com a verba da vacina.

Em entrevista à Folha nesta semana, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), defendeu que o governo disponibilizasse os recursos necessários para uma campanha de vacinação ainda neste ano, para aproveitar as regras fiscais flexíveis vigentes em razão da pandemia.

No início da pandemia, foram aprovados o chamado Orçamento de guerra e o decreto de calamidade pública. As medidas possibilitam o enfrentamento dos efeitos da Covid-19 na saúde e na economia, com elevação de gastos, sem descumprir regras fiscais. Essas ações perdem a validade em 31 de dezembro deste ano, quando o Orçamento voltará a ter restrições.

“A vacinação em massa é algo que garantiria inclusive essa retomada sustentável do crescimento no ano que vem. Sabemos que o distanciamento social atingiu fortemente o setor de serviços, e é o setor que está com mais dificuldade de voltar”, disse Guedes.

“Se existe essa vacina, temos que buscar onde estiver. E não vai ser por falta de recursos que vamos deixar de cumprir essa obrigação”, afirmou.

O ministro também indicou que o valor mencionado diz respeito apenas à compra das vacinas, e não ao custo total da operação, o que incluiria outros insumos e a logística.

Segundo ele, o valor de cada dose é estimado em US$ 10. Para imunizar 200 milhões de brasileiros com duas doses, seriam necessários US$ 4 bilhões, o que corresponde a aproximadamente R$ 20 bilhões.

O valor citado por Guedes é mais de 10 vezes maior do que o liberado para a compra da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e o laboratório AstraZeneca. Para 100 milhões de doses, o governo vai desembolsar R$ 1,9 bilhão.

O contrato foi firmado para produção e distribuição do imunizante em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). O Congresso aprovou a liberação dos recursos, também liberados, por MP, na semana passada.

Nesta sexta, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), disse que o governo federal pretende requisitar vacinas contra a Covid-19 produzidas no país ou importadas para o Brasil.

O ministério da Saúde ainda não se pronunciou de maneira oficial. Uma assessora do ministro Eduardo Pazuello negou informalmente que o governo esteja planejando qualquer tipo de confisco.

Em discurso na inauguração de um hospital nesta sexta, Pazuello disse que o plano de vacinação nacional é de responsabilidade do governo federal e que nenhum brasileiro terá vantagem, por morar em determinado estado.

A grande favorita do governo federal é a produzida pela Universidade de Oxford (Reino Unido) em parceria com a AstraZeneca. Embora o imunizante tenha saído na frente na corrida, uma vez que já vinha sendo testado para outros coronavírus, sua média de eficácia foi de 70%, tirada a partir de dois valores —62%, que seria o oficial, e 90%, relativo ao grupo que recebeu apenas metade da dose planejada na primeira das duas injeções.

Os países mais ricos, que já fizeram acordos para compra de doses da Pfizer/BioNTech e Moderna, garantiram também vacinas de pelo menos outras quatro fabricantes.

Enquanto os EUA firmaram acordo com a Pfizer, Moderna, AstraZeneca, Janssen, Novavax e Sanofi, o Canadá lidera em doses per capita, com a compra de pelo menos nove doses por habitante. A Europa encomendou cerca de metade das vacinas prometidas por três farmacêuticas(Pfizer, Moderna e AstraZeneca) e possui ainda diversas produções locais, como das farmacêuticas Janssen, na Bélgica, da Sanofi/Pasteur, na França e Curevac, na Alemanha.

Foto: Adriano Machado.