Aumento de mortes, cidades voltando a impor restrições e hospitais cada vez mais lotados escancaram a realidade: a pandemia de Covid-19 ainda não acabou e o número de casos e vítimas pode piorar nas próximas semanas se as pessoas não adotarem as medidas de prevenção contra o novo coronavírus.
Nesta quinta-feira (10), o presidente Jair Bolsonaro disse em evento que “estamos vivendo um finalzinho de pandemia”. Embora as vacinas cada vez mais próximas sejam uma esperança para que, enfim, a crise do coronavírus acabe, a transmissão da Covid-19 continua e vem crescendo nas últimas semanas.
E ainda levará algumas semanas ou meses até que a vacinação comece no Brasil — a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda não autorizou o uso de nenhum imunizante no país.
Assim, por enquanto, os médicos e outros cientistas da área da saúde recomendam continuar com o uso da máscara, a ventilação dos ambientes compartilhados com outras pessoas, a boa higiene das mãos e que se evite aglomerações e locais muito cheios.
“Não há a menor possibilidade de acreditar em um discurso, por mais otimista que seja, de fim de pandemia”, diz, em entrevista ao G1, o chefe de infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Alexandre Naime.
E mesmo com a vacinação, alertou o especialista, a diminuição no número de casos vai ser gradativa, e não imediata. Segundo ele, é possível que o Brasil continue a registrar um número alto de novos casos no primeiro semestre de 2021 se as medidas básicas de higiene e isolamento não forem respeitadas.
Alta de casos e de mortes
Os números são os mais claros de que a pandemia não só está no fim como há tendência de piora: as médias móveis de casos e de mortes pelo coronavírus estiveram em alta nesta quinta-feira (10). E as curvas nos gráficos mostram que há dias o país vive um repique da Covid-19.
O infectologista da Unesp avaliou um aumento no número de casos e mortes da Covid-19 no Brasil, depois de uma tendência acentuada de redução na taxa de transmissão do coronavírus entre os meses de agosto e outubro deste ano.
“A cada dia, mais brasileiros se infectam”, diz Naime. “Existe um número bem subestimado de 6,5 milhões a 7 milhões de notificados, mas isso deve ser de 3 a 4 vezes menor que o total de infecções, porque muitos não são testados.
“Ao todo, 21 estados e o Distrito Federal apresentaram alta na média móvel de mortes: PR, RS, SC, ES, MG, RJ, SP, DF, GO, MS, MT, AC, RO, RR, TO, BA, CE, PB, PE, PI, RN e SE. É o segundo dia seguido em que tantos estados aparecem simultaneamente com tendência de alta nas mortes pela doença desde que o consórcio começou a acompanhar essas tendências, em 9 de julho. Antes disso, o máximo de estados em alta ao mesmo tempo havia sido de 18.
Com isso, o Brasil se aproxima da triste marca de 180 mil mortos pela Covid-19. Só os Estados Unidos têm mais vítimas no mundo, em números absolutos. Além disso, o país registra mais de 6,7 milhões de casos confirmados da doença desde o início da pandemia.
Hospitais cada vez mais lotados
A tendência de aumento nas ocupações de leitos já era sentida há algumas semanas. Em meados de novembro, por exemplo, o governo de São Paulo admitiu que as internações por Covid-19 estavam aumentando, revertendo a sensação de melhora percebida em outubro.
A microbiologista da Universidade de São Paulo (USP) Natalia Pasternak aponta que há um aumento no número de casos e hospitalizações por complicações do novo coronavírus e alerta para o risco de sobrecarga do sistema de saúde.
“Os hospitais estão lotados, estão correndo o risco de realmente não dar conta dos atendimentos”, ressalta Pasternak. “Isso não é o ‘finalzinho da pandemia’, o finalzinho da pandemia vai acontecer quando a gente observar o contrário disso.”
Com o passar dos dias, as notícias sobre ocupação de leitos por causa do coronavírus pioraram. Nesta quinta-feira (10), a fila de espera por um leito para a Covid-19 no Rio de Janeiro era mais de três vezes maior do que o observado em 23 de novembro.
Para o infectologista da Unesp, ainda que os médicos da linha de frente já conheçam um pouco mais sobre o vírus que no início da pandemia, um alto número de infectados reflete em mais internações e mortes por complicações da Covid-19.
A situação nesta primeira quinzena de dezembro é grave em diversas cidades e estados, com ocupação total nas UTIs em alguns hospitais da rede pública de saúde. Veja alguns casos abaixo:
Governos voltam a impor restrições
Preocupados com a lotação nos hospitais e com o aumento no número de vítimas da pandemia, governos municipais e estaduais retomaram restrições impostas para conter o contágio do novo coronavírus.
A pneumologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Margareth Dalcolmo, alertou para a transmissão da Covid-19 mesmo entre pessoas que mantêm o isolamento social. Ela explica que muitos são infectados dentro de casa por familiares que descumpriram as normas sanitárias.
“Estamos internando pessoas que nunca saíram de casa, que ficaram doentes porque alguém chegou em casa com a doença. Esse é que é o panorama do que nós estamos vivendo”, disse Dalcolmo.
Nesta quinta (10), a prefeitura do Rio de Janeiro suspendeu áreas de lazer e proibiu estacionamento na orla nos fins de semanas e feriados. Além disso, haverá escalonamento no horário das atividades: indústria, serviço e comércio.
Além disso, o prefeito de Salvador, ACM Neto, cancelou a festa virtual “Live da Virada”, que teria apresentações de Ivete Sangalo e Gusttavo Lima sem presença de público no Forte São Marcel. Segundo o prefeito, a medida foi tomada para dar um recado à população com relação ao aumento do número de casos da Covid-19 na capital. Outro anúncio feito por ACM Neto foi que a orla da Barra será fisicamente interditada para evitar aglomerações na virada do ano.
Outros estados e municípios chegaram a anunciar toque de recolher: o estado do Paraná e a prefeitura de Campo Grande (MS) impuseram restrições severas à circulação noturna. O governo de Mato Grosso do Sul ainda estuda ampliar a medida para o restante do estado.
Mundo vive pior fase da pandemia
Segundo a Universidade Johns Hopkins, que monitora os números do coronavírus no planeta, as curvas de casos e de mortes diários estão nos patamares mais elevados na comparação com outros momentos da pandemia.
A Europa viu que a segunda onda da doença foi ainda pior do que a primeira em alguns países. Por isso, governos decretaram um novo lockdown em novembro e ainda manterão as restrições pelas próximas semanas. Nos Estados Unidos, onde a situação é ainda mais grave, o número de mortos em um só dia passou de 3 mil nesta quinta.
A médica australiana Margaret Harris, porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), reforçou nesta sexta (11) que a agência de saúde da ONU ainda não declarou o fim da pandemia de Covid-19 e que ela segue ativa pelo mundo.
“Para nós [OMS], a pandemia continua em todos os lugares”, disse Harris.
Ao todo, o mundo registra quase 70 milhões de diagnósticos de Covid-19 desde o começo da pandemia — dado que não inclui subnotificações. O número de vítimas da doença em todo o planeta passa de 1,58 milhão.
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