Trabalhadores paraibanos estão relatando que foram vítimas de um golpe envolvendo o saque emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Segundo relatos, os golpistas conseguem fraudar os sistemas onde o valor do FGTS é depositado pelo Governo Federal (Caixa Tem) e sacam o valor R$ 1.045,00 sem a permissão do titular da conta.

O Saque Emergencial do FGTS foi autorizado por meio da Medida Provisória nº 946/2020, editada pelo Governo Federal, como forma de amenizar os impactos causados pela pandemia do novo coronavírus. De acordo com a Caixa Econômica Federal, todos os trabalhadores brasileiros, titulares de contas FGTS (ativas ou inativas) com saldo, podem sacar até R$ 1.045,00.

Conforme apuração do G1, a Polícia Federal está investigando uma quadrilha de São Paulo que estaria comprando e vendendo dados de usuários dos aplicativos da Caixa Econômica Federal para fraudar o aplicativo Caixa Tem e roubar o saque emergencial do FGTS. Até o momento as investigações não apontaram os responsáveis.

O JORNAL DA PARAÍBA solicitou dados de contestações, para quantificar o impacto do golpe na Paraíba. A Caixa, no entanto, informou que, por motivos de segurança, tanto os dados quanto os critérios técnicos de análise de suspeitas de fraudes não podem ser expostos ao público em geral, mas apenas aos órgãos policiais envolvidos nas investigações.

Relato

Juliana Oliveira mora em João Pessoa, e foi vítima do golpe do saque emergencial do FGTS. De acordo com ela, a Caixa Econômica Federal enviou uma mensagem de torpedo no mês de setembro informando que o valor de R$1.045,00, do FGTS, estaria disponível para saque no mês de outubro. Na mensagem, no entanto, não constava onde o dinheiro seria depositado, e somente após pesquisas na internet Juliana descobriu que o montante cairia em uma conta poupança digital.

Ao tentar criar uma conta digital por meio do aplicativo Caixa Tem, ela descobriu que seus dados já estavam cadastrados na plataforma, e uma senha para acesso ao dinheiro foi exigida. Como não sabia a senha, ela solicitou a recuperação do login via e-mail, mas o endereço de e-mail que constava no aplicativo também era diferente.

Sem conseguir acesso à conta poupança digital, Juliana decidiu recorrer ao atendimento presencial em uma agência da Caixa Econômica Federal. Ao chegar no local e relatar a dificuldade para ter acesso ao saque emergencial do FGTS, ela foi informada pelo gerente da agência que seu dinheiro já havia sido sacado da própria conta digital.

“Eu expliquei pra ele (gerente da Caixa) que não saquei nenhum valor. Ele perguntou qual o meu e-mail, quando falei vimos que no Caixa Tem constava outro e-mail, outro telefone, e outro endereço. Fiz uma contestação formal e estou aguardando o retorno.”, comentou.

Ainda de acordo com Juliana, na contestação feita junto à Caixa, a própria gerência da agência pontuou que ela havia alegado nunca ter morado em São Paulo, dando a entender que o endereço disponibilizado pelo golpista para a realização do saque está localizado em solo paulista. A gerência informou, ainda, que a contestação será encaminhada à Polícia Federal para dar início às investigações.

A Polícia Federal deve dar um parecer de análise sobre uma possível quebra de sigilo de Juliana em até 30 dias. Se confirmar, ela deve ser ressarcida com o valor integral. Se não, ela deve dar entrada em um processo junto à Defensoria Pública.

“O pior é que não é um dinheiro extra, não é um auxílio. É o meu FGTS, um direito meu. O Governo [Federal] não deu a opção de não querer o saque emergencial, e eu poderia tirar o dinheiro até dezembro. Se eu não tirasse, o dinheiro voltaria para minha conta poupança em janeiro de 2021. Por sorte, eu fui antes e vi quando o dinheiro já havia sido sacado, senão eu nem saberia que o dinheiro teria sido roubado, acharia que ele tinha voltado pra minha conta poupança, e ficaria por isso mesmo.”, explicou.

Repostas

Ao JORNAL DA PARAÍBA, a assessoria de imprensa da Caixa Econômica Federal informou que tem adotado mecanismos para conter as ações dos fraudadores, como a validação dos dados dos clientes em bases internas e externas, e o monitoramento de transações.

Sobre os pedidos de contestações de saques, a Caixa informou que os clientes podem solicitá-los a qualquer momento em uma agência física do banco, portando CPF e documento de identificação. Segundo o órgão, os processos são analisados com “máxima celeridade”, e seus resultados são repassados diretamente aos interessados.

Ainda de acordo com a Caixa, a escolha dos procedimentos adotados para cadastro e pagamento do saque emergencial seguem orientações dos órgãos de controle e de segurança, e reforçou que está atuando junto à Polícia Federal e aos demais órgãos de segurança pública para identificar os responsáveis pelas fraudes.

O JORNAL DA PARAÍBA procurou a assessoria de imprensa da Polícia Federal para obter maiores esclarecimentos sobre as investigações acerca do golpe do FGTS, mas não houve retorno até a publicação da matéria.

Recomendações para não cair em golpes

A Caixa Econômica Federal também recomendou que os trabalhadores utilizem apenas os canais oficiais para obter informações, e não forneçam os dados de acesso em sites ou aplicativos. Para evitar ‘cair’ nos golpes, os usuários podem seguir as seguintes dicas:

O cliente deve estar sempre atento a qualquer atividade e situação não usual, e principalmente não clicar em links recebidos por SMS, WhatsApp ou redes sociais para acesso a contas e valores a receber.

Desconfiar de informações sensacionalistas e de “oportunidades imperdíveis”.

Links suspeitos podem levar à instalação de programas espiões, que podem ficar ocultos no celular ou computador, coletando informações de navegação e dados do usuário.

Utilizar sempre navegadores e softwares de antivírus atualizados.

O banco também reforçou que não pede senha e assinatura eletrônica numa mesma página, sendo a assinatura digitada somente por meio da imagem do teclado virtual, e também não envia SMS com link e só envia e-mails se o cliente autorizar.

Foto: Marcelo Camargo.