Quando o seu bar teve que baixar as portas por conta da pandemia, Andréia Farias ficou pensando o que iria fazer para ter alguma renda, ainda mais que estava gastando com a reforma da sua casa. Ela também é arquiteta e designer de interiores e uma especialista em garimpar objetos antigos. Olhando ao redor, logo percebeu: por que não vender os objetos que garimpa há anos? Foi então que, pela primeira vez, Andréia vendeu alguma coisa pela internet por meio da sua conta do Instagram. Ela não tem site, não tem uma loja nas redes. Mas todo sábado, posta em seus Stories alguns objetos. Antes de completar 24 horas, que é o tempo que o post fica no ar, ela já vendeu tudo o que postou. Os clientes chegam de vários estados, todos pela propaganda boca a boca. E agora ela não vê a hora de as feirinhas de Antiguidade voltarem às ruas de São Paulo para que possa garimpar mais e mais e vender mais e mais. Andreia não está sozinha nesta jornada. Um terço da população economicamente ativa do Brasil começou a usar seu smartphone para incrementar sua renda durante a pandemia do coronavírus, segundo um estudo da Bain&Company feito a pedido do Google. Todas essas pessoas venderam produtos em redes sociais ou em sites especializados, ministrou aulas online ou começou a fazer entregas de seus produtos por meio de aplicativos.
A primeira vez dos brasileiros no mundo digital foi generalizada. Ao todo, 34% dos consumidores fizeram seu primeiro pedido de delivery de comida via aplicativo, 44% das pessoas completaram uma transação bancária online e 46% assistiram a uma live pela primeira vez. Os dados mostram ainda que é pelo celular que os brasileiros principalmente se conectam. Pouco mais da metade das pessoas usa exclusivamente o aparelho móvel para acessar a internet. Em estados como Acre, Piauí e Sergipe, mais de 70% da população digital usa apenas o smartphone para a conexão. Nas classes mais baixas, esse percentual explode. No segmento D e E, por exemplo, 83% das pessoas só se conectam pelo celular.
O objetivo da pesquisa, segundo Maia Mau, executiva-chefe de marketing de parcerias do Google, era mapear se a empresa está conseguindo atingir sua missão de democratizar a internet por meio do Android, o sistema operacional que faz boa parte dos smartphones funcionar. Dois sistemas dominam os celulares hoje no mundo: o Android e o iOS, da Apple. O iOS só roda em celulares iPhones, que custam entre R$ 1.400 a R$ 6.500, segundo a pesquisa da Bain. Praticamente todas as outras marcas de celular usam o Android, que é um sistema aberto, e no Brasil pode ser encontrado em celulares que custam de R$ 290, como são precificados alguns modelos de smartphones da empresa Positivo, até R$ 7.200, que é o valor do mais novo modelo da Samsung. Os dados da Bain mostram que os negócios gerados pelos aplicativos e pelas vendas de telefones com sistema Android foi de R$ 136 bilhões, em 2019, em setores que empregam 630 mil pessoas.
Segundo a Veja, são esses sistemas que permitem que os aplicativos rodem nos celulares e possam ser baixados por qualquer pessoa. Existe hoje uma grande discussão sobre o poder de dominação de apenas duas empresas neste mundo digital, já que ambas cobram até 30% da receita gerada pelos aplicativos pelo fato de serem baixados de suas lojas. Em alguns casos estes percentuais são menores, em outros sequer são cobrados, mas tanto a Apple quanto o Google não divulgam a forma como determinam esta cobrança. Para quem está fazendo negócios no mundo virtual, precisa estar atento sobre essas taxas, seja quando abre uma loja por meio de uma rede social (que pode repassar esse custo) seja quando desenvolve um aplicativo novo.
De qualquer forma, é como parte deste mundo que estão os consumidores, mais do que nunca após ta pandemia. Além dos dados já citados, também vale destacar outros setores que viram novos consumidores desde o início do isolamento social: 28% participaram de seu primeiro curso online, 17% fizeram sua primeira consulta médica virtual e 19% usaram softwares de trabalho virtual.
“O aumento de pessoas realizando pela primeira vez as atividades citadas é notado em todas as classes sociais e faixas etárias, apontando a relevância das novas formas de uso. Isso reforça a tendência de que muitas das mudanças observadas neste período da pandemia vieram para ficar”, diz o estudo elaborado por Livia Moura e Gustavo Camargo, da Bain. “Além disso, a maioria dos consumidores acredita que manterá suas novas atividades após o fim do período de isolamento, em especial o uso de online banking e serviços de delivery de comida”.
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