Chão de Estrelas, Céu de Giz. Com esse título, a Fundação Casa de José Américo (FCJA) deu início, na manhã desta quinta-feira (13), a um projeto que levará personalidades paraibanas ao palco virtual da instituição durante todo o mês de setembro. O primeiro nome a reluzir foi o do renomado economista Celso Furtado, cujo centenário é celebrado este ano. A sua obra foi discutida pelos palestrantes Cidoval Morais, sociólogo, e Martinho Campos, economista, mediados pela professora e economista Zélia Almeida. Com apresentação de Fernando Moura, presidente da FCJA, a live contou com a participação da jornalista Rosa Freire d’Aguiar Furtado, viúva do homenageado, e aconteceu no canal oficial da fundação no YouTube.
Rosa Furtado falou sobre o seu trabalho para resguardar o legado de Celso Furtado, que faleceu em 2004. Nesses 16 anos, ela se dedicou a recuperar as suas obras principais, lançar edições definitivas e organizar o vasto material deixado por ele, como os artigos, manuscritos e entrevistas, entre outros, que resultaram na “Coleção Arquivos de Celso Furtado”, e o livro “Diários intermitentes”, que reúne anotações deixadas por ele ao longo de seis decênios e meio de sua vida, entre 1937 a 2002. “A obra autobiográfica e os diários de Celso falam muito sobre a sua relação com o Nordeste e a Paraíba”, disse a jornalista.
Logo depois de Rosa, Cidoval Morais, que também é escritor e jornalista, desenvolveu o tema “Celso Furtado: um peregrino da esperança”. Segundo ele, Celso tinha um projeto de nação. “Ele visitava o Nordeste por estradas esburacadas, abrindo cancelas. Simbolicamente, isso tem um sentido muito forte. Ele abria portas para pensar o desenvolvimento regional – e era a partir da região que ele pensava a nação”, disse. “O objetivo da economia, na visão de Celso, deveria ser a integração nacional. Num chamado que ele fez na década de 1990, ele ressaltou que, aos intelectuais, cabia aprofundar a percepção social e projetar luz sobre os crimes cometidos pelos que abusam do poder”, disse.
“Perspectivas da economia pós-pandêmica à luz da visão de Celso Furtado” foi o título da apresentação do economista Martinho Campos. “Celso nasceu dois anos depois de uma pandemia, e hoje celebramos o seu centenário em outra”, disse. Para ele, é preciso homenagear Celso Furtado de maneira positiva e histórica, mas também buscando pôr em prática o trabalho dele, que defendia o aumento da participação e do poder popular nos centros de decisão do país como um caminho para enfrentar momentos como o que vivemos hoje. “O Brasil está perdendo a soberania em nome de interesses externos. É exatamente o contrário do que pensava Celso, para quem o desenvolvimento é positivo somente quando toda a população se beneficia”, destacou.
Para Zélia Almeida, a mediação do debate foi uma honra. “Celso Furtado era um verdadeiro mestre, com uma ampla leitura do mundo. Ele pesquisava com profundidade. Ao estudar a obra de Celso, temos contato com uma bibliografia muito densa”, disse a economista, responsável pela criação do Prêmio Paraíba Celso Furtado e da Medalha de Mérito Celso Furtado, pelo Conselho Regional de Economia (Corecon). Celso era, ainda, um visionário, nas palavras de Zélia. “Em meados do século passado ele já falava sobre a questão ambiental. Dizia que concentração de renda e riqueza, aliada ao desperdício, é a receita da catástrofe. É o que vemos hoje”, enfatizou.
Celso Furtado nasceu em Pombal, no dia 26 de julho de 1920, e faleceu em 20 de novembro de 2004, no Rio de Janeiro. A videoconferência em homenagem a ele coincidiu com o Dia Nacional do Economista (13 de agosto) e contou com o apoio do Conselho Federal de Economia. A coordenação do evento foi da gerente da Biblioteca da FCJA, Nadígila Camilo.
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