Jair Bolsonaro tem um problema considerável nas mãos. Na campanha de 2018, ele disse o seguinte: “Ignorem essas notícias mal-intencionadas dizendo que pretendermos recriar a CPMF. Não procede. Querem criar pânico, pois estão em pânico com nossa chance de vitória. Ninguém aguenta mais impostos, temos consciência disso. Boa noite a todos!”

Segundo a Veja, a frase foi escrita nas redes pelo atual presidente em setembro de 2018. Quase dois anos depois, ele silencia enquanto seus auxiliares aceleram o lobby pela recriação da CPMF. A letargia presidencial tem motivo.

Diante da imensa crise aberta pela pandemia de coronavírus, Bolsonaro encontrou no auxílio emergencial a melhor forma de arrebanhar eleitores e tentar manter viva a chama da reeleição. Seus aliados e até adversários concordam num ponto: se Bolsonaro conseguir manter o auxílio e não fizer besteira em outras frentes, poderá colocar de pé um segundo mandato.

O problema, no entanto, é mais complicado do que uma simples questão comportamental do presidente. Bolsonaro tem relativa popularidade enquanto banca o auxílio. Mas o dinheiro, todos sabemos, já não existia antes da crise. A ampliação da política assistencial, portanto, é feita a custa de um rombo devastador nas contas públicas.

Como dinheiro não nasce em árvore, o presidente precisa arrumar receita para manter o auxílio. Como? Com a nova CPMF. Daí o silêncio diante da morte de mais uma promessa de campanha.

Em tempo, no fim de semana, Bolsonaro disse o seguinte sobre o novo imposto: “O que o Paulo Guedes (ministro da Economia) está propondo não é CPMF, não. É uma tributação digital. Não é apenas para financiar um programa que envolveria quase todos que estão aí. É para desonerar, também, a folha de pagamento. É uma compensação. É eliminar um montão de encargos em troca de outro, mas, se a sociedade não quiser, não tem problema nenhum”.

Foto: Ueslei Marcelino.