O ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) recebeu mais uma notícia ruim vinda do Judiciário. O socialista se tornou réu no processo que investiga a suposta participação dele em esquema de desvio de recursos do Laboratório Industrial Farmacêutico do Estado da Paraíba (Lifesa). Além dele, a mulher, Amanda Rodrigues, e o irmão, Coriolano Coutinho, foram tornados réus. A medida vale também para Daniel Gomes, ex-mandatário da Cruz Vermelha, Maurício Rocha Neves, Aluísio Freitas de Almeida Júnior e os ex-secretários estaduais Gilberto Carneiro e Waldson de Souza.

A decisão é do juiz da 1ª Vara Criminal, Adilson Fabrício Gomes Filho. Ricardo é apontado na investigação do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) como dono oculto da empresa Troy SP, que se tornou dona de 49% do Laboratório Industrial Farmacêutico do Estado da Paraíba (Lifesa). O esquema foi denunciado pelo ex-comandante da Cruz Vermelha Brasileira, Daniel Gomes, em colaboração premiada firmada com a Justiça. O caso é um desdobramento da operação Calvário.

O plano dos acusados, de acordo com o Ministério Público, seria capitalizar os integrantes da suposta empresa criminosa, tanto para o enriquecimento ilícito de autoridades, quanto para a manutenção da estrutura de poder.

Segundo o Jornal da Paraíba, a denúncia indica que Daniel Gomes da Silva foi essencial na montagem do esquema para a “apropriação” da empresa pública. Ele contou ao Gaeco que teria recebido com surpresa, no primeiro momento, o interesse do ex-governador de participar diretamente do esquema, que seria agenciado pelo irmão, Coriolano Coutinho. Para isso, foi acertada a utilização da empresa Troy SP para a compra de 49% do capital social do Laboratório Farmacêutico estatal. Com isso, de acordo com a investigação, restariam 5% de todo o faturamento para o governador.

“A ORCRIM em destaque se apropriou de empresa pública – inoperante e inviável economicamente – para, através de aporte substancial de dinheiro dos cofres do Estado da Paraíba, lavagem de capitais e superfaturamento de fornecimento de bens e serviços, camuflar o real intuito de se apropriar de dinheiro público. E isso efetivamente ocorreu através da aquisição de toda a participação privada do LIFESA pela organização criminosa (através de empresa interposta e dominada pela quadrilha)”, diz trecho da peça acusatória protocolada nesta sexta-feira (22).

Com o esquema montado, a Lifesa passaria a celebrar contratos de fornecimento (através de revenda ou fabricação própria) de medicamentos a entidades públicas de prestação do serviço de saúde, controladas por Organizações Sociais. Neste rol, entravam os hospitais administrados pela Cruz Vermelha e pelo Ipcep.

Para a viabilização do esquema, teria havido a participação de Gilberto Carneiro e Waldson de Souza, além de Amanda Rodrigues, que chegou a comandar o laboratório em certo momento da empreitada. Eles teriam cuidado para que a operação ocorresse sem maiores transtornos, tratando a questão burocrática. O “ministro” da organização teria sido Coriolano.

“Nesta oportunidade, DANIEL delineou para CORIOLANDO que RICARDO COUTINHO participaria do negócio, sugerindo a criação de uma S/A (sociedade anônima) que seria proprietária de 10% (dez por cento) da TROY SP, o que equivaleria aos 5% (cinco por cento) do LIFESA. A criação desta Sociedade Anônima serviria para formalizar o aqui que na prática já ocorria, bem como para garantir a permanência do ganho mesmo quando RICARDO COUTINHO deixasse o comando do Estado”, diz a denúncia.

Para o comando da empresa, teriam sido escolhidos, a pedido de Coriolano Coutinho, Denise Pahin e o filho, Breno Pahin, velhos conhecidos de outras investigações do Ministério Público. Ambos funcionariam como laranjas na operação. Com tudo resolvido, o laboratório entrou em franco funcionamento em 2016, “sendo que, em 2018, faturou cerca de 6 (seis) milhões de reais, com expectativa de duplicação desse faturamento no ano de 2019, quando também estava previsto a distribuição do lucro entre os sócios”.

Na denúncia, o Ministério Público pede a condenação dos suspeitos por corrupção passiva e ativa, além de lavagem de dinheiro. É pedida também a reparação pelos danos ao erário. O ex-governador foi denunciado pela primeira vez na sétima fase da Operação Calvário, no ano passado. Na época, ele chegou a ser preso, mas conseguiu uma liminar no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Atualmente, o ex-gestor cumpre medidas cautelares.

Foto: Reprodução Google.