Uma pesquisa da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) está alertando para o agravamento da situação de fome em periferias de João Pessoa. De acordo com o estudo “Direito à cidade e as lutas pelo espaço urbano: necessidades radicais e utopia”, a precariedade de condições aumenta em comunidades carentes da capital por conta das chuvas desta época do ano, fazendo com que os moradores desses locais passem a precisar, ainda mais, de mantimentos básicos, além dos  equipamentos de proteção para prevenir a Covid-19.

De acordo com o coordenador da pesquisa Rafael de Padua, a pandemia do novo coronavírus agrava ainda mais fatores sociais que juntos formam um problema histórico do país. Segundo ele, as enchentes e os riscos em ocupações, comunidades e bairros que estão em fundos de vale ou em encostas têm somado para o avanço da pandemia e da pobreza em João Pessoa.

“Essa é uma questão que revela também o modo que a cidade é produzida e nos leva a refletir sobre os fundamentos sociais (e não naturais) desses processos. A luta neste momento é pelo básico e pela vida, já que ela está em risco. Mas necessariamente é mais ampla. Envolve consciência e emancipação social”, aponta Rafael.

Tatiana Pinho, graduanda em geografia pela UFPB e participante do projeto, afirma que em momentos de isolamento social, o desamparo de políticas públicas é evidente, mas existe também a a apatia da população para reivindicar por mais direitos.

“Na maioria dos casos, a resolução é o envio e a distribuição de cestas básicas e produtos de higiene. Obviamente, essas ações ajudam muito. Mas há certa obscuridade no campo do entendimento sobre a particularidade de cada localidade e suas maiores necessidades”, acentua Tatiana.

Ainda de acordo com a pesquisadora, para resolver o problema imediato da fome as necessidades básicas nem sempre são alimentos, pois nem sempre há condições necessárias para transformar mantimento em comida, como fogão, panelas, gás de cozinha e água potável. Outro problema, segundo as constatações da pesquisa, é a baixa quantidade de alimentos distribuídos.

Avanço da Covid-19 nas periferias

Segundo o Jornal da Paraíba, os pesquisadores da UFPB também fizeram um levantamento sobre o avanço do novo coronavírus em periferias de João Pessoa. Segundo o estudo, entre os dias 15 de maio e 3 de junho, a maior porcentagem de casos de Covid-19 na capital se deu em bairro centrais empobrecidos, e nas comunidades da Grande João Pessoa.

“Em 20 dias, chamou a nossa atenção os acréscimos de casos confirmados em bairros centrais como Jaguaribe (468% de aumento) e Centro (419% a mais no período). Entre os periféricos, houve aceleração de casos no Bairro das Indústrias (384%) e Oitizeiro (330%)”, enfatiza o professor da UFPB.

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