Vírus silencioso, algumas vezes não detectável, mesmo depois de quase quatro décadas do surgimento dos primeiros casos, a pandemia da Aids continua a ser um dos grandes desafios para a saúde mundial. Aproximadamente 35 milhões de pessoas vivem com HIV em todo o mundo. Na Paraíba, uma média de 900 pessoas por ano é detectada com o vírus. Nesta sexta-feira (5), data alusiva aos 39 anos da descoberta da Aids no mundo, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) faz uma análise do cenário do agravo na Paraíba.
Nessas quase quatro décadas, o que mudou? A gerente operacional de IST/HIV/Aids da SES, Ivoneide Lucena, explica que a percepção e o perfil da doença foram se modificando ao decorrer dos anos. No começo, havia o estigma do grupo de risco e de que só uma determinada população poderia pegar a doença, além do preconceito com as pessoas vivendo com HIV/Aids e da desinformação. “Embora o preconceito ainda seja grande e focado na população gay, essa percepção está mudando. Hoje não falamos mais em população de risco e sim em situação de risco. Então qualquer pessoa que passou por uma situação assim está sujeita a se contaminar com o HIV, seja ela heterossexual, mulher casada, bebê”, afirma.
Para barrar o preconceito, a gerente explica que, desde 2017, a SES oferta cursos na metodologia de Ensino à Distância (EAD) para professores e alunos da Rede Estadual com várias temáticas e informações voltadas ao HIV e Aids. Entre os temas estão a educação entre pais, as diversidades sexuais, a identidade de gênero, entre outros. “Esses cursos servem para derrubar algumas barreiras. Sabemos que os professores não tiveram a oportunidade de estudar muitos desses temas durante a graduação. Já os alunos, é importante discutir essa temática para que eles possam dialogar com seus colegas, dentro e fora da sala de aula”, explica.
Sobre o cenário atual da Aids na Paraíba, muito se avançou, desde a disponibilidade de tratamento gratuito na Rede Estadual de Saúde, ao diagnóstico rápido e proteção. Ivoneide Lucena pontua que, atualmente, os 223 municípios da Paraíba disponibilizam o teste rápido para a detecção do vírus nos postos de saúde e em 20 minutos é possível receber esse resultado. Em casos positivados, o usuário é encaminhado para os serviços de referência da Paraíba, orientado a fazer exames laboratoriais e acompanhado por um infectologista. O tratamento é ofertado pelo SUS e pacientes com HIV/Aids têm acesso gratuito aos medicamentos antirretrovirais.
Como medidas de proteção, os usuários têm a facilidade de acesso aos preservativos nas unidades básicas de saúde em todos os municípios paraibanos, além da disponibilização de forma descentralizada das tecnologias para prevenção e o tratamento que inclui o tratamento antirretroviral como medida de prevenção; a Profilaxia Pós-Exposição ao HIV (PEP), que é o uso de medicamentos diante de uma situação de risco; e a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PREP), que consiste no uso diário de medicamento antirretroviral para evitar a infecção pelo vírus.
“Outro avanço que estamos conseguindo é a redução da transmissão vertical do HIV, ou seja, transmissão da mãe infectada para o feto. Não dá mais, não se admite mais que uma criança, na hora do parto, possa ser exposta ao HIV, porque essa mãe no pré-natal foi testada no terceiro, no sétimo mês e na hora do parto para que ela não venha a expor esse bebê ao HIV e não venha a amamentar essa criança”, observa.
Sobre o funcionamento dos serviços durante a pandemia do coronavírus, Ivoneide explica que todos os centros de referência continuam atendendo, porém em horário reduzido. Ela reforça que pacientes em tratamento não parem de tomar a medicação, pessoas que foram expostas a uma situação de risco recorram aos serviços de referência e que todos façam uso do preservativo como prevenção. “Assim como estamos usando a máscara para proteger do coronavírus, usar camisinha é fundamental para a prevenção do HIV. A Aids também é uma pandemia que está circulando há 39 anos. Do mesmo jeito que existem pessoas que carregam o coronavírus e são assintomáticas, existem os portadores do HIV que não sentem nada. Por isso a importância da prevenção”, destaca.
Dados – Na Paraíba, em 2019, a taxa de detecção de HIV/Aids foi de 984 pessoas, sendo que 36,9% desenvolveram a doença. Somando os dados das raças pardas e negras, 70% dessa população foram detectadas com HIV/Aids. Os dados de exposição por categoria, 257 foram homossexuais e 374 heterossexuais. Por sexo, o cenário é de que 756 homens e 228 mulheres foram detectados com HIV/Aids. Se fizer um corte por idade, pessoas entre 30 e 39 anos apresentaram um maior número de exposição ao HIV, com 112 casos, seguido da faixa-etária de 20 a 29 anos, com 107 pessoas, e 40 a 49 anos, com 73. Em 2019, foram detectados 12 casos de adolescentes positivadas para o HIV com 15 anos de idade.
Para Ivoneide Lucena, esses dados mostram a importância do teste rápido e do diagnóstico precoce. “Com a oferta do teste rápido, estamos conseguindo diagnosticar mais pessoas com HIV do que com Aids, e é isso que a gente quer, mais pessoas ainda sem nenhuma infecção oportunista, sem nenhuma doença e sim pessoas muitas vezes assintomáticas, para começar o tratamento e reduzir a carga viral dessa pessoa, tornando o vírus indetectável”, completa.
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