O número de casos confirmados de pessoas que contraíram o novo coronavírus no mundo só cresce: até a quinta-feira 14, já eram mais de 4,3 milhões de infectados e 298 mil mortos. A realidade mostra que, no momento, a única forma eficaz de parar a pandemia é combater as suas vias de transmissão, uma vez que ainda não existe vacina capaz de imunizar a população e nem tratamento comprovadamente eficaz contra a doença. Os países que estão tendo sucesso no controle de infectados mostram, porém, que restringir rigidamente a circulação de pessoas é importante.Mas é preciso aliá-la a outras medidas.
Taiwan e Coreia da Sul são exemplos disso. Mesmo próximos à China, que foi epicentro do vírus, esses dois países estão conseguindo vencê-lo, principalmente por causa da eficiência governamental. Acometidos em 2003 e 2004 pela Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) e em 2015 pela Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), eles criaram órgãos específicos para conter pandemias. Na Coreia se chamam Centros de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia (KCDC) e têm a autoridade para cobrar ações rápidas. Com apoio da polícia, por exemplo, foi possível rastrear o trânsito das pessoas, e, junto ao Ministério da Segurança de Alimentos e Medicamentos, aprovar com celeridade a fabricação de testes por empresas privadas. Dessa forma, a população da Coreia foi testada gratuitamente e em massa, o que permitiu colocar os infectados, mesmo assintomáticos, em isolamento. Contribuiu para o freio da doença o uso de um aplicativo que consegue rastrear as pessoas infectadas ou que tiveram contato com elas e mantê-las em uma área restrita. A estratégia de Taiwan foi parecida e criou o Comando Central Epidêmico (CECC), um órgão com poderes governamentais para controlar o transporte público, eventos, a abertura de escolas e até fabricação de máscaras faciais. Aliado a isso, foram colocadas multas pesadas para cidadãos que descumprissem as regras de quarentena.
Outro país exemplar é a Nova Zelândia, liderada pela primeira-ministra Jacinda Arndern. Entre seus principais acertos, está a decretação imediata de lockdown, antes mesmo da primeira morte por Covid-19. Mais uma vez, no entanto, apenas a quarentena não foi suficiente para conter a pandemia. A medida foi aliada ao forte pronunciamento da primeira-ministra, ao fechamento de fronteiras e à ampla testagem da população. No final de abril, com o número de casos já controlado, os ambientes de trabalho continuavam com a aplicação de medidas importantes, como controle de temperatura em canteiros de obra. A partir do sábado 9, já em um nível de isolamento mais brando, o governo não relaxou: funcionários continuam indo às ruas para esterilizar áreas públicas.
Portugal também é uma inspiração ao planeta e conseguiu dominar o novo coronavírus enquanto que, em seus vizinhos europeus, os índices explodiam. Os primeiros casos foram identificados em 2 de março e, apenas 11 dias depois, o primeiro-ministro António Costa decretou estado de emergência. É interessante que ali o controle da doença foi possível apenas com recomendações e sem medidas drásticas de isolamento, como multas e fiscalizações policiais. Estudos apontam que a medida mais eficiente para frear o contágio e manter os níveis nos mais baixos da Europa foi identificar rapidamente o primeiro caso de transmissão local. Dessa forma, foi possível colocar os pacientes para tratamento e isolamento em casa enquanto os graves iam para os hospitais. Outro fator que pesou a favor do país foi o esquecimento das diferenças políticas entre o presidente, Marcelo Rebelo de Sousa (Partido Social-Democrata, PSD), e o primeiro-ministro, António Costa.
Segundo o msn, a Alemanha também é um caso de sucesso principalmente porque decretou medidas rígidas de confinamento assim que os casos aumentaram no país: fechou instituições e proibiu reuniões públicas com mais de duas pessoas. Consciente, a população seguiu as recomendações de evitar fazer deslocamentos desnecessários, principalmente devido à firmeza da articulação da líder, a primeira-ministra Angela Merkel. Ela foi à TV orientar a população e trabalhou conjuntamente com os estados.
Futuro nefasto
É triste que o Brasil, mesmo com a vantagem de ser atingido posteriormente pela pandemia, não implemente nenhuma das exitosas medidas das outras nações. Pelo contrário, o presidente Jair Bolsonaro segue no caminho oposto: finge que a pandemia não é grave, ignora os apelos dos estados, tenta impedir na Justiça medidas de distanciamento social e confunde a população. Para piorar, no País é praticamente impossível ao cidadão comum saber se tem a doença, já que os testes são disponibilizados apenas para os casos graves.
Apesar de todos esses problemas, alguns estados finalmente começaram a aderir à medidas mais rígidas de combate à Covid-19. Na segunda-feira 11, já com o sistema de saúde colapsado em algumas regiões, Pernambuco endureceu a quarentena e proibiu a circulação nas cidades mais afetadas, seguindo os passos do Maranhão, Pará e Ceará. A cidade de São Paulo, por sua vez, limitou a circulação de carros por meio de um rodízio ampliado, o que reduziu os veículos na rua, mas superlotou o transporte público. Com mais de 188 mil infectados, o Brasil já está entre os países com maior índice de contaminação e o número sobe a cada dia. “O aumento dos casos dessa semana se deve à baixa taxa de adesão ao isolamento de 10 a 14 dias atrás. Todas as orientações para as pessoas ficarem em casa não foram cumpridas até agora e, infelizmente, precisaremos de medidas rígidas”, diz Raquel Stucchi, infectologista consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.
É preciso fazer mais. O povo brasileiro, rico em esperança, aguarda ansiosamente por mudanças.
Enquanto isso,em jurerê…
Exemplo de incivilidade vem ocorrendo na badalada praia de Jurerê Internacional, em Florianópolis, capital de Santa Catarina. Com o fechamento das casas noturnas, mansões milionárias abrigam festas privadas em plena pandemia, o que contribui para a disseminação do vírus. Ao mesmo tempo, o governador Carlos Moisés, do PSL, vem flexibilizando as medidas de isolamento social, o que gerou aglomeração em um shopping center.
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