A Petrobras anunciou nesta quarta-feira (13) que elevará o preço médio da gasolina nas refinarias em 10% a partir de amanhã (14), na segunda alta do combustível fóssil realizada neste mês. De acordo com a petroleira, o reajuste acontece na esteira de uma recuperação recente dos preços internacionais do petróleo.

Ainda assim, a gasolina da petroleira estatal — responsável por quase 100% da capacidade de refino do país — acumula queda de cerca de 40% neste ano, impactada por uma diminuição dos preços do petróleo e de seus derivados diante da propagação do novo coronavírus, que reduziu a demanda global. Em 7 de maio, a empresa havia elevado em 12% o preço médio da gasolina vendida às distribuidoras.

A decisão vai em linha com o aumento dos preços do petróleo Brent, que subiram cerca de 15% neste mês, reagindo a cortes de produção e a um relaxamento de medidas de isolamento social tomadas em função da pandemia nos Estados Unidos e em alguns países da Europa.

Em contrapartida, a Petrobras manteve o preço do diesel, o combustível mais consumido no país. No caso desse produto, a queda acumulada nas refinarias no ano é de 44%.

Importação

Apesar do reajuste, o chefe da área de óleo e gás da consultoria INTL FCStone, Thadeu Silva, afirmou que a gasolina da petroleira permanece com defasagem em relação ao valor internacional.

Segundo ele, o aumento foi de R$ 0,1097 por litro, quando teria de ser de pelo menos R$ 0,20 por litro para que estivesse em linha com o mercado internacional. “Ou seja, a conta para a importação de gasolina continua muito complexa e o setor sucroalcooleiro pode continuar reclamando”, afirmou o especialista.

O recuo dos preços da gasolina neste ano reduziu a competitividade do etanol hidratado, seu concorrente nas bombas. Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro barrou um pedido do segmento sucroenergético para um aumento da Cide no combustível fóssil. A política de preços da Petrobras busca seguir valores de paridade de importação, que leva em conta preços no mercado internacional mais os custos de importadores, como transporte e taxas portuárias, com impacto também do câmbio. No entanto, a empresa tem evitado repassar volatilidade ao mercado interno.

Segundo o R7, em relatório a clientes nesta quarta-feira, o banco UBS alertou para o risco de ingerências políticas na estratégia de preços da Petrobras, após o presidente Jair Bolsonaro ter comentado publicamente sobre a última alta anunciada na gasolina. “Já vimos comentários semelhantes e os investidores sabem o custo que isso pode causar à empresa”, disse o relatório do UBS, referindo-se a governos anteriores, que fizeram a Petrobras subsidiar gasolina, causando bilhões de dólares de prejuízos à estatal.

No entanto, o UBS ressaltou acreditar “que a administração da Petrobras tem feito um excelente trabalho mantendo os preços domésticos de combustíveis alinhados com a paridade internacional na maioria das vezes”. Antes do reajuste anunciado nesta quarta-feira, o UBS calculava uma defasagem de 14% para gasolina. O repasse de ajustes em valores da gasolina cobrados nas refinarias aos consumidores finais, nos postos, não é imediato e depende de uma série de questões, como margem da distribuição e revenda, impostos e adição obrigatória de etanol anidro.

Foto: Marcelo Camargo.