“Uma guerra nas redes sociais envolvendo informações enganosas, ambíguas e falsas além das consequências negativas para a saúde pública, prejudicaram a adesão a medidas de distanciamento social”. A conclusão está no relatório técnico do CEPDES (Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde), da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), que analisou os decretos estaduais para o enfrentamento da pandemia do novo coronavírus publicados ao longo do mês de março, quando o Brasil registrou oficialmente a primeira morte por covid-19.

De acordo com o levantamento, que está fundamentado em recomendações e indicações científicas da OMS (Organização Mundial da Saúde), os baixos índices de isolamento teriam contribuído, significativamente, para a “sobrecarga do sistema de saúde”, comprometimento do atendimento médico-hospitalar e, também, para a inclusão de medicamentos sem eficácia comprovada no tratamento da doença. 

Segundo o R7, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Goiás e Alagoas foram os primeiros a oficializar ações de combate à crise sanitária, seja do ponto de vista social ou de saúde. São Paulo, que acumula 47.719 casos confirmados e 3.949 mortes, estabeleceu o regime de “quarentena” no dia 24 de março, restringindo o funcionamento de serviços não essenciais e recomendando que as pessoas ficassem em casa. 

Segundo o infectologista David Uip, coordenador do Comitê de Contingência do Coronavírus, o objetivo era fazer com que a curva de transmissão do vírus fosse “achatada”. À época, a taxa considerada ideal pelas autoridades locais era de 70%, entretanto, o maior nível alcançado foi de 59%, o que levou a prorrogação da medida até 31 de maio. 

Os conflitos políticos, de acordo com a Fiocruz, também criaram um cenário de “mensagens contraditórias”, com potencial de interferir de forma “negativa” no resultado esperado pelas medidas de distanciamento social, além de criar uma sensação de desconfiança da população em relação aos setores de saúde.  Em março, o CONASEMS (Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde) chegou a publicar uma nota reafirmando o papel do SUS (Sistema Único de Saúde) e também defendendo a importância da “estabilidade” na condução do enfrentamento da pandemia, que já matou mais de 12.400 pessoas no país.

“Estes espaços devem ampliar seu papel na organização, monitoramento e articulação para garantia da integralidade regional, com equidade e respeito aos princípios do SUS.”

Foto: Amanda Perobelli.