Um dia depois de a exibição do vídeo da reunião ministerial de 22 de abril — na qual o presidente Jair Bolsonaro ameaçou demitir o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, se ele não fizesse mudanças no comanda da Polícia Federal — provocar um terremoto no Palácio do Planalto, o chefe do Executivo tentou, mais uma vez, minimizar o que foi dito do encontro. E procurou contemporizar o que foi dito por um de seus ministros militares em depoimento nesta terça (12/5) à PF.
Segundo Bolsonaro, o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, “se equivocou” ao afirmar, no depoimento, que houve menção à Polícia Federal na reunião ministerial de 22 de abril. Desde terça, o presidente vem difundindo o discurso de que o nome da PF não foi citado em nenhum momento na reunião ministerial usada por Moro em sua defesa no processo aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
“Não existe no vídeo a palavra Polícia Federal, nem superintendência. Não existem essas palavras”, tem dito Bolsonaro, que ressaltou, na manhã desta quarta-feira (13/05), que aqueles que acreditarem na versão de quem assistiu à exibição do vídeo “vão cair do cavalo”. Ramos, que retificou o depoimento por duas vezes e o ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, conflitaram sobre a versão de Bolsonaro em relação à citação à PF no encontro de ministros. Heleno disse que a referência de Bolsonaro à PF teve a ver com a segurança presidencial no Rio.
“Eu não falo Polícia Federal. Não existem as palavras Polícia Federal em todo o vídeo. Não existe a palavra superintendência. Não existe a palavra investigação sobre filho. Falo sobre segurança da família e meus amigos. Ou você acha que não há interesse em fazer uma maldade com um filho meu?”, indagou o presidente, ressaltando que sua segurança pessoal e de sua família é responsabilidade do GSI. Por isso, dirigiu-se a Heleno, e não a Moro, a quem a PF era subordinada, no momento da cobrança. “Não falei o nome dele (de Moro) no vídeo. Falei a minha segurança pessoal no Rio de Janeiro. A PF não faz a minha segurança pessoal, quem faz é o GSI. O ministro é o Heleno”, frisou.
Segundo o Correio Braziliense, diante dessas declarações, Bolsonaro foi questionado por jornalistas se havia cogitado a demitir o general Heleno. “Não, não vou entrar em detalhe, tá? Quem faz a minha segurança é ele, quem faz a minha segurança ele. O vídeo está bem claro, a reunião está clara”, ressaltou o presidente. Para pelo menos três pessoas que assistiram ao vídeo da reunião ministerial, Bolsonaro referiu-se, sim, à PF. E teria deixado claro que estava preocupando com a proteção de seus filhos e de aliados em investigações conduzidas pela Polícia Federal.
Foto: EVARISTO SA