A CPMI das fake news não vai cassar o mandato do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), afirma Marcelo Vitorino, especialista em marketing digital para campanhas políticas. Em entrevista ao CB.Poder — uma parceria do Correio com a TV Brasília (assista à íntegra no fim desta reportagem) — nesta quarta-feira (29/4), Vitorino disse acreditar que a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito das fake news acabará em uma legislação. Apesar disso, pode aumentar o clima de instabilidade no governo.

“Mesmo que fosse para cassar o presidente da República, não haveria tempo. Hoje a possibilidade de isso acontecer é nula. O que pode acabar acontecendo é que, com um filho envolvido com fake news e outro com o caso Queiroz, fica um clima muito difícil de governabilidade”, disse ele. Vitorino afirmou que isso gera um clima de renúncia para Bolsonaro. “Toda vez que ele tropeça, surgem memes com o (vice-presidente, Hamilton) Mourão. A população já aceita a ideia de ter Mourão como substituto.”

O senador Ângelo Coronel (PSD-BA), presidente da CPMI das fake news afirmou, em entrevista ao portal UOL nesta quarta, que não acredita que a CPMI compromete as eleições de 2018, porque “é um problema do TSE”. Ele afirmou também querer que as redes sociais não sejam utilizadas para interferir no resultado das urnas. O legado da CPMI seria, segundo ele, o veto a mensagens em massa e à criação de perfis falsos para depreciar candidatos. “Não vai ser a CPMI das fake news que vai cassar o presidente”, disse ele.  

Marcelo Vitorino também disse acreditar que não há clima político para um eventual processo de impeachment de Bolsonaro após as denúncias de que ele estaria tentando interferir politicamente na Polícia Federal. Isso, segundo ele, porque todos os casos de impeachment ou golpe ocorreram após crises econômicas causadas pelo governo vigente, o que não é o caso de Bolsonaro.  “Temos um momento de pandemia. Em 1964, tivemos um regime militar, mas a economia tinha ido muito mal em 63. Com o Collor foi o mesmo e com Dilma Rousseff, também. Foram decisões tomadas pelos governos que geraram crises econômicas. Jair Bolsonaro ainda não chegou ao pior da economia.

Diferentemente dos anteriores, o problema econômico atual não é culpa dele. É um problema mundial. Bolsonaro tem uma vantagem que é a pandemia.”, disse ele. O especialista lembrou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, vinha sendo cobrado pela sociedade e pelo próprio presidente Bolsonaro sobre os índices tímidos da economia brasileira após o primeiro ano de governo. “Guedes estava sendo contestado pela sociedade e pelo próprio presidente pela falta de crescimento na economia, algo que foi prometido por ele. Agora chegou a pandemia e ele pode dizer que foi isso”, pontuou.

Segundo o Correio Braziliense, Vitorino comentou ainda que não acredita que o chamado “Gabinete do Ódio” seja tão organizado como se imagina. Mas ele afirma ter certeza de que pessoas próximas a Bolsonaro incentivam a propagação de notícias falsas: “Não acredito em uma estratégia tão bem traçada, mas que existem pessoas que fomentam isso em torno do presidente, eu não tenho dúvida”.

Sobre as investigações de fake news no STF que podem chegar a Carlos Bolsonaro, filho do presidente, Vitorino disse que ainda não há um fato concreto que o vincule às notícias falsas. Mas, segundo ele, há um perigo antidemocrático. “Estamos em um momento de pânico por causa da pandemia e estão falando que as instituições não funcionam. Isso leva as pessoas a pensarem que o fechamento é a melhor solução”, disse ele.

Foto: Valter Campanato.