Cynthia Giglioli Camacho, mulher de Marcos Herbas Camacho, o Marcola, informou às autoridades do Ministério da Justiça que o marido, apontado pela polícia como chefe da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), pensa em cometer suicídio. O e-mail no qual Cynthia relata as questões psicológicas de Marcola foi obtido com exclusividade pelo R7. “Ele teria perdido a razão de viver” e pensa em cometer suicídio, escreveu Cynthia ao Depen (Departamento Penitenciário Nacional), vinculado ao Ministério da Justiça.
No e-mail, enviado à Ouvidoria do Depen em 23 de março, Cynthia relata a preocupação com o marido, que está na penitenciária federal de Brasília há um ano, um mês e cinco dias. Marcola tem penas que somam mais 300 anos de prisão. “Meu marido vem a um ano relatando que está em depressão e [com] pensamentos suicidas, até greve de fome estava cogitando fazer e ele afirma estar sem motivação para continuar a viver”, escreveu Cynthia. Desde que chegou a capital federal, Marcola foi levado em duas ocasiões para fazer exames médicos, sob forte aparato de segurança, em um hospital da cidade. A última vez foi em 21 de janeiro deste ano, quando a operação chamou a atenção da imprensa e Marcola foi fotografado quando chegava ao local.
Cynthia, que é empresária, vive em São Paulo, está casada com Marcola há 13 anos e tem 3 filhos com ele, também demonstra preocupação dela com a saúde do marido por causa da pandemia da covid-19. Até o envio da mensagem, a doença não havia chegado ao sistema penitenciário, mas cinco dias depois provocava o afastamento de um dos agentes da prisão onde Marcola cumpre pena. “Me encontro desesperada porque já faz 15 dias que meu marido está sem visita e atendimento de advogado”, escreveu Cynthia. “Como se encontra em isolado total, sem nenhum contato com o mundo externo, sem visitas, sem saber nada do mundo […], estou muito preocupada com ele”.
As queixas da mulher de Marcola indicam que ele estava em regras mais rígidas de isolamento antes mesmo de entrar em vigor uma portaria do Depen, publicada em 16 de março. Na normativa, o órgão restringiu visitas, atendimentos de advogados, atividades educacionais e de trabalho, assistências religiosas e escoltas dos presos, como medida de prevenção e combate ao novo coronavírus. Cynthia relata também que as correspondências que tem enviado para Marcola no presídio federal não têm sido entregues a ele, isso depois dele ter sido transferido para a penitenciária federal de Brasília.
A empresária reafirma a dificuldade para obter informações básicas sobre o marido. “Não consigo falar com ninguém da unidade, o telefone só toca, ninguém atende, gostaria de saber se ele está bem de saúde, se está saindo pro sol, se está revendo seus livros pra leitura”, escreveu na mensagem.
No fim do texto, Cynthia pede para que Marcola possa escrever uma “correspondência aos seus familiares” e cobra uma solução do Ministério da Justiça. “Concordo com o isolamento social, mas a falta de notícias é inadmissível”, finalizou Cynthia.
‘Sem tratamento diferenciado’, diz Depen
A veracidade da mensagem de Cynthia ao Depen foi confirmada pela reportagem do R7, que teve acesso a documentos do Ministério da Justiça com os mesmos trechos do e-mail.
Um destes documentos, inclusive, relata que uma assistente social entrou em contato com Cynthia e conversou com ela, por telefone, e que informações sobre Marcola dependiam de uma autorização não especificada. O R7 procurou Cynthia Giglioli Camacho para repercutir a mensagem e o tratamento dado ao seu marido, mas até a publicação desta reportagem não recebeu resposta.
O Ministério da Justiça e o Depen foram questionados pelo R7 sobre as afirmações de Cynthia sobre a situação de Marcola. O MJ informou que qualquer informação seria de responsabilidade do Depen, que, por sua vez, informou que “preza pelo irrestrito cumprimento da Lei de Execução Penal e que todas as assistências previstas no normativo são garantidas aos privados de liberdade que se encontram custodiados no Sistema Penitenciário Federal”, disse o texto. “Não há tratamento diferenciado dentro do SPF [Sistema Penitenciário Federal], todos os presos recebem tratamento isonômico”.
Foto: GABRIELA BILÓ.