Claro
Escuro

Com postura agressiva dos EUA, Brasil não consegue comprar EPIs para covid-19

O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, falou na tarde desta quinta (3) sobre a dificuldade que o Brasil tem enfrentado para obter os equipamentos de proteção individual (EPI) utilizados contra a pandemia de covid-19. Os EPIs permitem proteger todo o corpo de profissionais mais expostos à ação do coronavírus, como é o caso de médicos e outros trabalhadores da área de saúde, policiais, servidores públicos ocupantes de cargos estratégicos e todo aquele que é obrigado a trabalhar durante a pandemia por atuar em ramo de atividade essencial (serviços de água e luz, telecomunicações, abastecimento, jornalismo etc.).

- Continua depois da Publicidade -

Assim como ocorre com as máscaras, porém, a produção desses equipamentos especiais – que lembram “roupa de astronauta” – é centralizada na China e a alta demanda pelos diversos países que enfrentam casos de coronavírus e o aumento do preço dos produtos são barreiras para o abastecimento do estoque nacional.

Segundo o Congresso em Foco, faltam não só EPIs completos como também máscaras e luvas, o que afeta o combate à covid-19 e eleva os riscos de infecção para o pessoal médico e paramédico encarregado de atender vítimas de outras doenças. “A máscara, a luva e o gorro também são usados para operar todas as urgências”, disse Mandetta, a respeito dos procedimentos não relacionados ao coronavírus que seguem sendo atendidos pelo Sistema Único de Saúde.

Compras que não saíram do papel

O Ministro explicou que compras feitas pelo Brasil que tinham previsão de entrega para os próximos dias não foram concluídas em decorrência de fatores de mercado, sobretudo a alta demanda dos produtos chineses por parte dos Estados Unidos. “Só acredito na hora que estiver dentro do país e na minha mão. Tenho contrato, documento e dinheiro. Às vezes o colapso é quando tem dinheiro e não tem o produto. O mundo inteiro também quer. Tem problema de demanda hiperaquecida”, afirmou ontem.

Em nota, o Ministério da Saúde reafirmou ao Congresso em Foco dificuldade de importar equipamentos – mesmo aqueles cuja compra já havia sido acordada. “Há uma demanda mundial por conta da pandemia, o que tem trazido escassez e dificuldades na produção e entrega desses insumos no cenário internacional, mesmo após a celebração de contratos”, informa a pasta.

Nesta semana, o Brasil firmou uma compra de 200 milhões de itens. De acordo com o Ministério, essa quantia “deve sustentar o sistema por cerca de 60 dias”. Além disso, foram repassados  40 milhões de itens a estados e municípios – estoque que deve durar aproximadamente 20 dias.

Respiradores

A disputa no mercado internacional não tem se concentrado apenas na compra de equipamentos de proteção individual para profissionais da saúde. Uma carga de 600 respiradores artificiais que foram comprados por estados do Nordeste foi retida no aeroporto de Miami (EUA), onde fazia conexão aérea para ser enviada ao Brasil. A informação é do jornal Folha de S. Paulo.

Após a retenção, a empresa cancelou a compra sem dar maiores explicações. “Alegaram apenas razões técnicas”, afirmou, à Folha de S. Paulo, o secretário da Casa Civil da Bahia, Bruno Dauster. A empresa, cujo nome não foi revelado, disse que a carga teria outro destino, não especificado. Entre os brasileiros, a desconfiança é de que os respiradores ficarão nos Estados Unidos para ser usado no tratamento de americanos.

A assessoria da Casa Civil do estado informou ao jornal O Globo que a decisão do cancelamento da compra partiu apenas pela empresa e que o pagamento no valor de  R$42 milhões não chegou a ser feito pelo Brasil.

Estados Unidos em disputa com a França

Na corrida para adquirir os equipamentos necessários ao combate à covid-19, os Estados Unidos realizaram na quarta (1) uma compra significativa de equipamentos. Segundo Mandetta, eles enviaram 23 aviões cargueiros para a China para buscar os materiais.

A presença agressiva dos Estados Unidos no mercado não tem afetado apenas o abastecimento brasileiro. Nesta semana, autoridades francesas acusaram os EUA de comprar uma pedido de máscaras de fabricação chinesa que estava previamente destinado à França .

De acordo com as autoridades regionais da França, os EUA pagaram aos distribuidores chineses pelo menos o dobro, em dinheiro, para receber os artigos médicos essenciais.“Hoje de manhã na pista [no aeroporto], na China, um pedido francês foi comprado pelos americanos em dinheiro, e o avião que viria para a França foi diretamente para os Estados Unidos”, disse nesta quinta (2) à RT France Renaud Muselier, presidente da região de Provença-Alpes-Costa Azul. Provença-Alpes-Costa Azul (em francês, Provence Alpes Côte d’Azur, o que gera a sigla Paca) é uma das 13 regiões administrativas francesas.

Tem como capital a cidade de Marselha e é um dos principais roteiros turísticos daquele país. Inclui a Riviera Francesa, com Nice e os balneários de Cannes, Antibes e Saint-Tropez, e outras cidades famosas como Toulon, Aix-en-Provence e Avignon.

Leia a íntegra da nota do Ministério da Saúde sobre o desabastecimento de EPIs

“Até o momento, o Ministério da Saúde adquiriu  e repassou  40 milhões de itens a estados e municípios. O volume é suficiente para os estoques locais de cerca de 20 dias, além daquilo que os gestores locais já possuíam. Os materiais são necessários nos serviços de saúde, portanto, é natural que, assim que receba os produtos, eles sejam descentralizados para os estoques regionais.

A pasta mantem esforço constante na aquisição de mais equipamentos e insumos, buscando fornecedores nacionais e internacionais. Nesta semana, fechou uma compra de 200 milhões de itens, o que deve sustentar o sistema por cerca de 60 dias.

Neste cenário de emergência em saúde pública, o Ministério da Saúde tem apoiado os estados e municípios na aquisição e distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) no enfrentamento do coronavírus. Contudo, há uma demanda mundial por conta da pandemia, o que tem trazido escassez e dificuldades na produção e entrega desses insumos no cenário internacional, mesmo após a celebração de contratos.

O Ministério da Saúde, portanto, tem lançado alternativas para permitir o maior número de participantes e ofertas de quantidades possíveis dos fornecedores, como o fracionamento de aquisições. Cabe lembrar que, como já informado à imprensa, os valores estão acima daqueles normalmente praticados. O Ministério da Saúde tem analisado todas as possibilidades de compra e os processos acontecem com ampla divulgação. Vence quem apresentar o menor preço, conforme a legislação, de forma transparente e proba.”

Foto: Reprodução Google.

Mais Lidas