Em uma das decisões mais significativas de seu papado, o Papa Francisco desconsiderou a proposta de ordenação de homens casados na Amazônia, incluída na resolução final do Sínodo para a Amazônia.
A decisão do Pontífice foi registrada na Exortação Apostólica —espécie de carta papal que transmite um ensinamento a respeito de um assunto da Igreja — divulgada publicamente pelo Vaticano nesta quarta-feira, intitulada “Querida Amazônia”.
Apoiadores do Papa esperavam uma mudança revolucionária, dada a sua abertura a questionamentos sobre o celibato sacerdotal em “lugares distantes” e sua reiterada busca por uma Igreja menos burocrática.
A recomendação da ordenação de homens casados foi defendida por bispos da América Latina no Sínodo para a Amazônia, e aprovada por 128 votos favoráveis e 41 contrários, alarmando as alas conservadoras da Igreja Católica, instituição profundamente polarizada.
Críticos da revisão do celibato, uma forma de garantir a presença da Eucaristia em regiões remotas da floresta, onde hoje há forte presença de denominações evangélicas.
Mas a decisão, após sete anos de seu papado, levantou a questão de saber se a promoção de Francisco de discutir questões que antes eram tabus está resultando em um pontificado que é amplamente discutido.
Seus conselheiros mais próximos já reconheceram que o impacto do papa diminuiu no cenário global, especialmente em questões centrais como imigração e meio ambiente. Eles disseram que seu legado acabará residindo dentro da igreja onde sua autoridade é absoluta.
Recentemente, um polêmico livro assinado pelo cardeal guineense ultraconservador Robert Sarah e o Papa emérito Bento XVI desferiu duras críticas à ordenação de homens casados. Posteriormente, o ex-pontífice alemão, que renunciou em 2013, solicitou a retirada de sua assinatura do livro.
Ontem, bispos americanos recebidos pelo Papa Francisco na última segunda-feira no Vaticano adiantaram à imprensa que o Pontífice não deliberaria pela flexibilização do celibato, imposto ao sacerdócio há cerca de mil anos.
A ordenação de homens casados é apoiada por muitos bispos sul-americanos porque, se aprovada, ampliaria o número de pessoas habilitadas a dirigir missas em áreas remotas da Amazônia.
Seriam elegíveis religiosos que já atuam como diáconos na Igreja, tenham famílias estáveis e sejam reconhecidos como membros de suas comunidades. Também seria necessário passar por uma capacitação.
Atualmente, grupos evangélicos têm se expandido pelas regiões mais isoladas da floresta, uma vez que não há impedimento para o casamento de pastores.
A revisão da ordenação de padres poderia permitir que estas comunidades ganhassem maior representação da instituição católica.
As exortações apostólicas são consideradas documentos construtivos para encorajar a fé católica, que contempla 1,3 bilhão de fieis, mas não têm poder para mudar a doutrina da Igreja.
Crítica a empresas
O papa Francisco também denunciou durante a exortação empresas nacionais e multinacionais que semeiam a “injustiça e o crime” na Amazônia e violam os direitos dos povos autóctones.
A acusação do papa aparece na exortação apostólica “Querida Amazônia” divulgada nesta quarta-feira, na qual denuncia “os empreendimentos, nacionais ou internacionais, que prejudicam a Amazônia e não respeitam o direito dos povos originários” do território, algo que Francisco chamou de “injustiça e crime”.
Crédito imagem: GUGLIELMO MANGIAPANE / REUTERS
News Paraíba com O Globo