O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quinta-feira (26), em tom bem humorado, que não seria problemático a instituição conviver por alguns meses com dois presidentes, mesmo que, oficialmente, somente um deles esteja de fato investido do cargo.
“Pessoas perguntam se não é problemático ter dois presidentes? Não, é maravilhoso ter dois presidentes, porque significa que, de fato estamos fazendo uma transição da forma mais suave possível. Isso mostra o grau de maturidade que a autonomia nos leva”, declarou o presidente do BC, Roberto Campos Neto.
Com o processo de autonomia do Banco Central, aprovado em 2021, os diretores e o presidente da instituição passaram a ter mandatos fixos.
De acordo com o g1, Campos Neto tem mandato até o fim deste ano. Seu sucessor, Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda tem de ser sabatinado, e ter seu nome aprovado pelo Senado Federal. A previsão é que isso aconteça ainda neste ano.
Entretanto, mesmo aprovado, Galípolo só poderá assumir o cargo a partir de janeiro de 2025.
Com isso, o BC teria, por alguns meses, um presidente oficial sentado na cadeira (Campos Neto) e outro já aprovado (Gabriel Galípolo), mas ainda não empossado.
“A sabatina é uma prerrogativa do Senado, acho que vai transcorrer com naturalidade. Tenho falado com senadores da importância de ter uma transição suave”, disse Campos Neto, acrescentando que é importante o Banco Central passar pelo “primeiro grande teste da autonomia”.
Atrito com Lula
Os últimos anos do mandato de Campos Neto foram marcados por atritos com o presidente Lula, que criticou recorrentemente o patamar da taxa básica de juros, uma das mais altas do mundo.
“Só temos uma coisa desajustada neste país: é o comportamento do Banco Central. Essa é uma coisa desajustada. Presidente que tem lado político, que trabalha para prejudicar o país. Não tem explicação a taxa de juros estar como está”, declarou Lula, em abril deste ano.
Em junho, após os maiores bancos do país projetarem interrupção do processo de corte dos juros, Lula voltou a repetir as censuras a Campos Neto.
“Um presidente do Banco Central que não demonstra nenhuma capacidade de autonomia, que tem lado político e que, na minha opinião, trabalha muito mais para prejudicar o país do que para ajudar o país. Não tem explicação a taxa de juros do jeito que está”, afirmou Lula, na ocasião.
Na mesma semana, o BC interrompeu o processo de redução dos juros. Mas a decisão foi unânime, ou seja, também votou por ela o atual diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, indicado por Lula posteriormente para a Presidência do BC.
Em agosto, o presidente da República afirmou que não tem problema Galípolo falar em aumento dos juros, pois ele seria uma pessoa “competentíssima”, um “brasileiro que gosta do Brasil”.
“Se um dia o Galípolo chegar para mim e falar, ‘olha, tem que aumentar o juro’, ótimo, aumente. Ele tem o perfil de uma pessoa competentíssima, competentíssima, e um brasileiro que gosta do Brasil”, afirmou Lula, no mês passado.
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